Programador para a inclus�o
A partir das pr�prias dificuldades, soci�logo desenvolve tecnologia social para sinalizar o caminho da inser��o dos deficientes visuais
"Andar no escuro � assustador -no come�o", diz Fernando Botelho, 42, que perdeu totalmente a vis�o ainda na adolesc�ncia. Mas a defici�ncia n�o o impediu de ter uma trajet�ria ascendente.
Formado em sociologia na Universidade Cornell (EUA) e com mestrado em rela��es internacionais na Universidade de Georgetown (EUA), ele foi consultor da Unctad, ag�ncia das Na��es Unidas em Genebra, e � fluente em ingl�s e espanhol.
"'� o pr�mio da educa��o p�blica brasileira', diz vencedora do Empreendedor Social 2012"
"Sergio Petrilli ganha Escolha do Leitor com 42% dos votos"
Seu passaporte tamb�m impressiona -j� morou nos EUA, na Argentina, no Chile, na Espanha, na Fran�a, nas ilhas Cayman e na Su��a.
At� se estabelecer em Curitiba, h� cinco anos, com Fl�via de Paula, sua mulher, nunca tinha vivido al�m de quatro anos em uma cidade.
Seu problema de vis�o come�ou aos quatro anos, quando a m�e percebeu que ele tinha dificuldades para encontrar os brinquedos, mas o diagn�stico de retinose pigmentar s� foi dado aos nove.
Para reverter o quadro da doen�a, sua fam�lia recorreu at� a tratamentos experimentais no exterior. A cura n�o veio, mas, com o apoio dos pais, Fernando teve acesso a equipamentos de ponta que amenizaram os danos causados pela falta de vis�o.
COMPETITIVO
Foi ent�o que decidiu estudar sozinho nos EUA. Queria "ser competitivo em uma �rea que n�o tivesse a ver com cegueira para ser reconhecido como profissional, n�o como cego profissional".
Estudou pesado, ficou popular, foi disputado para dan�ar no baile de formatura e ainda hoje tem contato com os amigos da universidade. Tudo isso para mostrar que n�o era "o ceguinho".
Essa briga contra o estere�tipo do deficiente fez ele se expor a todo tipo de situa��o e lhe rendeu muitos casos saborosos e lembran�as dif�ceis. Em 2001, quando morava em Nova York, estava s� na rua, perto do World Trade Center, no dia 11 de setembro mais sombrio da hist�ria.
Sua descri��o do atentado, por�m, � diferente daquela a que estamos acostumados: ele diz que sentia pisar em cinzas e em pap�is nas ruas, que havia um sil�ncio incomum e um cheiro fort�ssimo de queimado.
MEDOS
Fernando � obstinado naquilo que tra�a como meta. Teimoso e sonhador, parece n�o ter medo de nada. Ali�s, de quase nada: nos anos em que viveu no exterior, tudo o que mais temia era ter de voltar a morar no Brasil.
"Eu sabia que tinha potencial, mas que n�o teria tantas chances aqui, na �poca. Voltar para ficar revelando filme em quarto escuro ou fazendo vassoura?"
O medo se transformou em oportunidade quando o casal resolveu encarar nova mudan�a em 2007.
Fernando concluiu que sua atividade na Su��a n�o o recompensava mais emocionalmente e que era hora de vir para o Brasil. "Eu tinha a percep��o de que os cegos poderiam se desenvolver se tivessem tecnologia. O problema era o pre�o da tecnologia."
Da� veio o F123, um sistema voltado para os deficientes visuais que utiliza software livre, custa menos do que os oferecidos pela concorr�ncia e ainda possibilita aos programadores a chance de melhorar o produto.
"Vi que, se me concentrasse na �rea da cegueira, poderia fazer a diferen�a. E isso por minha experi�ncia anterior, minha forma��o. Descobri que n�o tinha mais vergonha, que n�o estava diminu�do por trabalhar nessa �rea."
FASE DOS POR QU�S
Com o nascimento do projeto, ele atraiu para o campo da acessibilidade a mulher, com quem divide h� 14 anos variadas experi�ncias nas andan�as pelo mundo e hoje, tamb�m, o escrit�rio: ele � a parte desenvolvedora, idealizadora. Ela, dentista, atualmente conduz toda a parte administrativa do neg�cio.
Pelo que ambos dizem, n�o � ruim conviver por tanto tempo: "A gente n�o briga e aprendeu a confiar um no outro", afirma Fl�via.
A irm�, Ana Botelho, destaca entre as caracter�sticas do empreendedor "sua incans�vel vontade de aprender mais em tudo e a incr�vel teimosia de n�o desistir frente a uma nega��o ou obst�culo". O pai, Jos� Botelho, costuma dizer que o filho "n�o saiu da fase dos por qu�s".
Os amigos o definem como algu�m especial. "Ele � altamente empreendedor e, ao mesmo tempo, dotado de consci�ncia social", afirma Lukas St�ckling, com quem trabalhou na Su��a e que hoje � conselheiro do projeto F123.
Fernando conta que sempre teve duas obsess�es: provar ao mundo do que � capaz e ser �til a esse mesmo mundo. Porque andar no escuro, afinal de contas, � s� uma forma diferente de andar.
Assista
Conhe�a mais sobre a F123
Dados do �ltimo Censo, realizado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica), em 2010, mostram que a defici�ncia visual � a que mais atinge os brasileiros (23,9%), seguida pela defici�ncia f�sica/motora (7%) e pela auditiva (5,1%).
Cerca de 6,5 milh�es de pessoas afirmam ter problemas de baixa vis�o, e mais de 506 mil declararam que s�o cegas. Esses n�meros correspondem a aproximadamente 3,5% da popula��o brasileira.
Em �mbito mundial, a OMS (Organiza��o Mundial da Sa�de) estima que existam 180 milh�es de deficientes visuais, dentre os quais 45 milh�es s�o cegos e o restante do grupo apresenta algum tipo de vis�o subnormal (nome t�cnico dado a baixa vis�o).
A maioria dos casos de cegueira ocorre nos pa�ses subdesenvolvidos ou em desenvolvimento. A previs�o � que o n�mero de casos suba para 75 milh�es em 2020, caso n�o sejam tomadas medidas preventivas adequadas.
A OMS tamb�m mostra que o custo econ�mico da cegueira decorrente da incapacidade da maior parte desse grupo em exercer atividades e servi�os para a sociedade � estimado em US$ 28 bilh�es por ano, levando em conta o desperd�cio de recursos e investimentos n�o realizados.
No tocante a educa��o, os dados s�o preocupantes. Voltando ao censo de 2010, a taxa de alfabetiza��o de pessoas de 15 anos ou mais entre as que t�m defici�ncia � de 81,7%, menor do que na popula��o total da mesma faixa et�ria, que � de 90,6%.
O maior desn�vel est� no grau de escolaridade: 61,1% da popula��o com 15 anos ou mais com defici�ncia n�o t�m instru��o ou t�m apenas o fundamental incompleto. Esse porcentual cai 38,2% para as pessoas sem defici�ncia.
A baixa escolaridade � um dos principais entraves na inclus�o no mercado de trabalho de profissionais com qualquer tipo de defici�ncia.
Ainda de acordo com o censo, dos 44 milh�es de deficientes que est�o em idade ativa, 53,8% est�o desocupados ou fora do mercado. A popula��o que est� no mercado de trabalho com pelo menos uma defici�ncia representava 23,6% (20,3 milh�es) do total de ocupados (86,3 milh�es) -apenas 40,2% deles possuem carteira de trabalho assinada.
De acordo com pesquisa realizada pelo site I.Social, empresa especializada em inclus�o de deficientes no mercado, apesar do avan�o significativo com a Lei de Cotas 8.213/91, as empresas preferem contratar pessoas com defici�ncias "mais leves", sendo a ordem de prefer�ncia: defici�ncia f�sica (71%), defici�ncia auditiva (20,3%), visual (7,3%), m�ltipla (0,9%) e intelectual (0,5%).
Na avalia��o de especialistas, o problema se agrava no caso dos deficientes visuais. A percep��o de empregadores de que os cegos n�o s�o capazes de usar equipamentos eficientemente e a necessidade de investir em instala��es especiais -que significam alto custo- s�o entraves, conforme pesquisa da OIT (Organiza��o Mundial do Trabalho).
� nesse campo que o F123 pode trazer importante contribui��o para governos, empresas e Terceiro Setor, democratizando o acesso � tecnologia para deficientes visuais, quebrando o ciclo de depend�ncia e vulnerabilidade. O programa mais vendido comercialmente custa, no m�nimo, 12 vezes mais. Apenas o leitor de tela (que transforma os textos em �udio) chega a custar tr�s vezes o valor de um computador convencional.
A facilidade do uso do programa F123, que inclui todo o sistema operacional, aplicativos e tecnologias assistidas (leitor de tela e teclado virtual) para navegar na internet, mandar e-mails e trabalhar em documentos e planilhas eletr�nicas, al�m da portabilidade em pendrives, agrega mais valor ao potencial transformador da iniciativa.
O candidato � o primeiro a criar e investir em um software de baixo custo para deficientes visuais no mundo. At� ent�o, n�o existia um produto voltado ao atendimento desse p�blico de forma semelhante e com forte impacto social. A inova��o proposta n�o � incremental, mas significativa e radical (acarreta mudan�a de paradigmas), por romper barreiras do mercado ao optar por fazer o processo de cria��o e desenvolvimento em plataformas livres, como o Linux, e investir no aperfei�oamento de programas j� existentes para que as solu��es tecnol�gicas encontradas possam atender n�o s� as necessidades dos usu�rios-alvos do F123 mas de toda a comunidade.
O candidato � franco ao afirmar que n�o est� "inventando a roda". Seu diferencial est� em utilizar e aperfei�oar o que j� est� dispon�vel no mundo do softwares livres, mas descobrindo, unindo e adequando esses programas � realidade dos que t�m defici�ncia visual. Por isso a inova��o do F123 se d� por dois caminhos: produto e processos.
Produto
- O software F123 vem pronto para o usu�rio final com os seguintes programas, em vers�es semelhantes ao Windows e ao MS-Office: LibreOffice (documentos), planilha eletr�nica e apresenta��o, navegador Firefox, cliente de e-mail Thunderbird, mensageiro instant�neo Pidgin -que se comunica com redes como MSN, Skype, Google Talk, Yahoo, Facebook e Twitter;
- Apresenta f�cil instala��o e usabilidade, mesmo para o iniciante em inform�tica. Conta com todos os manuais explicativos dentro do F123. S�o utilizados os melhores softwares em cada categoria;/
- � personalizado conforme o perfil e a necessidade do usu�rio -como escolha do idioma, vers�o de leitor de texto, tipo de voz eletr�nica etc.-, o que possibilita a produ��o de quase 200 vers�es do mesmo produto;
- O programa � port�til em pendrive e pode ser usado em qualquer lugar. Essa op��o � importante para quem n�o tem um computador pr�prio ou para empresas, uma vez que o usu�rio pode conect�-lo ao computador durante o per�odo de uso, sem necessidade de instala��o;
- Nova vers�o, lan�ada em setembro passado, vem com programa de monitoramento de c�pias, o que permitir� rastrear o n�mero de usu�rios.
Processos
- Disponibiliza o programa e o conte�do de capacita��o no software livre no Creative Commons, o que permite a distribui��o por outras entidades e independ�ncia da iniciativa;
- Por usar as plataformas Linux, o custo ficou extremamente reduzido em compara��o aos similares. O valor por unidade do produto � de R$ 350, enquanto o principal software dessa categoria � vendido a R$ 4.500 (aproximadamente 12 vezes mais);/
- Como as vendas est�o voltadas para empresas, o volume e a escala s�o maiores e, consequentemente, h� redu��o do pre�o do programa -que chegou a ser comercializado a US$ 20 por licen�a;
Disponibilidade de investir financeiramente em programas parceiros para obter produtos de melhor qualidade. Exemplo: no Ezoom (ampliador de tela), o F123 colocou US$ 5.000 para aperfei�oamento do produto; no projeto Orca (leitor de tela), injetou US$ 5.000 no ano passado e mais US$ 15 mil recentemente. N�o s�o os �nicos investidores: governos e outros benefici�rios tamb�m d�o apoio financeiro a essas iniciativas;
Diferentemente de uma empresa convencional, o objetivo da F123 � ter impacto social e n�o reconhecimento de autoria da cria��o.
O tempo todo o candidato busca o aprimoramento dos processos e da produ��o
- Empreendedor social com alto n�vel de forma��o acad�mica/profissional;
- Por ser cego, conhece a fundo a quest�o da exclus�o do deficiente visual no que tange a tecnologia;
- Perfeccionista e experimentador de novos formatos e plataformas, busca sempre o melhor modelo para o usu�rio final do produto;
Conhecimento profundo de redes de software livre e do Creative Commons.
Ainda demonstra fragilidade, uma vez que a venda do produto e das licen�as, principalmente para entidades e para ONGs, ainda n�o se comprovou uma fonte de renda segura. Sofre com a instabilidade financeira, apesar de ter duas boas fontes de recursos (Ashoka e Medicor Foundation) nos pr�ximos dois anos. Outro ponto � a tecnologia estar exposta nas redes livres, o que pode ocasionar um produto concorrente e derrubar a venda. Contudo, n�o h� produto similar na faixa de pre�os em que atua e pode ser escalonado rapidamente, aumentando o impacto.
O relacionamento com colaboradores, parceiros, patrocinadores e benefici�rios se d�, sobretudo, na plataforma virtual, principalmente por e-mail e em redes segmentadas. Houve contato direto com governos e ministros em alguns pa�ses da Am�rica Latina em visitas proporcionadas ap�s o pr�mio do BID (Banco de Desenvolvimento Interamericano).
Apresenta parcerias com desenvolvedores de softwares livres e ONGs, por�m em quantidade ainda restrita e pouco estruturada em termos qualitativos.
O candidato � membro da Ashoka e recebe uma bolsa mensal dessa rede de empreendedores sociais. Passou pelo processo de acelera��o da Artemisia, mas o trabalho n�o teve continuidade. Desde 2006, participa de um grupo colaborativo internacional de discuss�es de softwares livres, por meio do qual replica sua atua��o.
Or�amento anual (2012): R$ 195.000
Patrocinadores (por ordem de investimento): Medicor Foundation; Ashoka.
O produto criado pela empresa do empreendedor tem capacidade de influenciar a inclus�o digital e no mercado de trabalho de um grande n�mero de deficientes visuais no Brasil e no mundo.
N�o h� um estudo do perfil do usu�rio do F123 -nem planos para obt�-lo-, ainda que seja relevante para qualquer empresa conhecer seu p�blico-alvo. Em princ�pio, s�o pessoas com baixa vis�o e cegos. O empreendedor social atende a todas as classes sociais, mas com foco priorit�rio em crian�as e jovens sem acesso � inform�tica.
Segundo informa��es do candidato, s�o mais de 700 pessoas beneficiadas diretamente, levando em conta as mais de 600 c�pias distribu�das do F123 a indiv�duos, funda��es e ONGs, al�m da capacita��o direta de ao menos 74 pessoas. N�o existe, entretanto, um controle efetivo sobre o n�mero de benefici�rios.
Por observa��o, os primeiros beneficiados indiretos s�o familiares e amigos dos usu�rios. O F123 aumenta a autonomia do indiv�duo e a intera��o com outros deficientes, que est�o dispersos e isolados -a internet possibilita maior aproxima��o entre eles.
As ONGs comp�em o segundo grupo de benefici�rios indiretos, j� que podem atender melhor esse p�blico.
Por �ltimo est�o as empresas, que passam a ter acesso a um software de baixo custo que facilita a inclus�o de cegos no seu quadro de colaboradores. Contudo, o candidato relata haver preconceito e resist�ncia das empresas ao uso do dispositivo, devido � quest�o da seguran�a do sistema interno.
Por se tratar de um software, o programa chegou a outros Estados e pa�ses em diferentes formas: capacita��es, oficinas e usu�rios individuais.
O F123 est� sendo utilizado em tr�s Estados brasileiros -Esp�rito Santo, Rio Grande do Sul e Paran�- e em 22 pa�ses -Argentina, Brasil, Costa Rica, Equador, El Salvador, EUA, Fran�a, �ndia, Ir�, Irlanda, M�xico, Paquist�o, Peru, Qu�nia, Reino Unido, Sri Lanka, Su��a, Trindade e Tobago, Tun�sia, Uruguai, Z�mbia e Zimb�bue.
O casal escolheu viver em Curitiba por raz�es familiares e por ser uma capital importante com boa acessibilidade e qualidade de vida. O candidato ressalta que poderia estar em qualquer lugar trabalhando com o F123, j� que boa parte do desenvolvimento do software acontece no mundo virtual.
No Brasil, houve capacita��es no Esp�rito Santo, no Rio Grande do Sul e no Paran�. Internacionalmente, foram ministradas oficinas nos seguintes pa�ses: Argentina, Costa Rica, Equador, El Salvador, Peru e Uruguai. Nos dois �ltimos, h� parcerias regulares com institui��es locais. Em 2012, foram vendidas licen�as para a Z�mbia, na �frica, via concorr�ncia internacional.
A equipe est� desenvolvendo o conte�do e a infraestrutura tecnol�gica para lan�ar ainda em 2012 o sistema de ensino a dist�ncia, sem depender do deslocamento pessoal para fazer as capacita��es, e aumentar, dessa forma, o n�mero de usu�rios.
N�o existe produto semelhante no mercado que atenda a demanda de pessoas com defici�ncia visual a um custo t�o baixo, o que permite escal�-lo rapidamente em rela��o a outros modelos.
O F123, por si s�, � uma cole��o de softwares, e o desenvolvimento de cada um deles ocorre por diferentes grupos em diferentes partes do mundo. A coopera��o � feita por uma lista de e-mails, em que acontecem as discuss�es sobre o processo de desenvolvimento, e o c�digo-fonte � disponibilizado em sites especiais, como o GIThub. Isso permite que haja contribui��o m�tua para melhorar cada projeto envolvido.
Tamb�m a licen�a do F123 est� registrada no Creative Commons, que permite a c�pia e o compartilhamento com menos restri��es do que as licen�as tradicionais.
Por falta de recurso e tempo, ainda n�o existe um manual voltado a ONGs para integrar o F123 ao seu trabalho. � um dos pontos que a empresa pretende focar em breve. A sistematiza��o de formata��o do programa � dispon�vel para usu�rios especializados em inform�tica.
Dar acesso � tecnologia � a forma que Fernando Botelho escolheu para melhorar a vida dos deficientes visuais. Foi a partir de sua hist�ria pessoal que come�ou a prospectar um produto que contemplasse os d�ficits de forma��o pessoal e escolaridade desse p�blico, decorrentes da dificuldade de acesso a ferramentas adequadas para essas pessoas se equipararem �s sem defici�ncia.
Delineou como m�todo de atua��o unir-se a desenvolvedores dos melhores programas dispon�veis em software livre. Em uma via de m�o dupla, pensou, palpitou e investiu para chegar ao primeiro prot�tipo do F123, que usa a licen�a no Creative Commons para democratizar o conhecimento adquirido -um dos principais diferenciais de seu principal produto.
Tamb�m, ainda que de forma pouco estruturada, adotou a estrat�gia de crescimento combinando qualidade e baixo custo, ao diminuir drasticamente o pre�o de um software para deficientes.
Nesses primeiros passos como empresa, a despeito dos problemas decorrentes desse est�gio, demonstra sua preocupa��o em aumentar rapidamente o n�mero de usu�rios e causar forte impacto na vida deles. Por isso focou em crian�as e adolescentes para que tenham mais oportunidade de fugir do c�rculo vicioso e quebrar estigmas. O objetivo ainda n�o foi atingido -usu�rios mais velhos tornaram-se o perfil mais comum-, mas a experi�ncia at� ent�o tem ajudado a desenvolver o ensino a dist�ncia e o novo formato do curso de capacita��o a ser reaberto em 2013, com uma carga hor�ria mais condizente com as necessidades dos alunos.
Ensino presencial
Cursos de introdu��o ao F123, com dura��o de 80 horas, com oito a dez alunos por turma, oferecidos em ONGs. Foram realizados oito cursos de capacita��o em 2011, em duas ONGs em dois Estados, capacitando 74 pessoas. Atualmente est� em fase de reestrutura��o. Voltar� como foco principal da empresa em 2013 e passar� a ter carga hor�ria de 160 horas, com diminui��o do tamanho da turma de oito estudantes para quatro ou seis por sala, e separa��o entre iniciantes e pessoas que j� possuem habilidade com o computador. Ser�o 20 ONGs a serem selecionadas no Brasil para adotar a capacita��o.
Oficinas
S�o oferecidas para governos, ONGs e usu�rios que querem conhecer o programa e mostrar seu impacto ao ser adotado em pol�ticas p�blicas. A dura��o m�dia � de 5 horas assim divididas: 80% na explica��o do produto e seu impacto e os 20% finais com uma demonstra��o pr�tica.
Ensino a dist�ncia
Em fase de constru��o, deve ser lan�ado at� o final do ano, na previs�o do candidato. N�o h�, contudo, um detalhamento atual sobre o programa.
DEPOIMENTOS
"O cego de nascen�a n�o tem mem�ria do colibri, n�o sabe como � o sorriso. Mas v� pelas m�os, anda pela cidade inteira. Eu me sinto privilegiada por poder usar computador. Agora tenho perspectiva, posso escrever livros, fazer cursos. Sei das minhas limita��es, mas eu luto. E o F123 ajuda a ter essa independ�ncia."Luzinete Magaldi Johasen de Moura, 54, dona de casa que ficou cega h� nove anos devido a atrofia do nervo �tico e usu�rio do F123 h� um ano
"O deficiente visual � o mais exclu�do de todos, porque h� uma cultura de que a vis�o � indispens�vel, n�o acreditam na potencialidade da pessoa com defici�ncia. E tamb�m h� o problema da falta de tecnologia assistida. As empresas n�o t�m o costume de se adaptar �s pessoas com defici�ncia, apesar de ser f�cil essa adapta��o. Os cegos s�o exclu�dos mesmo quando t�m qualifica��o adequada. N�o havia um sistema simples, de f�cil utiliza��o, barato e que pudesse ficar com a pessoa. Tudo isso o F123 oferece. Percebemos que ele � mais adapt�vel a ferramentas que as pessoas utilizam nas empresas do que os outros sistemas, como o Jaws e o Virtual Vision, que t�m grandes limita��es. Para as empresas, cegos servem apenas para telemarketing, surdos s�o voltados para opera��o na f�brica, deficientes f�sicos t�m um estigma menor, e os deficientes intelectuais ficam no supermercado, nos servi�os. Deficiente � a sociedade, que n�o est� preparada para atender pessoas em condi��es diferentes."
Andr�a Moreira Castilho Koppe, 43, diretora da ONG Unilehu (Universidade Livre para Efici�ncia Humana)
"Fernando � inteligent�ssimo e uma pessoa com padr�es �ticos muito altos. O que ele conquistou, sendo cego, � inacredit�vel. Ele sempre se preocupou em ajudar as pessoas que t�m menos oportunidade do que ele. O F123 n�o � s� uma iniciativa caridosa bacana mas uma abordagem com um imenso potencial global. Na minha opini�o, o F123 vai transformar a quest�o da cegueira de defici�ncia em oportunidade."
Lukas St�cklin, 38, diretor da Invethos AG na Su��a e conselheiro do F123
"Eu sempre vi em meu irm�o um guerreiro, porque a cada entrave que a vida lhe jogava eu o via mais determinado a super�-lo, qualquer que fosse o obst�culo."
Ana Cristina Fedrigo Botelho, 38, tradutora e irm� de Fernando