Elétricos e Híbridos

Por André Paixão

Há alguns dias, um acidente envolvendo um Tesla que despencou de uma ribanceira de quase 80 metros nos Estados Unidos chamou atenção pela destruição do carro. Ainda que o veículo tenha ficado irreconhecível, não houve explosão. O corpo de bombeiros local conseguiu retirar os quatro ocupantes, que passam bem. A equipe de resgate classificou eles terem sobrevivido como “um milagre”.

Milagre ou não, esse caso é mais um que reforça o alto nível de segurança de carros elétricos em acidentes graves. Em dezembro, a Volvo resolveu fazer não um, mas vários testes de colisão com um caminhão elétrico. A “cobaia” bateu de frente contra uma barreira fica, sofreu uma pancada lateral bem na região das baterias e capotou de forma proposital. O resultado? Apenas alguns amassados.

Claro que a legislação de nenhum país permitiria a venda de carros que coloquem a integridade dos ocupantes em risco, sejam eles elétricos ou não. Mas há quem ainda tenha receio sobre a segurança desses veículos.

Autoesporte conversou com Wanderlei Marinho, engenheiro da Comissão Técnica de Veículos Elétricos e Híbridos da SAE Brasil e professor do Instituto Mauá de Tecnologia sobre as diferenças na estrutura e nos testes de colisão dos carros elétricos em relação aos modelos a combustão.

O que muda na estrutura?

Muitos carros elétricos são variações de modelos já existes a combustão – Renault Kwid E-Tech, Volvo XC40 e BMW iX3 são exemplos. Assim, boa parte da estrutura é compartilhada – incluindo plataforma e boa parte dos componentes externos de design.

Teste de colisão lateral com um caminhão elétrico da Volvo — Foto: Divulgação
Teste de colisão lateral com um caminhão elétrico da Volvo — Foto: Divulgação

O mesmo vale para os pesados. “Os caminhões elétricos da Volvo têm as mesmas cabines de nossos caminhões a diesel tradicionais, que foram exaustivamente testados para garantir que sejam resistentes a colisões”, disse Anna Wrige Berling, diretora de segurança da Volvo Trucks.

A principal diferença é que a área das baterias tem a estrutura reforçada por uma espécie de cofre. Essa região, além de ser mais resistente a impactos, também é selada, impedindo a entrada de água.

Carro elétrico dá choque?

Não! “Todo o pacote de baterias, fluxo de energia na operação do veículo, a origem da energia, são testados, validados e em um regime de isolação de tensão. Não há qualquer contato com a carcaça do veículo”, explica Marinho.

Além disso, os cabos que conduzem energia são identificados na cor laranja, bem visível para quem eventualmente precisar abrir o capô ou realizar algum tipo de manutenção.

Pontos onde há maior corrente elétrica são sinalizados em laranja fluorescente. Portanto, nunca mexa nesses lugares — Foto: Renato Durães
Pontos onde há maior corrente elétrica são sinalizados em laranja fluorescente. Portanto, nunca mexa nesses lugares — Foto: Renato Durães

Não custa nada relembrar que também não há risco ao pegar chuva ou molhar um carro elétrico. Muitas das precauções devem ser as mesmas feitas para carros a combustão, mas os elétricos até levam vantagens em alguns casos.

Os conectores e a bateria ficam em invólucros selados, projetados para que não haja contato com a água, portanto o risco de estrago é menor.

Por exemplo, em uma travessia de área alagada, o modelo a combustão precisa entrar com uma marcha mais forte engatada e manter o giro alto do motor e a velocidade constante para que a água não entre pelo escapamento – esse não é um dos problemas do elétrico, que não tem escapamento. Um exemplo extremo foi dado pela fabricante americana Rivian, como mostra o tuíte abaixo:

Mas o engenheiro da SAE Brasil recomenda prudência. “O mais indicado nos dois casos é evitar alagamentos”. Assim, se você perceber que a água ultrapassa a metade da roda, o melhor é esperar e não tentar atravessar a região alagada.

Para demonstrar que carros elétricos e água não representam um risco, alguns anos atrás, a filial chinesa Volvo (sempre eles) resolveu colocar um XC40 em um tanque cheio de água. O resultado você confere abaixo:

O que fazer em caso de acidentes?

Segundo Marinho, o mais correto é esperar a equipe especializada e não entrar em contato com o veículo. Isso porque podem haver áreas energizadas.

Acidente com um carro da Tesla na Holanda; recomendação é esperar profissionais para o resgate — Foto: Getty Images
Acidente com um carro da Tesla na Holanda; recomendação é esperar profissionais para o resgate — Foto: Getty Images

“A recomendação é ter paciência, já que você pode ver coisas indesejáveis. É muito desconfortável para quem está diante de um acidente, mas é melhor deixar para quem é especializado e tem o conhecimento”, completa.

Além disso, cada carro possui uma maneira correta para fazer o resgate – e isso não vale apenas para os elétricos. Os bombeiros, por exemplo, utilizam a chamada Ficha de Resgate, que contém as informações necessárias para abrir um veículo com rapidez e segurança.

Exemplo de ficha de resgate do Chevrolet Bolt — Foto: Divulgação
Exemplo de ficha de resgate do Chevrolet Bolt — Foto: Divulgação

No caso dos modelos movidos a eletricidade, há indicações de onde há alta tensão e como desligar os sistemas elétricos.

Ficou curioso para saber o que aconteceu com o caminhão da Volvo nos testes? Confira o vídeo abaixo:

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