Moradores da Vila Itaim, na zona leste de São Paulo, reclamam que obras de limpeza e desassoreamento do rio Tietê não serão realizadas no trecho que atinge a região. O bairro, que fica no distrito Jardim Helena, sofre há anos com alagamentos que chegam a deixar as ruas debaixo d’água por dias.
A região chegou a ter situação de emergência decretada pela prefeitura da cidade três vezes na última década, sendo as duas últimas em 2019 e 2020.
O líder comunitário Euclides Mendes, 50 anos, conta que os moradores ficaram animados ao saberem que o governo de São Paulo iria fazer uma obra de desassoreamento no trecho que banha a região, o chamado Lote 3 do Tietê. ”O problema é que, quando saiu a licitação para a obra, nós descobrimos que na verdade eles não iriam limpar a nossa área”, diz Mendes.
O Lote 3 corresponde a um trecho de 25 km que vai da Barragem da Penha à divisa com Itaquaquecetuba (Grande SP). A licitação prevê desassoreamento de 13 km deste lote, indo da Barragem da Penha à ponte Senador José Ermírio de Moraes, que liga o Itaim Paulista, na zona leste da capital, ao bairro de Vila Any, em Guarulhos (Grande SP).
“Há um mês e meio eu estive em uma reunião com o secretário de Infraestrutura e Meio Ambiente, o Marcos Penido, para explicar a necessidade de que essa obra pegasse o Lote 3 inteiro. Ele disse que ia ver, mas acabou que a homologação saiu daquele jeito mesmo e nada foi feito”, afirma o líder comunitário.
Edson Pereira da Silva, 35 anos, motorista por aplicativo, mora no bairro há sete anos e conta que já enfrentou várias enchentes no local e perdeu muitos bens. “Em 2015, por exemplo, eu tinha acabado de casar e estava com a casa toda nova. Aí choveu, a água chegou a um metro e meio de altura. Perdi muita coisa, armário, fogão, geladeira...”, conta Silva.
Segundo ele, não é necessário que a chuva seja muito forte nem duradoura para que o alagamento aconteça. “Dez ou quinze minutos de chuva razoavelmente forte já é o suficiente. A gente nem consegue dormir tranquilo. Basta ouvir um barulho de chuva que já ficamos preocupados, começa todo mundo a colocar as coisas para o alto, tirar o carro da rua.”
A aposentada Aparecida de Lourdes da Silva, 65, mora há 63 anos na região. Ela conta que o problema com as enchentes é antigo e que, mesmo com a obra entregue pelo governo Doria em 2018, a situação nas ruas do bairro fica complicada quando chove.
“A construção ajudou as casas que estão do lado de lá do muro, mas aqui continua enchendo. Talvez até mais do que antes”, diz dona Cida, como é chamada pelos moradores da região.
A obra entregue pelo governo é conhecida como pôlder. Consiste em um sistema composto por um muro de contenção, um reservatório, dutos e bombas. O objetivo é armazenar a água e lançá-la de volta ao rio após o pico de vazão e assim evitar transbordamentos.
Aparecida conta que chegou a instalar uma bomba no próprio quintal para tentar ajudar a retirar a água em dias de alagamento. Ela revela também que, às vezes, a água que causa a enchente nem é de uma chuva que caiu no bairro. “Tem vez que ainda nem choveu aqui, choveu só em bairros mais para cima, e o rio já fica lotado. Aí basta cair uma gota aqui que ele já transborda e pega a gente de surpresa”, relata a aposentada.
Resposta
Questionada sobre a exclusão dos 12 km do rio Tietê que banham a região da Vila Itaim da obra de desassoreamento, a Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente do estado de São Paulo afirmou ter planos para realizar a obra na região em breve, mas que não pode estabelecer data.
“O DAEE (Departamento de Águas e Energia Elétrica) está fazendo diversas ações no combate às enchentes no Alto Tietê. Especificamente na região da Vila Itaim e Seabra, o departamento recentemente realizou o desassoreamento de um quilômetro do Ribeirão Lajeado, entre a foz junto ao rio Tietê e a linha férrea da CPTM; e um quilômetro do córrego das Pedrinhas, no trecho entre o rio Tietê e a rodovia Ayrton Senna. Ao todo, foram removidos cerca de 22,5 mil m³ de sedimentos que estavam no fundo desses cursos d'água, o que contribuiu para a melhor capacidade de vazão dos canais em períodos chuvosos”, afirma a pasta, em nota.
Sobre o pôlder construído na região, a secretaria afirma que ele beneficia mais de 10 mil pessoas e que já há um processo de licitação para a construção do muro na outra margem do córrego. “Atualmente está em processo licitatório o muro de contenção da margem esquerda do córrego da Vila Itaim em uma extensão aproximada de 450 metros em complemento ao pôlder. A obra, que tem investimento estimado de R$ 3,1 milhões, terá o prazo de execução de 9 meses após a ordem de serviço”.
E concluiu dizendo que está concluindo a licitação para contratação de limpeza e desassoreamento de 13 km do Lote 3. “Os trabalhos que terão investimento de R$ 91,9 milhões beneficiarão diretamente os municípios de São Paulo e Guarulhos com a retirada de aproximadamente 820 mil m³ de sedimentos e mais 30 mil m³ de material rochoso do fundo do canal, facilitando assim a manutenção da Eclusa da Barragem da Penha”.
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