Soltura de Marcelo preocupa Odebrecht
Rodolfo Burher - 20.jun.2015/Reuters | ||
Marcelo Odebrecht sair� da cadeia neste m�s |
N�o vai ter festa.
Ap�s ficar dois anos e meio atr�s das grades, o empres�rio Marcelo Odebrecht deixa a pris�o no pr�ximo dia 19. Nunca um empres�rio do porte de Marcelo, ex-presidente e herdeiro do maior grupo de constru��o do pa�s, ficou preso por tanto tempo.
N�o h�, por�m, o menor clima na empresa para festejar a sa�da de Marcelo, que ficar� em pris�o domiciliar por dois anos e meio. O ambiente, de acordo com executivos e delatores ouvidos pela Folha, � de preocupa��o.
De acordo com pessoas com acesso ao empres�rio na pris�o, ele se mostra insatisfeito com um acordo cujo resultado considera extremamente injusto, principalmente no que se refere � sua participa��o no pagamento de propina. H� o temor de que aponte omiss�es e imprecis�es no acordo, tema frequente de conversas de quem o visita em Curitiba.
No per�odo em que est� preso, o ex-presidente da Odebrecht rompeu com o diretor jur�dico do grupo, Adriano Maia, com a irm�, M�nica, com o cunhado, Maur�cio Ferro, que tamb�m � diretor no grupo, e com a m�e, a quem era muito ligado.
Com o pai, Em�lio Odebrecht, presidente do conselho do grupo, ele j� havia brigado antes mesmo de ter sido preso, em junho de 2015.
A pris�o e o acordo de dela��o ampliaram o fosso entre pai e filho. A dela��o da Odebrecht, que envolveu 77 executivos, foi arquitetada por Em�lio, que via nesse instrumento a �nica maneira de salvar os neg�cios da fal�ncia.
Ao jornal "O Estado de S. Paulo", Theo Dias, advogado que coordenou o processo, disse, sem entrar na discuss�o do caso Odebrecht, que um acordo de colabora��o premiada n�o � um acordo de partes em posi��es sim�tricas.
"O acordo de colabora��o premiada � um acordo de rendi��o, em que uma parte est� se rendendo � outra", afirmou.
PERFECCIONISTA
Depois que aderiu ao acordo, Marcelo tem sido perfeccionista com os relatos e criticado em interrogat�rios o que considera imprecis�es, erros e mentiras.
Ele ter� de ficar afastado da gest�o do grupo, uma imposi��o do acordo, mas pode falar do que julga serem impropriedades da dela��o em audi�ncias na Justi�a.
A preocupa��o dos executivos deriva de interven��es de Marcelo em a��es penais que contrariam depoimentos dos acordos de dela��o.
Ele diz que foi injusti�ado em tr�s casos em que � r�u: o do s�tio de Atibaia cuja propriedade � atribu�da a Lula, processos envolvendo a Petrobras e a a��o que tem como foco o empres�rio Taiguara Rodrigues, sobrinho da primeira mulher de Lula.
Marcelo diz que jamais se envolveu com quest�es relacionadas ao s�tio. Segundo ele, foi seu pai quem decidiu bancar o mimo para Lula, e quem cuidava dos pagamentos era Alexandrino Alencar, executivo da construtora.
Lula nega que seja dono do im�vel e que tenha recebido benef�cios da Odebrecht, da OAS e do empres�rio Jos� Carlos Bumlai durante a reforma.
Nos processos da Petrobras, Marcelo tem repetido que n�o tinha inger�ncia nesses neg�cios, vers�o confirmada por dois diretores da Odebrecht que cuidavam desses contratos: Marcio Faria e Rog�rio Ara�jo.
Na a��o de Taiguara, executivos da Odebrecht em Angola disseram � Justi�a que Marcelo n�o teve participa��o no esquema que teria beneficiado o familiar de Lula.
O ex-presidente do grupo tamb�m reclama que executivos da Odebrecht Ambiental, que atua com coleta de lixo, omitiram fatos no acordo.
H� ainda casos de delatores que, segundo Marcelo, n�o deveriam estar no acordo porque n�o eram os respons�veis pelo suborno.
O clima de desconforto na empresa j� levou um executivo tido como extremamente talentoso a pedir para sair do grupo. Trata-se de Paulo Cesena, ex-presidente da Odebrecht Transport.
Cesena quer tanto deixar a Odebrecht que pediu para antecipar o cumprimento de pena, o que foi aceito pela Justi�a.
Ele era um dos 26 entre os 77 delatores que haviam sido autorizados a continuar na empresa para ajudar na recupera��o dos neg�cios.
OUTRO LADO
Em nota enviada � Folha, a Odebrecht afirma que "fez uma colabora��o ampla e definitiva com as autoridades, contendo mais de 900 relatos apresentados pela empresa e 77 executivos".
A companhia afirma ainda na nota que "a colabora��o se mostra eficaz, comprovada com milhares de documentos, planilhas, recibos e extratos banc�rios". A empresa tamb�m aceitou pagar uma multa de US$ 2,6 bilh�es (R$ 8,4 bilh�es).
Sobre a decis�o de deixar o grupo Odebrecht, apurada pela Folha junto a outros executivos, Paulo Cesena diz, tamb�m por meio de nota, que n�o comenta especula��es.
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