Há muitos anos a sociedade tenta invisibilizar e apagar a trajetória da mulher indígena. Isso se deve às inúmeras violências e apagamentos identitários e culturais que esses povos enfrentam desde a chegada dos colonizadores às terras brasileiras.
Esse processo de violências e apagamento histórico acontece até os dias atuais e de diferentes formas. Não é comum, por exemplo, você ver nomes de mulheres indígenas em espaços de poder, embora haja uma crescente nos movimentos sociais que lutam contra essa realidade.
Desse modo, destacar as produções de mulheres indígenas é relembrar que, apesar de todos os entraves, essas mulheres continuam existindo e lutando contra as opressões cotidianas.
Para saber mais sobre os movimentos de mulheres indígenas e conhecer algumas personalidades de destaque, siga conosco nessa leitura.
Mulher indígena na América Latina: conheça um pouco da história
Sabemos que com a colonização, a população indígena sofreu violências de diversas formas. Escravidão, apagamento cultural e linguístico e genocídio são algumas dessas violências que ainda influenciam na forma como os povos indígenas são vistos nos dias atuais.
As mulheres indígenas, além de serem violentadas nos contextos citados acima, ainda eram roubadas de suas famílias para servir aos colonizadores e passavam por abusos sexuais.
O período da colonização acabou, no entanto, diferente do que nos contam na maioria dos livros de história escritos por brancos, os povos originários não aceitaram essas violências de maneira pacífica, sem resistência e luta.
Desse modo, ao contrário do que muitos podem pensar, as movimentações indígenas em busca dos seus direitos não são recentes. Desde que os europeus invadiram suas terras, os povos indígenas se organizam para lutar contra as imposições e opressões a que foram submetidos.
Alguns dos principais movimentos indígenas
Somente no ano de 1940, com a realização do primeiro Congresso Indigenista Americano, realizado no México, que esses movimentos passaram a ter um pouco mais de visibilidade.
Já no Brasil, a partir da década de 1980 o movimento indígena ganhou força e é crescente o número de organizações indígenas de atuação local, regional e nacional. De acordo com o último censo do IBGE, realizado em 2010, existem cerca de 897 mil indígenas de 305 etnias. Desse número, 448 mil são mulheres.
Ainda hoje a mulher indígena precisa criar estratégias de enfrentamento e luta contra as desigualdades que são reflexo da escravidão. Elas têm se organizado cada vez mais na busca por:
- demarcação de territórios;
- geração de renda;
- manutenção dos valores e direitos de seus povos.
Em agosto de 2019 foi realizada em Brasília a Primeira Marcha Nacional das Mulheres Indigenas. Para saber mais, confira o vídeo abaixo.
Sobre a Marcha, a Coordenadora da União das Mulheres Indígenas da Amazônia, Telma Taurepang destaca:
“O foco, objetivo da marcha é dar visibilidade às ações das mulheres indígenas do Brasil, discutindo questões inerentes às suas realidades, reconhecendo esse protagonismo. E que a gente possa também dar as novas lideranças, a capacidade, a defesa e a garantia dos seus direitos humanos. A nossa resistência ela sobrevive porque estamos vivas, nós somos a resistência”.
No mesmo ano, no Acampamento Terra Livre, que acontece todos os anos em Brasília, a presença da mulher indígena foi marcante: estavam presentes mais de 500 mulheres indígenas de diferentes regiões do país.
4 mulheres indígenas para você conhecer e se inspirar
Se você chegou até aqui e ficou com o desejo de saber mais sobre essas mulheres, continue a leitura para conhecer três mulheres indígenas que são servem de inspiração na luta por direitos.
1. Dolores Cacuango Quilo
Dolores Cacuango nasceu no ano de 1881 em Cayambe, uma cidade da província de Pichincha, no Equador.
Foi ativista pioneira na luta pelos direitos indígenas e camponeses em seu país. Além disso, Cacuango junto com outra mulher de grande importância para os movimentos de mulheres indígenas, Rosa Elena Tránsito Amaguaña Alba, foi uma das lideres feministas no início do século XX.
Dolores se juntou aos ministros da educação em 1994 e contribuiu para a criação da primeira Federação Equatoriana dos Índios (FEI) que levou a abertura de quatro escolas rurais e se tornou a primeira presidente da federação.
Ela foi muito perseguida pelos que iam contra à sua luta em defesa dos direitos da população indígena e rural. Teve sua casa incendiada e foi acusada de associação ao comunismo. Após esses diversos ataques, ela se isolou até sua morte, no ano de 1971.
2. Rigoberta Menchú Tum
Rigoberta Menchú nasceu no ano de 1959 no município Uspantán na Guatemala. Era filha de Vicente Menchú Pérez, ativista em defesa das terras e direitos indígenas, e de Juana Tum Kótoja, que era parteira e muito respeitada em sua comunidade.
No ano de 1992 recebeu o Prêmio Nobel da Paz por seus trabalhos em prol da justiça social e pelo respeito aos direitos dos povos indígenas. Além disso, foi Embaixadora da Boa Vontade da UNESCO e ganhou o Prêmio Príncipe das Astúrias de Cooperação Internacional.
Em 2006, Menchuú se candidatou a Presidência da Guatemala nas eleições gerais com o objetivo de ser a primeira mulher indígena a ocupar a presidência em seu país, mas obteve apenas 20,7% dos votos.
3. Djuena Tikuna
Djuena Tikuna nasceu na Aldeia Umariaçu II, da etnia Tikuna que fica localizada no município de Tabatinga (AM). É ativista, tem formação em jornalismo e também é cantora e compositora.
Foi a primeira jornalista indígena Tikuna formada no estado.
No ano de 2017, tornou-se a primeira mulher indígena a protagonizar um espetáculo no musical no Teatro Amazonas, com o lançamento do seu álbum Tchautchiüãne. Além disso, Djuena também foi responsável pela Primeira Mostra de Música Indígena (WIYAE) do seu estado.
4. Sônia Guajajara
Sônia Bone Guajajara é da Terra Indígena Arariboia que fica localizada no estado brasileiro do Maranhão. Nasceu no ano de 1974, é líder indígena, formada em Letras, especialista em Educação.
Além disso, ela também é Coordenadora Executiva da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) e integrante do Conselho da Iniciativa Inter-religiosa pelas Florestas Tropicais do Brasil.
Recebeu premiações como:
- Prêmio Ordem do Mérito Cultural, concedido pelo Ministério da Cultura (Minc) – 2015
- Prêmio João Canuto pelos Direitos Humanos da Amazônia e da Liberdade, concedido pelo Movimento Humanos Direitos (MHuD). – 2019;
- Prêmio Packard, concedido pela Comissão Mundial de áreas protegidas da União Internacional para Conservação da Natureza (UICN) – 2019.
Gostou de saber mais sobre a história das mulheres indígenas e conhecer essas personalidades? Deixe aqui seu comentário dizendo o que achou.
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Louise tem 28 anos, é filha de Maria e Dandalunda, mulher negra, bissexual, candomblecista e baiana. Cursa Bacharelado em Letras Vernáculas pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e atua como escritora profissional há seis anos. Foi nesses caminhos com a escrita, que encontrou e se apaixonou pela escrita persuasiva e estratégica do marketing de conteúdo.