Há 100 anos, nascia Thelonious Monk, que tocava piano e compunha para o jazz como ninguém

Cristiano Cipriano Pombo

Em 1958, a caminho de um show em Baltimore, o carro em que estavam a baronesa Pannonica de Koenigswarter (1913-1988), a Nica, o saxofonista Charlie Rouse e o pianista e compositor Thelonious Monk foi parado numa blitz.

Os policiais deram ordem para que todos descessem do veículo.

Sem entender a ordem, Monk se manteve no interior do carro. Isso despertou a ira dos policiais, que passaram a atacá-lo com cassetetes.

De imediato, Monk sentou-se sobre suas mãos, a fim de protegê-las.

Foi salvo por Nica, bastante conhecida no mundo do jazz pela relação com Monk e por suas ações com jazzistas. Como escreveu Ruy Castro na Folha, ela assumiu a culpa pela maconha no carro e interveio para evitar que batessem nas mãos mais preciosas do mundo.

O caso é microcosmo na intensa vida de Thelonious Sphere Monk, que nasceu em 10 de outubro de 1917, em Rocky Mount, na Carolina do Norte (EUA).

Tão intensa que ele já tocava piano com cinco anos de idade, só de observar a irmã.

Ao aprender sozinho –mesmo que depois tenha tomado lições com professor renomado e se influenciado pela obra de Sergei Rachmaninoff ou Franz Listz–, Monk empreendeu um estilo próprio de tocar, com o corpo curvado, os dedos eretos e um chapéu sempre presente.

Isso fez com que, ao contrário de seus parceiros músicos, que implodiram o swing, ajudaram a consolidar o bebop e foram se consolidando em múltiplas direções, o pianista já estava acabado, o que causava estranheza no público e nos colegas de palco.

Alguns diziam que Monk não sabia tocar, não tinha técnica. Mas ele sabia intercalar as notas com o silêncio como ninguém.

“Eu tocava do jeito que achava que deveria tocar. Não estava tentando mudar o curso do jazz, só queria tocar alguma coisa que soasse bem”, disse Monk  à jornalista Valerie Wilmer no livro “Jazz People”.

E mais do que tocar como ninguém, Monk compunha com maestria. Foram cerca de 70 composições de jazz.

Ele despontou nos anos 1940, na rua 52, no Minton’s Playhouse, juntamente com Kenny Clarke, Charlie Christian, Dizzy Gillespie, Charlie Parker e, mais tarde, Miles Davis. Tocou também com John Coltrane.

Chegou a perder a licença para tocar durante seis anos, de 1951 a 1957 devido a porte de drogas –a heroína não era dele, e sim do pianista e amigo Bud Powell.

Assim, só foi aclamado no final dos anos 1950 e nos anos 60. Mas seu temperamento extremamente introvertido impediu-lhe de se aproximar do público.

Nos dez anos antes de sua morte, foram raras apresentações e aparições públicas.

Revistas, como a francesa “Le Monde de la Musique”, até questionaram “Onde anda Thelonius Monk?”. Ele estava recluso, com a família.

Ficou lá até ser internado no sábado de 6 de fevereiro de 1982 num hospital de Englewood, onde sofreu uma hemorragia cerebral e entrou em coma. Não resistiu e morreu em 10 de fevereiro de 1982, aos 61 anos.