Designer da inclus�o
O que um retalho de oncinha, um banner empoeirado e uma garrafa PET suja t�m em comum? Todas essas pe�as formam pedacinhos que est�o ajudando a montar novos caminhos: do barraco �s margens de um rio-esgoto no Rio de Janeiro a um grupo de vov�s que encontrou no trabalho uma raz�o para viver.
Os 34 anos de vida da advogada de forma��o e empreendedora de vida Alice Freitas t�m sido constru�dos assim: de juntar cacos que ela encontra por onde passa. Pouco importa a dist�ncia.
Em comum, tudo isso poderia ir parar no lixo, mas tornou-se um sopro de esperan�a para muita gente simples. "Essa � a minha miss�o", diz ela. "Uma trajet�ria de somar experi�ncia e repassar know-how para ensinar e capacitar algu�m para criar."
Desde 2007, Alice est� � frente da Rede Asta, neg�cio social que trabalha com associa��es, cooperativas e grupos produtivos formados majoritariamente por mulheres -o nome vem de Astrea, a mais pura das deusas gregas.
Num primeiro momento, a proposta parece simplista: transformar res�duos em arte, usando a confec��o de artesanato, dando um "up" na economia solid�ria e no desenvolvimento sustent�vel.
Com o slogan "bom, bonito e do bem" e a proposta de valor "inclusivo para quem faz, exclusivo para quem compra", a Asta trabalha hoje com 51 grupos que envolvem 700 artes�s -90% delas s�o mulheres, com renda que varia de um a dois sal�rios m�nimos. Gente que vive em favelas n�o pacificadas, sem saneamento, com caixa d"�gua furada por troca de tiros.
O LADO DE L�
Alice descobriu esse mundo h� 12 anos, quando viajou quatro meses pela �sia com uma amiga. Antes de irem, as duas passaram sete meses conhecendo o que de social existia "do lado de l�".
Li��o de casa pronta, seguiram jornada para, al�m de se deslumbrarem com o outro lado da Terra, cumprirem a tarefa de pesquisar tr�s temas: sa�de, gera��o de renda e educa��o.
Em Bangladesh, aprenderam sobre microcr�dito. Embarcaram numa viagem de �nibus que levava computadores para aulas de inform�tica no interior da �ndia.
"Nunca mais seria a mesma", conta Alice, ainda com um ar de perplexidade de ter sa�do viva de uma jornada repleta de contornos ins�litos, com amea�a at� de estupro.
Depois do regresso, trabalhou na ONG AfroReggae. Mas a garota classe m�dia de Nova Friburgo (RJ), que fez interc�mbio na Tail�ndia aos 15 anos, queria pilotar seu pr�prio neg�cio. E � da rua General Glic�rio, uma das mais apraz�veis de toda a capital fluminense, sede da Asta, que Alice se conecta com produtores e compradores.
Para fazerem parte da rede, os grupos precisam ter mais de tr�s pessoas trabalhando, estar em lugar de baixa renda e, � claro, ter um produto "vend�vel". A Asta n�o forma as equipes. Suas designers orientam, palpitam, sugerem, ajudam a criar e fornecem insumo.
"N�o � para comprar para ajudar porque � coitadinho, pobrezinho", explica Alice. "N�o! � porque o babado � bacana, tem design e ainda vai mobilizar a cadeia de produ��o do bem. � um artesanato de sobreviv�ncia."
Quatro vezes ao ano, a Asta distribui cerca de mil cat�logos para a venda porta a porta. A comercializa��o tamb�m � feita pelo site www.redeasta.com.br.
Hoje o foco est� na produ��o de brindes sociais ecol�gicos para empresas, que fornecem insumos para que as artes�s trabalhem na cria��o. Banners viram bolsas, restos de jornal se transformam em porta-canetas.
"A inova��o � dar um destino para aquilo que seria descartado. � a transforma��o do res�duo", diz a analista de com�rcio exterior Rachel Schettino, 36, amiga de Alice e cofundadora da Asta.
Num mercado de vibra��es t�o inst�veis, a racional e focada Rachel admira a persist�ncia da amiga e s�cia. "Ela n�o desiste", diz. "A Alice � como um bal�ozinho. Eu? Sou o barbante que a prende, que a puxa para Terra."
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Conhe�a mais sobre a Rede Asta
Na �ltima d�cada, o Brasil teve um forte crescimento econ�mico e hoje � a sexta maior economia do mundo. Essa evolu��o tirou milhares de brasileiros da pobreza e levou 35 milh�es deles � condi��o de classe C. Apesar do progresso, n�o se pode dizer que ele se deu na mesma propor��o para as mulheres.
No Brasil, enquanto homens brancos com rendimento ganham, em m�dia R$ 1.797, mulheres negras ganham R$ 691. Isso significa que homens brancos ganham quase duas vezes mais do que mulheres negras. Enquanto homens brancos ganham o dobro do que as mulheres em geral, mulheres negras, pardas e ind�genas ganham quase a metade do que as mulheres brancas.
O trabalho da empreendedora social � altamente inovador. Com�rcio justo, consumo respons�vel, gera��o de renda e empoderamento da mulher s�o quest�es focais para in�meras organiza��es de impacto em todo o mundo, por�m a Asta atua de forma �nica, por meio de iniciativas diferenciadas --destacam-se a venda direta (porta a porta) como canal de inclus�o social e econ�mica e a elabora��o de brindes de log�stica reversa para empresas.
Esse perfil inovador da organiza��o � em grande parte influenciado espelho da candidata, que demonstra forte inconformismo com a realidade e a busca incessante por transforma��o e potencializa��o das pessoas ao seu redor.
A empreendedora social foi pioneira ao criar a primeira rede de venda direta de produtos inclusivos no pa�s --e possivelmente no mundo-- de que se sabe. No canal de vendas corporativas, um dos focos atuais, criou um modelo tamb�m pioneiro de presta��o de servi�os na transforma��o de descarte de res�duos inserv�veis em produtos de alto valor agregado, o que a diferencia de organiza��es que produzem brindes sustent�veis de uma forma geral.
Apesar de se destacar pelo pioneirismo de seu trabalho, o tipo de inova��o mais relevante da Asta �, sem d�vida, metodol�gico.
O modelo de atua��o que construiu empiricamente inova ao atuar em todas as etapas da cadeia de valor do neg�cio. Ainda n�o provou sua efetividade, dado, sobretudo, ao tempo relativamente curto de sua exist�ncia ante a um impacto almejado de transforma��o social que s� pode ser verificado no longo prazo. Entretanto, a organiza��o encontra-se atualmente em um ponto de maturidade em que j� testou diversos m�todos de interven��o, adquiriu experi�ncia e, dada a coer�ncia de suas a��es, vislumbra grande potencial de crescimento sustent�vel, com impacto real e efetivo.
Em uma ponta, criou uma rede de grupos produtivos que n�o s� passam a ter acesso a mercado com os itens que produzem, mas tamb�m fortalecem-se em termos de capacidade empreendedora, gest�o e autoestima, principalmente no caso de mulherese de baixo poder aquisitivo. Transversal a toda essa cadeia, o consumo respons�vel e o com�rcio justo. Em vez de cadeia, ali�s, faz sentido cham�-la de ciclo de valor agregado.
Extra�do e adaptado de "Workshop Accenture", enviado para avalia��o
Em rela��o aos canais, a venda porta a porta foi em um primeiro momento um dos grandes diferenciais da Asta, at� hoje a �nica a investir nesse modelo no pa�s. A comercializa��o de produtos � feita por meio do contato direto com o consumidor, dispensando a necessidade de um ponto-de-venda permanente e conferindo um car�ter de pessoalidade fundamental para a transmiss�o dos conceitos de com�rcio justo e consumo respons�vel, em um mercado em que o �nico e o customizado s�o diferenciais competitivos.
J� no segmento corporativo, a vantagem competitiva se d� pelo posicionamento diferenciado, em que n�o se coloca como "vendedores de brindes sustent�veis", mas sim como prestador de servi�os de consultoria para transformar o problema de descarte de res�duos inserv�veis em produtos com design e qualidade, a serem distribu�dos aos stakeholders.
N�o h� ind�cios de pontos fracos ou amea�as que coloquem em risco a continuidade do trabalho da Asta.
A empreendedora social trabalha com diversos canais de vendas, al�m de ter capilaridade entre os grupos produtivos, revendedoras e parceiros, sem depend�ncia de nenhum ator-chave em espec�fico.
Segundo dados informados pela organiza��o, a Asta vem aumentando consistentemente seu faturamento anual ao longo de sua exist�ncia (crescimento de 243% de 2009 a 2012). Nesse per�odo, vem testando de forma cautelosa diversas estrat�gias e modelos de neg�cio, corrigindo erros e aprimorando os canais de vendas, de forma a vislumbrar forte crescimento sustent�vel para os pr�ximos anos. O investimento no canal corporativo deve se tornar o carro-chefe nessa trajet�ria.
Durante a visita de avalia��o, na semana em que a Asta teve um pico de vendas ocasionada por uma reportagem no canal Globo News, verificou-se alto grau de organiza��o e capacidade operacional ociosa, o que abre espa�o a esse crescimento a baixo custo ao menos no curto prazo.
O relacionamento em geral com colaboradores, parceiros, patrocinadores e benefici�rios � aberto, acess�vel e transparente, com canais eficientes de comunica��o e/ou presta��o de contas regulares. Trata-se de importante aspecto para sua vantagem competitiva, por seu perfil multistakeholder.
Sobrecarregada e sem assistentes diretos, quando o relacionamento depende diretamente da empreendedora social, no entanto, pode demandar tempo maior de espera.
N�o existe uma avalia��o sistematizada de desempenho da organiza��o para esse p�blico relacional mais amplo nem tampouco a aplica��o de ferramentas de CRM (gest�o de relacionamento com os clientes).
As informa��es referentes a parcerias financeiras e clientes corporativos n�o apresentam consist�ncia entre os documentos enviados para an�lise, pois as entradas aconteceram em etapas e em diferentes anos fiscais, impedindo a classifica��o por ordem de import�ncia. O que se pode depreender, em linhas gerais, � que os principais patrocinadores de projetos ou clientes corporativos em 2013 s�o: Instituto Coca-Cola; IAF (Inter-American Foundation); Caixa Econ�mica Federal; L"Occitane; Tetra Pak; Ipiranga; Accenture.
O or�amento anual de 2013 � estimado em R$ 1.743.000.
Considerando que a Asta atua em diversas frentes de causas (com�rcio justo, consumo respons�vel, gera��o de trabalho e renda etc.) com diferentes stakeholders, espera-se um impacto de grande amplitude e profundidade comprovada no longo prazo.
Na tabela a seguir, traduzida, atualizada e adaptada de estudo elaborado pela consultoria francesa Plan�te d"Entrepreneurs em 2011, pode-se verificar o mapa do impacto social da Asta em suas m�ltiplas extens�es.
De acordo com a empreendedora social, os benefici�rios (integrantes dos grupos produtivos) apresentam o seguinte perfil:
- Cerca de 90% s�o mulheres, cat�licas ou evang�licas, com primeiro grau incompleto;
- 37% delas s�o chefes de sua fam�lia, e 71% dos grupos produtivos s�o compostos apenas por mulheres;
- A renda obtida com o trabalho dos grupos � vari�vel, mas vai de R$ 100 a R$ 2.000/m�s por artes�o;
- 54% das artes�s dizem que h� rotatividade de pessoas, principalmente no in�cio do grupo, por receberem proposta de sal�rio ou remunera��o fixa em subempregos;
- 50% dos artes�os t�m naturalidade nordestina;
- 71% est�o na faixa de 31 a 60 anos;
- Em rela��o � qualidade de vida, a m�dia de pessoas que moram com os artes�os � de 4,05;
- A sa�de � considerada razo�vel;
- 100% t�m acesso a posto de sa�de e hospital;
- 90% t�m coleta de lixo regular (por empresa ou por agentes comunit�rios);
- 32% t�m renda familiar entre um e dois sal�rios m�nimos;
- A renda do artesanato ajuda principalmente a pagar contas de luz, g�s e telefone e, em segundo lugar, alimenta��o;
- 76% dos grupos localizam-se na Regi�o Metropolitana do Rio de Janeiro e o restante em outras cidades do Estado (Araruama, Nova Friburgo, Natividade, Porci�ncula e Itagua�) ou em outros Estados da federa��o (Pernambuco, Goi�s, Par�, Minas Gerais, S�o Paulo, Para�ba e Sergipe). Todos ficam em regi�es de baixo poder aquisitivo.
Diretamente, foram beneficiadas, desde a funda��o, mais de mil pessoas.
Pesquisa realizada pela pr�pria Asta com os artes�os apontou que, em m�dia, cada produtor vive com mais 4,05 pessoas na mesma casa. Seus benefici�rios indiretos levam em conta esse fator de multiplica��o, uma vez que a renda gerada na maior parte das vezes beneficia a fam�lia como um todo. Atualmente, s�o 2.506 familiares de artes�os beneficiados.
Com sede no Rio de Janeiro e representa��o em S�o Paulo, trabalha com grupos produtivos principalmente na Regi�o Metropolitana do Rio e em outras cidades fluminenses como Araruama, Nova Friburgo, Natividade, Porci�ncula e Itagua�. Tamb�m atua em outros setef Estados: Goi�s, Minas Gerais, Par�, Pernambuco, S�o Paulo, Para�ba e Sergipe.
N�o houve ou h� escolha do coordenada do local de atua��o por estrat�gia, a exce��o da representa��o em S�o Paulo, devido a seu potencial de mercado. Em geral, ela se d� de forma org�nica, por demanda de parceiros (como o trabalho em Bel�m com o Instituto Coca-Cola); pela prospec��o ainda aleat�ria de clientes da Asta para Empresas, no projeto Ciclo; pela procura ativa e passiva de grupos produtivos e de revendedores.
A candidata vislumbra a expans�o em formato similar ao de franquia social.
"Precisamos vender em m�dia R$ 230 mil por m�s para chegar ao ponto de equil�brio. Para isso precisamos tornar a marca mais conhecida no mercado, sendo proativos na comunica��o. Com esse faturamento, sustentaremos toda a estrutura da Rede Asta. Quando as replica��es se iniciarem, os custos para as redes regionais ser�o muito mais baixos, j� que a Asta Rio ir� oferecer um pacote de ferramentas prontas para que as "subsidi�rias" n�o precisem ter custos altos com suas administra��es", planeja Alice.
Segundo ela, a expans�o se dar� por parcerias com organiza��es que realizam apoio a grupos produtivos locais ou estimulem as produ��es artesanais. "Levaremos nossa metodologia de sele��o e capacita��o de grupos produtivos. em especial a de cria��o de cole��es altamente vend�veis. Tais grupos ser�o inclu�dos em nossos canais de venda para que consigam se sustentar com facilidade e ganhar experi�ncia com produ��es constantes at� que se sintam aptos para atuarem em outros mercados." Outro vetor de extens�o ser� o site, com potencial de atingir p�blicos em todo o mundo dentro da divulga��o do conceito de consumo respons�vel.
Escalabilidade do impacto � desejo da candidata para o m�dio prazo.
Como os m�todos de seu trabalho foram desenvolvidos e formatados a partir de testes emp�ricos, a replica��o dever� ser centralizada na Asta Rio e acompanhar� a capacidade operacional da equipe.
N�o h� impacto direto em pol�ticas p�blicas. "Todos os poucos setores do governo que trabalham com fomento a produ��o artesanal s�o incipientes em recursos humanos e financeiros, n�o entendem o alto potencial existente em nosso pa�s e realizam a��es pontuais. Todas as vezes que tentamos nos aproximar oferecendo apoio n�o conseguimos continuar o contato", justifica.
� tamb�m uma quest�o de foco, de acordo com o est�gio em que se encontra: sendo um neg�cio social na �rea do com�rcio, aprimorar as ferramentas e modelos para um impacto direto superior torna-se primordial.
Entretanto, o trabalho em parceria com o poder p�blico ou �rg�os de fomento ao empreendedorismo e a participa��o ativa em conselhos e consultas p�blicas podem, sim, se tornarem mais relevantes para um resultado mais efetivo nos eixos tem�ticos em que atua, incluindo economia solid�ria, com�rcio justo, empoderamento da mulher, inclus�o social e pobreza, microempreendedorismo, neg�cios sociais e consumo respons�vel.
A Asta tem como vis�o "fazer do consumo uma ferramenta de inclus�o".
A equipe de avalia��o n�o teve acesso a planejamento estrat�gico ou plano de a��o formal, embora haja um mapa estrat�gico desenhado pela Accenture em 2011 e o relat�rio de linha de base da Zigla (2012), com orienta��es para o futuro. Durante a visita � organiza��o, por�m, n�o faltaram men��es a planos de mudan�as concretas, o que reflete bem o perfil pragm�tico com forte senso de urg�ncia da candidata. Entre eles:
- gerenciar os novos rumos da organiza��o, cujas vendas corporativas j� representam 58% do total, contra 18% do porta a porta, at� ent�o seu carro-chefe (e canal preferido da candidata em termos conceituais e ideol�gicos;
- errar as atividades do showroom em S�o Paulo para que a representante possa direcionar esfor�os nas vendas corporativas;
- passar a mapear os res�duos de empresas de forma proativa, prospectando mais oportunidades nesse setor;
- implementar as estrat�gias de branding realizadas pela designer Ana Couto, em que migra da imagem de organiza��o social sem fins lucrativos para a de neg�cio social (e refor�a o nome Rede Asta em vez de Asta);
- mudar o sistema de remunera��o das revendedoras (chamadas internamente de conselheiras), diminuindo a comiss�o das vendas diretas de 22% para 10%, sob argumento de que o percentual n�o � diferencial para elas, mas, sim, para manter a estrutura da Asta;
- diminuir a periodicidade de distribui��o dos cat�logos de quatro vezes ao ano para duas, intercalando com microcole��es a serem divulgadas por e-mail marketing e l�minas impressas mensalmente;
- potencializar as vendas no canal e-commerce, hoje respons�vel por apenas 8% das vendas;
- um plano distante � criar a Escola de Artes�os para capacit�-los em design e t�cnicas de produ��o, visando aumentar o valor agregado de seus produtos -e, consequentemente, a renda auferida.
A Asta trabalha com quatro canais de vendas (porta a porta, e-commerce, loja/showroom e empresas), cujo percentual de faturamento se distribui da seguinte forma:
Venda direta
Foi escolhida inicialmente como canal de vendas principal por oferecer um car�ter de pessoalidade que permite mostrar as hist�rias de vida por tr�s de cada produto. O cat�logo � a principal ferramenta nesse canal e funciona n�o s� para a venda, mas para informar, falando sobre cada um dos grupos e seus produtos, t�cnicas artesanais, mat�ria-prima usada, com�rcio justo e dicas de consumo consciente. Tamb�m contribui para gerar visibilidade aos grupos: 3.000 exemplares distribu�dos a revendedoras a cada esta��o, ou seja, quatro vezes ao ano.
Uma vantagem desse modelo � que oferece receitas mais est�veis. Contudo, traz altos custos log�sticos e de estoque, com baixa margem, raz�o pela qual vem perdendo espa�o para as vendas corporativas, ainda que permane�a como o canal s�mbolo da Rede Asta.
Asta para Empresas Essa estrat�gia de vendas � baseada em brindes corporativos feitos por artes�os que reciclam materiais de produ��o da cadeia de valor das pr�prias empresas. O modelo tem custos mais baixos de estoque e log�stica, al�m de criar um mecanismo de gera��o de renda mais elevado, por�m ainda tem retorno inst�vel para os grupos produtivos. As vendas ficam a cargo da cofundadora da Asta Rachel Schettino, ex-executiva de multinacional com forte tino comercial.
S�o tr�s tipos de atua��o de acordo com as demandas de cada empresa:
1) projeto Ciclo
Para empresas interessadas em criar projetos de gera��o de renda moblizando pequenos neg�cios locais em seus entornos usando os pr�prios res�duos como mat�ria-prima. A organiza��o identifica e treina grupos em todo Brasil, monta uma cole��o de produtos personalizados com os res�duos em parceria com designers, coleta e trata os res�duos da empresa, coordena as produ��es dos grupos e entrega as pe�as criadas para a empresa.
Exemplos:
- com 30 mil m2 de lonas vin�licas usadas nos antigos postos Texaco das regi�es Norte, Nordeste e Centro-Oeste, rec�m-adquiridos, a Ipiranga contratou a Asta para produzir, com tr�s grupos produtivos selecionados e treinados, 30 mil pe�as criadas por designers;
- para reutilizar placas e pastilhas produzidas a partir das embalagens recicladas, a TetraPak contratou a Asta a fim de apoiar a cria��o de produtos e a capacita��o dos atendidos da ONG Avape (inclus�o profissional de deficientes), em S�o Paulo, parceira da empresa, que obteve renda com a venda dos artigos;
2) projeto Upcycling
Para empresas interessadas em transformar seus res�duos em brindes corporativos. O papel da Asta � coletar os res�duos da empresa, montar produtos para serem aprovados como brindes, produzir com grupos produtivos integrantes da Rede Asta e entregar os produtos finais na empresa, que paga apenas por esses produtos.
Exemplos:
- para a Oi, os artes�os da Asta reutilizaram banners, capas de poltronas e uniformes descartados pela empresa e n�o poderiam ser jogados fora por quest�es de seguran�a, j� que o material continha seu logotipo, gerando R$ 13 mil em renda para 20 costureiras, mil uniformes, 1.800 metros de banner e 700 capas de poltrona reaproveitadas;
- para a Lafarge, os grupos produtivos reaproveitaram sacos de cimento que eram perdidos no transporte (ao empilhar no caminh�o os sacos estouravam) para a cria��o de bolsas, sacolas e cases de laptop, gerando R$ 2.500 mil em renda para cinco pessoas, mil sacos de cimento reaproveitados e mil pe�as produzidas.
3) produtos sustent�veis
Para empresas interessadas em comprar produtos diferentes que mobilizem uma cadeia produtiva do bem. � a forma tradicionalmente mais encontrada no setor (e por isso menos priorit�ria), em que se oferecem produtos feitos com diversos materiais que podem ou n�o ser reaproveitados ou reciclados, sempre produzidos por grupos produtivos integrantes da Rede Asta.
E-commerce
Canal de vendas pela web. Divididas em categorias, as pe�as desenvolvidas pelos grupos produtivos s�o apresentadas com fotos, pre�os e o material utilizado em sua fabrica��o. Busca simplificar e agilizar o processo de compra e o consumidor recebe em casa os itens selecionados. Atualmente atende exclusivamente ao mercado brasileiro, mas existem planos para uma expans�o internacional at� o final deste ano.
Loja e showroom
A Asta tem uma loja no bairro de Laranjeiras, na zona sul do Rio de Janeiro, onde se localiza um dos escrit�rios, e uma representa��o comercial em S�o Paulo, em Moema, tamb�m na zona sul.
A loja serve de vitrine para mostrar os produtos, com foco em visibilidade e constru��o de marca.
Inicialmente n�o era um canal relevante de vendas, por�m, com a mudan�a para o local atual, em uma rua mais acess�vel, responde por 12% das vendas atuais e tornou-se um modelo a ser testado pela empreendedora social no crescimento da organiza��o.
DEPOIMENTOS
RITA COUTO, 60L�der do grupo de artes�s Meninas Prendadas, de Ramos, Rio, uma das fornecedoras da Rede Asta
"Moro num sobrado com vista para o telef�rico do Alem�o, mas s� uso a parte t�rrea.
Os quatro c�modos, al�m do quintal, vivem cheios de gente. � uma esp�cie de botequim, um espa�o de terapia e trabalho, onde gargalhadas se misturam a lamentos, embaralhados pelo barulho constante das nossas m�quinas de costura.
Aqui, desde junho de 2010, funciona a sede da Meninas Prendadas, grupo que re�ne 12 artes�s, de 45 a 75 anos, casadas, separadas e vi�vas, que, al�m de retalhos, utilizam revistas e jornais em suas cria��es. Dino e Dina que seguram portas s�o alguns dos produtos criados para o cat�logo da Asta. S�o 50 pe�as por m�s, fora o que a gente vende nas feiras no Rio.
Aqui, entra quem quer e sai quem deseja. Uma regra � fundamental: n�o se pode falar de quem n�o est� presente e tem que gostar de falar muita abobrinha.
Com um olho, supervisiono a confec��o. Tem gente que sabe costurar, bordar, fazer croch�. Com o outro, o entra e sai das meninas. Aprendi a ter paci�ncia e sabedoria para ouvir: tem dias que a gente se re�ne s� para desabafar.
Depois que elas v�o embora, vasculho a internet atr�s de refer�ncias, t�cnicas de cria��o e modelos para aprimorar o artesanato. No dia seguinte, parte da cria��o tem o meu dedo. Adoro dar palpite.
E olha que tudo isso eu fa�o sentada numa cadeira de rodas. Um m�s depois de completar 18 anos, cai de um p� de abacate. O m�dico disse que eu iria vegetar pelo resto da vida numa cama. E olha eu aqui. Mas gosto mesmo � de falar de coisas boas.
Comando essas meninas com muito carinho...no chicote e na chibata.
O trabalho com a Asta mudou nossa vida, nos deu um novo direcionamento, um interesse em criar, produzir coisas novas. A Asta nos renovou!"
Frases sobre a empreendedora social e seu trabalho
"Nasci e fui criada para ser e viver submissa ao meu marido. O trabalho me mostrou que eu posso mais. Eu era uma mulher que precisava levantar o dedo para falar.
"Agora, com o meu trabalho, vejo que meus filhos percebem que a m�e deles est� tentando mudar a nossa vida. Ele � a minha aposta para eu conseguir juntar o dinheiro que preciso para comprar uma casa aqui na comunidade. Se n�o fossem as meninas da Asta para mostrar que, sim, o meu trabalho vale a pena, eu me sentiria eternamente frustrada. � o artesanato que me levanta. A Asta me ajudou a n�o me transformar numa dona de casa, me ajudou a n�o parar no tempo. E, foi gra�as ao meu trabalho, que eu consegui, pela primeira vez, comemorar o anivers�rio da minha filha de 18 anos. E num rod�zio de pizza."
ANA LUCIA DA SILVA FRANCO, 39
m�e de 3 filhos, artes� do Grupo Fuxicarte, da Favela do Sossego (zona norte do Rio)
"Ela [Alice] n�o desiste. N�o tem medo de arriscar. � como um bal�ozinho. Eu sou o barbante que a prende, que a puxa para Terra."
RACHEL SCHETTINO, 36 s�cia-fundadora da Asta
"A Alice tem a maturidade de endurecer sem perder a ternura. Mas nossa milit�ncia ocorre em espa�os diferentes. Por um tempo, pretendo ficar do lado negro da for�a, porque preciso dar sustentabilidade em casa."
FAUSTO ROG�RIO AMADIGI, 34
marido de Alice, coordenador de sustentabilidade da Sete Brasil
"Uma pessoa que joga lixo na rua tem consci�ncia de sustentabilidade? Ainda � algo novo. [Os produtos do cat�logo] s�o um trabalho de artista, exclusivos, que agradam todas as classes sociais."
MARCO REIS, 53
jornalista e consultor da Asta