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#11

"A gente tá começando a entender o que é bom ou ruim, o que faz sentido e o que não faz na internet. Como a gente começa a cuidar da gente nesse contexto? Uma das formas de fazer isso é se dando tempo de pensar. A gente tá sem tempo. A gente tá nesse lugar de consumir e reagir, mas não de agir. Quando acontece uma história absurda, a gente reage e faz post, se mobiliza, mas não parar pra ler, discutir, olhar para o lado."

MM Izidoro, sócio da Ampère, apresentador, produtor, roteirista, autor e diretor, no Festival SGB 2020.

O que é uma vida saudável nos dias atuais?

Talvez, há alguns anos, a resposta seria uma dieta equilibrada, morar perto do trabalho, dormir 8h por noite, evitar comer farinha branca e açúcar. Depois de a humanidade ter virado de cabeça pra baixo, o que significa ~ser saudável e consciente~?

Começamos pela ideia de que o saudável é manter mente, corpo e alma em equilíbrio -- um conceito simples, né? -- Já sobre consciência, poderíamos dizer que vida consciente é aquela que está atenta e desperta e ligada no que acontece no mundo? Pois é, uma definição que faz sentido. Mas o que significa estar conectado, ligado e atento ao mundo hoje em dia?

Já até cansei de escrever aqui que a pandemia nos afastou presencialmente, o isolamento aumentou a nossa solidão e que a nossa vida deu uma voltinha de 180º para ser mediada pela internet e pelas telas dos nossos celulares.

Porém, precisamos falar dessa virada de cabeça para baixo para então suscitar a conversa do que é ter uma vida saudável e consciente nas nossas relações atuais com o mundo, o trabalho, os amigos, as notícias, nós mesmos, e como tudo isso influencia no nosso bem-estar.

Uma retrospectiva da internet.

Em 2010 (faz 10 anos!), um estudo feito nos EUA (Estudo "How Much Information 2009", Universidade de Berkeley) mostra que as pessoas passavam quase 12 horas por dia consumindo informação — e liam ou ouviam mais de 100 mil palavras por dia, totalizando 33,8 gigabytes de informação diária.

Bom, se antes da internet, o intermediário de todas essas informações eram os jornais e meios de comunicação, depois da internet nós passamos a ter a informação diretamente da fonte. Isso significa que os filtros dessas informações já não desempenham um papel de tanta relevância como já o fizeram — jornalistas, canais, intermediários — e temos de desempenhar esse papel e, também, que isso gera um fenômeno onde todo mundo fala o que bem entende (sendo verdade ou não) no seu Twitter e é isso aí.

Por um lado, temos a liberdade e o fascínio de poder ter toda e qualquer informação diretamente trazida até nós, cidadãos, e isso tem um poder incrível. Por outro, com a hiperinformação, nós recebemos tudo nas nossas mãos e ainda temos o trabalhão de confirmar, checar vontades, ver se é verdade, etc. Cansativo, né?

⚠️ SPOILER: as notícias falsas se espalham seis vezes mais rápido do que notícias verdadeiras*. ⚠️

*De acordo com um estudo publicado em 2018 pelo MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts, nos Estados Unidos.

(Alerta de desinformação!)

Lidar com tudo isso já é complicado, aí o isolamento social veio e fez com que as nossas relações pessoais com amigos e familiares, além de estudos, trabalhos e até lazer (quem não ama uma série da Netflix ou curtiu uma live nessa quarentena?)  também fossem mediadas pela internet. Logo ela, a internet, em que as redes sociais propagam um mundo em que a vida das pessoas beira a perfeição, todo mundo vai pra academia 1x ao dia, só come salada, é feliz o tempo todo… 

Como manter a sanidade mental num ambiente plástico e com pouca verdade?

É inevitável: essa soma, em excesso, trará um efeito nocivo a todos nós. Na verdade, já está trazendo. Seguimos, então, com dois pensamentos: (1.) qual internet queremos e podemos criar que seja diferente disso? (2.) quem tem o poder e a responsabilidade de regular os conteúdos que existem nela, que influenciam tanto na vida de tantas pessoas?


“Como tudo que é excessivo, o uso da internet e das redes sociais pode gerar ansiedade. Os mecanismos envolvidos são os mesmos que causam dependência, o ‘sistema de recompensa cerebral’, uma série de estruturas em nosso cérebro estimuladas quando fazemos algo que nos dê prazer e satisfação, liberando neurotransmissores como dopamina, serotonina e encefalinas. Em algumas pessoas predispostas, em maior ou menor grau, acontece a ansiedade por estar sempre conectado – checando e-mails ou mensagens, atualizações e postagens. E esta necessidade acaba transformando o prazer em ansiedade e estresse e, muitas vezes, prejudicando sua produtividade no dia a dia”.

Roberto Debski, médico e psicólogo (entrevista).


"Se você não estiver pagando pelo produto – você é o produto"

Tristan Harris (presidente e co-fundador do Center for Humane Technology e ex-Google) no documentário O Dilema das Redes 

Então, meus amigos, já que a pandemia nos obrigou a estar mais online, como fazemos para criar uma internet mais real, mais verdadeira, mais similar à nossa vida de fato? Como mantemos a sanidade mental? Nós que regulamos a informação que chega até nós? Controlamos nossas horas no Instagram? Colocamos o celular no silencioso e no modo "não perturbe"? Desligamos as notificações?

Uns podem até dizer que essas atitudes são efetivas; eu acredito que são limitadas. Afinal, estamos vivendo na realidade em que algoritmos são desenhados para nos entregar aquilo que queremos ler, pensar, assistir e — pasme! — sentir! 


"Remover Facebook do smartphone e apagar contas nas redes sociais não é solução e não acontecerá em escala [dito isto, abandonei o Facebook há tempos]. O que precisamos é tratar é o conjunto de problemas associados à isenção, transparência e responsabilização de algoritmos e da regulação de certos mercados em rede, e disso pouca gente fala — ou quer falar", escreve Silvio Meira sobre o documentário O Dilema das Redes. 


 

O tal do dilema das redes.

Somos muitos online. A soma de usuários no Facebook, Instagram e Whatsapp é de 3 bilhões de usuários no mundo no início de 2020 - obtendo uma receita de US$ 17,74 bilhões e lucro líquido de US$ 4,9 bilhões. E, com tanta gente assim, não é possível delegar toda a responsabilidade aos indivíduos. Afinal, quem cria, desenvolve e pensa nos algoritmos são as próprias big techs.

Vivemos um momento em que, após as eleições estadunidenses de 2016 serem totalmente afetadas por fake news e algoritmos no Facebook (com o caso do Cambridge Analytica), assim como as eleições brasileiras de 2018, até o Whatsapp foi obrigado a regular a situação das fake news no aplicativo durante as eleições municipais deste ano no Brasil — quem nunca recebeu aquele vídeo do seu tio falando que apenas 3 países no mundo usam a urna eletrônica, né? Dica: é fake.

Todo o "tema" de redes sociais, grandes empresas de tecnologia, ansiedade e depressão, algoritmo, o comportamento das pessoas, as eleições, a democracia, as notícias verdadeiras, a polarização e o extremismo… Falar disso tudo é endereçar o futuro da humanidade e qual é a realidade que iremos construir daqui para frente

Esses fatos ficam mais do que explícitos no documentário "O dilema das redes", dirigido por Jeff Orlowski e escrito por Orlowski, Davis Coombe e Vickie Curtis. O filme foi lançado pela Netflix em setembro e analisa o papel das redes sociais e os danos que elas causam à sociedade, trazendo os depoimentos de pessoas envolvidas no ecossistema do Vale do Silício, como do co-criador do botão like do Facebook, do ex-presidente do Pinterest, do ex-funcionário da Google na área de ética de design e cofundador do Center for Humane Technology, Tristan Harris, entre diversos outros especialistas.

E, apesar de ser ainda uma caminhada na superfície destas questões e não um mergulho profundo, é um conteúdo que chega a mais pessoas e levanta esse ponto, trazendo diversas provocações para as nossas conversas sociais. Fica a dica.


"Estamos vivendo apenas o início de uma era onde código define contextos, escolhe opções, modifica comportamentos e cria problemas que eram ficção até poucos anos. Seria muito bom se aprendêssemos, com os casos que já temos, a refletir sobre o futuro da sociedade da informação e seus regramentos, sem a pressa e falta de cuidado que vimos, recentemente, na discussão sobre a Lei das “fakenews” no Congresso Nacional. Esta, sim, uma ocasião que um bom algoritmo de recomendação, lá do futuro, não mostrará a ninguém que queira aprender como leis deveriam ser discutidas", escreve Silvio Meira sobre o documentário O Dilema das Redes. 


 

Se existe algo de mais valioso que o tempo, eu ainda estou para descobrir. 

E nós estamos sem tempo. Temos tanto a fazer, e ficamos em redes sociais, gastando nossa moeda mais cara e maravilhosa. Não sei se existe uma resposta única sobre o que é uma vida saudável mediada pelas telas, mas existem possibilidades e tentativas possíveis para cada um de nós. 

Algumas tentativas são...

Abandonar o que faz mal, o que não faz sentido e o que é tóxico. É tirar do seu "sistema" o que te prejudica (aí está o bem-estar) e ter um olhar crítico para todo conteúdo que existe na rede, para os padrões de beleza inatingíveis, para a vida de comercial da margarina de todo mundo e para toda e qualquer forma de idealização que rola na internet, inclusive dando atenção à famosa cultura do cancelamento (aí está a consciência).Fica, então, uma dica valiosa do painel de "Vá devagar: um papo sobre uma vida digital consciente e slow content" com figuras incríveis da internet, em que a Sue Coutinho trouxe sobre como é possível ter uma vida melhor online: 

"(...) É uma mudança de paradigma, um lugar para se encontrar; uma negativa para esse ritmo acelerado, que não é um ritmo de gente, é um ritmo de internet. É difícil você confrontar muitos meses, talvez anos, de informação de como você precisa agir na internet. Mas quem foi que disse que precisa ser de um jeito ou de outro? A gente tem que questionar! E buscar se encontrar nesse espaço com a mensagem que a gente quer passar."

E, ela finaliza brilhantemente: "esta é uma conversa que começa em comunidade, mas é algo para depois desligar a tela e se perguntar: "que internet eu quero que exista?"

A curadoria que nós amamos!

Toda edição, uma curadoria de conteúdos feita para os assinantes da #PossoFalar. :)

Alguns conteúdos sobre, a nossa vida na internet, e como toda essa conectividades afeta a nossa humanidade.

 

[documentário] O dilema das Redes | Netflix

"Especialistas em tecnologia e profissionais da área fazem um alerta: as redes sociais podem ter um impacto devastador sobre a democracia e a humanidade.


[Texto] 'Dilema das Redes': os 5 segredos dos donos de redes sociais para viciar e manipular | BBC Brasil

Trecho do artigo da BBC: "A frase aparece em um dos momentos mais comentados do filme "O Dilema das Redes", que foi lançado em fevereiro de 2020 no festival de Sundance, nos Estados Unidos, mas só virou assunto no resto do mundo após entrar para o catálogo da Netflix, sete meses depois."


[vídeo] Como melhores tecnologias poderiam nos proteger de distrações | Tristan Harris | TEDxBrussels

"Com que frequência a tecnologia nos interrompe de fazer o que realmente devíamos estar a fazer? No trabalho e no lazer, nós passamos uma quantidade surpreendente de tempo distraídos por sons e pop-ups... Em vez de nos ajudar a fazer bom uso do tempo, frequentemente sentimos que a tecnologia está a roubar-nos esse tempo. O "design thinker" Tristan Harris oferece novas ideias interessantes para tecnologias que criam interações mais significativas. Ele pergunta: "Como será o futuro da tecnologia quando estamos a projetar para os mais profundos valores humanos?"


 [vídeo] Como escolher as suas notícias | TEDEd

Com o advento da internet e das mídias sociais, as notícias são distribuídas com uma incrível velocidade e por uma quantidade de diferentes canais de comunciação sem precedentes. Como escolher quais notícias consumir? 

Damon Brown dá informações privilegiadas sobre como as opiniões e os fatos (e às vezes até não-fatos) ganham espaço nas notícias e como um leitor inteligente consegue distingui-los.


 [vídeo] O problema com os nossos telefones | The School of Life

Eles são extremamente úteis, é claro, mas de muitas maneiras, nós compramos as vantagens que nossos telefones nos dão a um preço sutilmente alto que não reconhecemos inteiramente. Algumas reflexões sobre como viver bem em torno de telefones.

😄AMEI

😐TÁ OK

🤔MAIS OU MENOS

 

Obrigada por nos acompanhar na #PossoFalar :)

Até a próxima!

Carla Mereles | Curadora e criadora de conteúdo do SGB

Enviado por Social Good Brasil

www.sgb.org.br

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