O primeiro dia da nova Zona Azul digital da capital paulista, sistema de vagas de estacionamento rotativo pago e administrado pela empresa Estapar a partir desta terça-feira (17), passou desapercebido pelos motoristas, principalmente para aqueles que circularam pela região central da rua 25 de Março e do Mercadão.
A partir desta data, todas as compras de CADs ( Cartões Azuis Digitais) serão feitas por um único aplicativo Estapar Nova Zona Azul - SP, que pode ser baixado por meio do Google Play ou da AppStore. Antes, eram 13 aplicativos para adquirir o cartão digital.
No entanto, os motoristas conseguiam estacionar seus veículos com os aplicativos antigos instalados nos celulares. Caso do administrador de empresas Leandro Guida, 47 anos, morador de Interlagos (zona sul), que, ao lado dos pais, foi no Mercadão para compras. ”Não sabia que mudou a gestora do serviço. Acabei de colocar o crédito de um aplicativo que tenho há cerca de dois anos", diz.
O mesmo caminho do autônomo Evandro Oliveira, 27 anos, de São Mateus (zona leste), que parou seu carro na Zona Azul existente dentro do estacionamento do Mercadão. ”Usei o mesmo aplicativo de sempre. Mudou? Nem sabia. Paguei por uma hora, R$ 5, mais R$ 5, para duas horas. Tenho de me informar melhor sobre essas mudanças“, diz Oliveira, ao ressaltar que não havia nenhuma placa ou faixa com informações.
Vencedora da licitação realizada pela Prefeitura de São Paulo, gestão Bruno Covas (PSDB), a Estapar administrará o serviço por 15 anos. No total, segundo a empresa, são 51.606 vagas.
A paisagista Claudia Cristina Lemes, 47 anos, moradora no Tatuapé (zona leste), tem parado seu carro no estacionamento do Mercadão des o último dia 3, por causa de um evento no local. ”Até então, tenho comprado os créditos diários no guichê interno ou externo da Zona Azul Digital. Não sabia que mudou de empresa. Agora, vou instalar o aplicativo correto para eu mesma pagar“, afirma.
A reportagem circulou pelo estacionamento do Mercadão, além das ruas 25 de Março, Barão de Duprat e Carlos de Sousa Nazaré, entre 13h e 15h, e não encontrou nenhum agente da CET (Companhia de Engenharia de Trânsito) nem da Estapar para efeitos de fiscalização. Também não havia qualquer tipo de informação visual.
Flanelinhas
Bem em frente à 1ª Delegacia de Polícia de Atendimento ao Turista na rua Cantareira, dezenas de flanelinhas, quase todos sem máscaras, se aglomeram e "comercializam" nobres vagas de estacionamento para motoristas que queriam fazer compras no Mercado Municipal Kinjo Yamato ou no Mercadão.
Pelo aplicativo do celular, eles compram o crédito pelo preço oficial cobrado pela empresa vencedora da licitação. Porém, cobram o dobro do usuário. Ou seja, uma hora, sai por R$ 10; duas horas, R$ 20.
”A gente coloca e fica tomando conta“, diz um dos inúmeros agentes informais que circulam pelos arredores do Mercadão, enquanto fica de olho em uma vaga que surge para chegada do próximo cliente.
Uma moradora de Bragança Paulista (85 km de SP), de 70 anos, que pediu para não ser identificada, conta que já teve os pneus furados e o carro riscado por não ter pago o valor exigido pelos flanelinhas.
”A vaga disponível não era por crédito de aplicativo, mas por dinheiro em espécie. Uma hora, R$ 10, duas, R$ 20. Achei um absurdo e não paguei. Quando voltei, encontrei o que não queria. Ninguém faz nada“, conta.
Resposta
A Prefeitura de São Paulo, gestão Bruno Covas (PSDB), por meio da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), informa que nesta terça-feira (17) foi iniciado um período de transição até fevereiro de 2021.
Durante esse período, o usuário será instruído sobre a nova operação da Zona Azul, inclusive que poderá continuar usando os aplicativos que já possui ou nos quais possua CAD (Cartão Azul Digital). A concessionária trabalhará nos próximos meses com uma campanha de divulgação do novo aplicativo e no esclarecimento de dúvidas da população.
A Guarda Civil Metropolitana informa que durante as rondas, quando o efetivo se depara com flagrante de extorsão praticado por flanelinhas, as partes são conduzidas ao distrito policial. É necessário que a vítima compareça à delegacia para haver a queixa.
A Estapar, por nota, "reconhece que todo início de operação possa gerar dúvidas". Por isso, afirma que está reforçando a comunicação sobre o novo aplicativo e a transição. O processo foi idealizado para ser gradual e os usuários podem utilizar o CAD adquirido nos aplicativos já existentes até 15 de fevereiro de 2021.
Caso nesta data ainda haja saldo de CAD, a Estapar fará a integração com as atuais empresas de aplicativo, juntamente com a Prefeitura de São Paulo, para transferência dos créditos para o aplicativo Estapar Nova Zona Azul -SP.
Ainda segundo a empresa, até o momento, já foram credenciados "centenas" de pontos de venda, distribuídos por todas as regiões da capital paulista, que concentram vagas e comercio. A companhia seguirá credenciando os estabelecimentos interessados ao longo do período.
A Polícia Civil, por meio da Deatur (Delegacia de Atendimento ao Turista), gestão João Doria (PSDB) afirma, em nota, que já registrou "vários" termos circunstanciados de ocorrência sobre exercício irregular de profissão. Todos foram arquivados por inexistência de crime. Não houve identificação de pessoa que afirme ter sofrido grave ameaça ou eventual extorsão.
A Polícia Militar reorienta o policiamento, sempre que necessário, para evitar que haja extorsão ou constrangimento ilegal. A prática de guardar carros não é considerada crime.
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