Russos protestam contra corrupção em 180 cidades; centenas são detidos

IGOR GIELOW
DE SÃO PAULO

Alexei Navalni conseguiu de novo. O blogueiro e ativista anticorrupção russo mobilizou milhares de pessoas contra o governo de Vladimir Putin, viu a polícia prender centenas e acabou ele mesmo atrás das grades.

O roteiro repetiu o registrado no mega-ato de 26 de março, mas houve diferenças. Aparentemente, porque não há contagem oficial, havia menos gente nas ruas, mas o protesto espalhou-se para quase o dobro do número de cidades –foram entre 180 e 200, contra 99 antes.

A repressão policial foi intensa. Em Moscou, segundo a ONG que monitora prisões OVD-Info, foram 670 detidos. Em São Petersburgo, segundo polo do país, entre 300 e 500, número que bate com o do Ministério do Interior.

O governo norte-americano criticou as prisões. Em março, organizadores estimaram 60 mil manifestantes só em Moscou. Desta vez, falaram em 5.000 na capital e 10 mil em São Petersburgo.

Os dados brutos são menos importantes do que a mensagem. Lugares mais ermos da Rússia, que sofrem mais com a crise econômica decorrente do baixo preço do petróleo e das sanções ocidentais pela guerra na Ucrânia, registraram protestos.

Os atos seguiram a pulverização viral de Navalni: pessoas convocadas por redes sociais permanecem juntas por curtos espaço de tempo, para tentar evitar a repressão.

Sem carros de som autorizados, a mensagem ficou mais difusa. Em março, o mote era uma acusação de corrupção contra o premiê Dmitri Medvedev. Agora "Rússia sem Putin" servia de palavra de ordem para a multidão.

Em Novosibirsk (Sibéria), relatos falam em 5.000 pessoas nas ruas. Em Vladivostok, no extremo oriente russo, cerca de 2.000 pessoas foram confrontadas por cossacos vestidos a caráter.

Eles estavam encenando cenas históricas da Rússia, cortesia do feriado que comemora a soberania da então república comunista declarada em 1990, ainda como integrante da União Soviética.

Em Moscou, a praça Vermelha estava fechada com barricadas simulando um campo de batalha da Segunda Guerra, para as encenações que ocorreriam à noite. Elas acabaram segurando os manifestantes que desciam a rua Tversakaia rumo ao coração político da Rússia, o Kremlin, que fica na praça.

O protesto moscovita não chegou a ter a participação de Navalni. Ele foi detido ao sair de casa, dias depois de voltar da Espanha, onde submeteu-se a uma cirurgia para tentar recuperar a visão do olho que foi atingido em um ataque anônimo por produto químico, em 27 de abril.

Ele já havia pego 15 dias de cadeia em março, e agora pegou mais um mês. Prisão e sentença foram divulgadas no Twitter por sua mulher e por sua porta-voz.

PRETENSÃO ELEITORAL

Navalni, 41, quer ser o anti-Putin na eleição presidencial do ano que vem. Tecnicamente, talvez não possa concorrer por duas condenação por roubo e fraude.

Suas chances parecem baixas, também: é rejeitado por 63% dos russos, segundo o respeitado Centro Levada, embora seja desconhecido por 53% da população.

Enquanto isso, Putin ainda esbanja popularidade acima dos 80%, mas o espraiamento dos protestos leva preocupação para o Kremlin.

Navalni chefia o Partido do Progresso, sem representação parlamentar. Ainda assim, chegou ao segundo lugar na disputa pela Prefeitura de Moscou em 2013.

Faz hoje política a partir dos projetos investigativos de sua Fundação Russa Anticorrupção, e estreou no mundo dos protestos nas grandes manifestações de rua em Moscou de 2011-12.

Naquela época, o Kremlin reagiu com algumas mudanças liberalizantes, como a volta das eleições locais, e com detenções cirúrgicas de ativistas.

Com toda dificuldade para emplacar uma agenda de oposição, Navalni tem mais sucesso, por exemplo, que teve o enxadrista e ativista Garry Kasparov nos anos 2000.

Além de holofotes no Ocidente, seus atos têm maior visibilidade interna –ainda que não na TV estatal, que os omitiu da programação.

TENTÁCULOS DE PUTIN
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2011 a 2012
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17.8.2012
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27.02.2015
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26.03.2017
Protestos contra a corrupção e pela renúncia do premiê Dmitri Medvedev têm centenas de detidos, dentre eles o opositor Alexei Navalni

12.06.2017
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