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Jair Bolsonaro foi um dos últimos chefes de governo ou Estado a reconhecer a vitória de Joe Biden. A atitude significa mais para a política doméstica do que para as relações do Brasil com os EUA.
Diante da devoção do brasileiro a Donald Trump, a má vontade de Bolsonaro deveria ser óbvia para Biden muito antes da eleição. As acusações de fraude eleitoral e a grosseria de cumprimentar o presidente eleito na última hora apenas confirmaram a disposição à picuinha.
Os EUA podem até se valer disso para fazer uma ou outra crítica ao Brasil, mas a diplomacia americana se pauta por interesses, não por mágoas.
Mas pode-se esperar conflito em áreas importantes para a Casa Branca, como em assuntos ambientais ou no plano de restaurar relações com outros países.
Por outro lado, aos americanos pode ser útil o apoio brasileiro em seu conflito com a China, como no caso da tecnologia de comunicações. De resto, o Brasil é um país grande nas Américas e há muito interesse econômico por aqui.
No cenário mais amplo, o país é de relevância secundária para os EUA --desde que o bolsonarismo não promova nenhuma grande desordem.
A força brasileira nas relações internacionais baseava-se na moderação, na mediação de acordos e na liderança em pautas ambientais. Essa obra está em ruínas: a indisposição chegou até mesmo ao Senado, que acaba de vetar um indicado do governo para um posto na ONU.
Ao imitar as denúncias trumpistas de fraude eleitoral, Bolsonaro quer disseminar também no Brasil a desconfiança na democracia e nas instituições. A nossa atual irrelevância resulta de um projeto de unir governos reacionários. O ataque a Biden é subproduto dessa maluquice.