Senhor da paz
Ao enfrentar uma turbul�ncia fort�ssima num voo entre Suriname e Brasil, o ind�gena Almir Narayamoga Suru�, 38, apelou para a prote��o de Siwagoti, esp�rito dos ventos fortes do seu povo. Solid�rio, lembrou-se ainda de pedir ajuda para um amigo que o acompanhava na viagem.
De volta � aldeia, contou a hist�ria ao pai, Marimop. Todo orgulhoso, relatou que na hora do desespero n�o se esqueceu do companheiro. Em tupi-mond�, l�ngua dos suru�s, o pai de Almir perguntou: "E por que voc� n�o pediu ajuda para o avi�o inteiro?".
O epis�dio ilustra bem o ensinamento que h� tempos guia a luta de Almir na preserva��o da floresta - e de sua gente. "Meu pai me ensinou que n�o basta lutar s� por mim, por minha fam�lia, tem que ser pelo povo todo", conta, emocionado.
Eleito chefe-maior do povo suru�, o ind�gena est� � frente da Metareil� (significa "lugar de organizar"), associa��o que defende os direitos de um povo que vive em conflitos constantes com madeireiros da regi�o. Por combater a venda ilegal de madeira, o l�der suru� sofre constantemente amea�a de morte.
Os suru�s vivem em 25 aldeias espalhadas pela Terra Sete de Setembro, demarcada numa �rea de 248 mil hectares. Depois de quase ter sido dizimada por uma epidemia de gripe ap�s o contato, em 1969, a popula��o baixou de cerca de 5.000 a pouco menos de 300.
Hoje calculam 1.350 suru�s. "Somos sobreviventes", diz Almir, com os olhos mareados ao lembrar que os mortos daqueles anos n�o foram enterrados.
Menino ainda, Almir deixou a aldeia e foi estudar na cidade. O pai dizia que o filho estava "ca�ando para o povo". "Continuo ca�ando", emenda o guerreiro com voz suave, sem levantar o tom de voz.
Aos 17 anos, ele j� despontava como uma jovem lideran�a ind�gena suru�. N�o tardou a entrar na milit�ncia ambiental. Entre ambientalistas, encarou forte preconceito: os suru�s eram chamados de "�ndios madeireiros".
A rela��o entre madeireiros e suru�s tem origem nos anos 1980, d�cada em que conquistaram a demarca��o de seu territ�rio. "Na �poca, os suru�s foram em busca de uma pol�tica de sustentabilidade, e a Funai falou que a gente tinha terra muito rica, podia tirar madeira", conta.
Sua primeira miss�o era justamente romper com esse pacto do passado. Tinha que convencer os suru�s envolvidos com a venda ilegal de madeira de que era preciso valorizar a floresta em p� - ou cuidar da terra, como diziam os velhos da aldeia, insatisfeitos com o desmatamento no territ�rio
Na guerra da conscientiza��o ambiental, encontrou a etnoambientalista Ivaneide Bandeira Cardozo - Neidinha. Logo se apaixonou pela militante veterana. "Ela � minha mulher e parceira, na tranquilidade e na guerra", diz Almir, que � tamb�m casado com outra branca, seguindo a tradi��o de poligamia de seu povo.
Ci�ncia e tradi��o
Em 1999, o jovem l�der ind�gena desenvolve o plano de gest�o do territ�rio suru�. Nada de planejar para quatro ou cinco anos, tempo que diz s� servir para o ciclo eleitoral da sociedade n�o ind�gena. Para projetar o futuro de seu povo, o planejamento suru� atinge cinco d�cadas.
Aliado a Kanind�, uma das ousadias do plano � unir o conhecimento cient�fico dos pesquisadores com a sabedoria tradicional dos suru�s, criando uma nova metodologia. Surge o primeiro plano de gest�o de um territ�rio ind�gena, que tem hoje o projeto do Carbono Suru�.
Nem as armas high-tech foram dispensadas na luta do l�der ind�gena. Em 2007, em viagem pela Calif�rnia (EUA), conseguiu uma reuni�o com a empresa Google Earth. Mas tinha s� 30 minutos para falar (e ser traduzido). Parecia uma batalha vencida.
O ind�gena n�o desprezou o tempo diminuto, desatou a contar sobre a hist�ria de seu povo e o plano de gest�o do territ�rio suru�. O encontro, ent�o agendado para durar meia hora, rendeu quatro horas de conversa. No dia seguinte, o jornal New York Times publicava reportagem sobre a parceria da empresa com o povo suru
Com a repercuss�o, a saga dos suru�s ganhou o mundo. Almir visitou 33 pa�ses, encontrou outras lideran�as internacionais, como o pr�ncipe Charles e Bill Clinton. Por onde passa, perguntam sobre a parceria com o Google. "Mas, antes de falar disso, falo sobre a hist�ria e a luta de meu povo."
Chamado de segundo Chico Mendes pela revista Smithsonian, Almir rebate o r�tulo rapidamente, sem perder a calma: "N�o quero ser Chico Mendes, n�o, ainda mais morto", diz enquanto � observado ao longe por guardas da For�a Nacional, que o escoltaram durante os dias de visita da reportagem, per�odo em que as amea�as contra os suru�s ficaram acirradas.
Com voz suave e sorriso f�cil, Almir conta que n�o deixa de dizer o que pensa. Certa vez, num encontro que reunia ind�genas e a sociedade envolvente, um branco disse: "Esses aqui s�o os meus �ndios". Almir n�o deixou por menos e sem alterar a voz retrucou: "Vou ent�o apresentar meus brancos, est�o todos patenteados".
Uma das palavras que o guardi�o da floresta mais usa ao narrar sua trajet�ria � luta (guerra ou batalha). Mas, assim como define sua parceira, Neidinha, � o "senhor da paz", que tem como principal estrat�gia o di�logo. Ou, como coloca o pr�prio Almir, a sua guerra � de consci�ncia.
Senhora da guerra
Filha de seringueiros acreanos, a etnoambientalista Ivaneide Bandeira Cardozo, 53, cresceu na floresta amaz�nica com os vest�gios dos �ndios uru-eu-wau-wau, at� ent�o isolados. Ouvia seus assobios, via suas pegadas.
At� hoje Neidinha, como � conhecida entre ambientalistas, segue os passos dessa e de outras etnias em Rond�nia, onde coordena a Kanind� - Associa��o de Defesa Etnoambiental, que atua com plano de gest�o ambiental em terras ind�genas.
Na inf�ncia na mata, onde cutia, macaco e paca eram seus amigos e brinquedos, aprendeu a ler em revistas como "Manchete" e em livros de bangue-bangue, que chegavam por l� vez ou outra, desembarcando num avi�o.
Nessas leituras, ficava intrigada com hist�rias em que "os �ndios, os donos da terra, s� se davam mal". "Pensava: Um dia vou mudar essa hist�ria, n�o � poss�vel ser assim. Sabia que os �ndios n�o faziam nada pra gente", conta Neidinha, que, na universidade, graduou-se em hist�ria
Quando os pais decidiram rumar para Porto Velho para que as filhas pudessem estudar, Neidinha sentiu como � que �ndio isolado se sente quando chega na cidade. S� conhecia barco e avi�o. Quando viu um carro pela primeira vez, saiu correndo assustada. "Ao sair da mata, acabou minha liberdade", lembra.
Na escola, logo se juntou ao grupo de teatro. Ao encenar uma pe�a que falava da migra��o em Rond�nia, n�o teve d�vida qual personagem queria ser: o �ndio. "Mas n�o queria ser o �ndio que morria no final, n�o."
A juventude foi marcada pela arte e pela milit�ncia. Aos 18 anos, sobrevoou a capital de Rond�nia numa avi�o providenciado por amigos ricos para jogar versos na cabe�a dos moradores. Ainda hoje sua gera��o se recorda desse dia.
Tamb�m ia para a pra�a s�, com placas em protesto contra o desmatamento na Amaz�nia. "Era a maluca sozinha na pra�a", conta, sempre bem-humorada, lembrando de seu estilo "hiponga".
Nesse per�odo, em 1981, os uru-eu-wau-wau foram contatados pela Funai. L� estavam de novo os �ndios que rondaram sua inf�ncia bem pertinho de sua casa, localizada em frente � sede da institui��o.
"Quando olho para os uru-eu ali na cidade, me sinto como um deles", conta. "Hoje eu j� estou toda misturada, j� n�o sei mais o que sou, perdi a identidade", completa, refletindo sobre sua trajet�ria marcada pelo trabalho com diversas etnias, como parintintin, gavi�o, arara e, principalmente, suru�.
Mochileira e militante
Depois de vivenciar epis�dios de confronto e den�ncia, numa mineradora, na pr�pria Funai e numa ONG em que atua, decide que o caminho � reunir sua turma numa organiza��o independente.
� quando cria em 1992 a Kanind�, cujo nome significa arara-vermelha para o povo uru-eu-wau-wau, que tamb�m tinha um importante guerreiro batizado com esse nome.
No in�cio dos anos 90, o escrit�rio da Kanind� cabia na mochila da empreendedora. A mo�a magricela, de cabelos compridos e pouca roupa andava dias pela mata com um mochil�o nas costas. Vivia cheirando a fuma�a.
�s vezes, saia em expedi��o floresta adentro vestida com uniforme de pol�cia (heran�a dos tempos em que atuou na corpora��o e foi expulsa depois de denunciar colegas por corrup��o). Era para apreender os madeireiros que amea�am o territ�rio do povo uru-eu-wau-wau. "Prendia os caras e chamava a pol�cia", conta rindo. Foi na milit�ncia ambiental que conheceu Almir Suru�, lideran�a ind�gena com quem diz ter se casado n�o uma, mas tr�s vezes em cerim�nias tradicionais como o Mapima� (comemora��o que celebra a cria��o do mundo).
O encontro da dupla foi marcado por brigas e diverg�ncias no jeito de encarar a "luta" na defesa da floresta. "Eu vinha do front, do enfrentamento; o Almir, do di�logo. Uma vez, numa palestra, eu disse: "Aqui est�o o Senhor da Paz e a Senhora da Guerra"."
Na guerra contra o desmatamento, ela j� foi alvo de tiros -escapou. N�o desiste. "Filho de seringueiro luta desde que nasce", explica.
Confessa, no entanto, temer pela prote��o do Almir quando o cerco aperta, como ocorre nos �ltimos meses. "Tenho medo, mas tamb�m tenho certeza de que vamos vencer. A cren�a � maior que o medo", dispara.
Foi com o Senhor da Paz que Neidinha descobriu a maternidade, um sonho que parecia imposs�vel, j� que m�dicos consultados em casamentos anteriores diziam para ela desistir da ideia de engravidar.
Para os suru�s, mulher que n�o tem filhos n�o tem valor. Weitag Suru�, m�e de Almir, tratou a nora na tradi��o de seu povo. Nove meses depois, nascia a primeira filha do casal e, depois, a ca�ula.
Transgressora assumida, Neidinha fala abertamente de seu casamento bem incomum para a sociedade branca. Seguindo a tradi��o de poligamia de seu povo, Almir � casado com duas mulheres n�o �ndias.
"Nessa hist�ria toda, a hero�na � a Adelaine [a outra mulher de Almir]. Eu e Almir n�o somos f�ceis, a gente acorda e dorme com as quest�es ambientais e ind�genas. � ela quem segura as pontas e tem o p� no ch�o", diz, sobre a parceria a tr�s.
A fala diz muito da etnoambientalista, que desde menina sonha em mudar a hist�ria, valorizando os verdadeiros her�is.
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Dados divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica) em 2012 na Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Ensino) apontam que havia em 2011 53,8 milh�es de estudantes de quatro anos ou mais de idade, 61% dos quais no n�vel fundamental de ensino. Desses 32 milh�es de alunos cursando da primeira � nona s�rie, a maioria --27,9 milh�es-- frequenta escolas p�blicas.
Outro aspecto fundamental para a educa��o, em especial o desenvolvimento da leitura, � o acesso a equipamentos culturais. A regi�o Norte � a menos equipada, e o Estado de Mato Grosso n�o fica muito atr�s.
O estudo Retratos da Leitura, realizado pelo Instituto Pr�-Livro e publicado em 2011, aponta a regi�o Norte como aquela onde menos se l� no pa�s. Segundo o Inaf 2011 (Indicador de Analfabetismo Funcional), h� uma presen�a maior de analfabetos funcionais, aqueles que conseguem minimamente decodificar pequenos textos escritos, mas n�o desenvolveu a habilidade de interpret�-los, na �rea rural (44%) do que na �rea urbana (24%), sendo que o �ndice para as regi�es Norte e Centro-Oeste (32%) fica acima da m�dia nacional (27%).
Diante desse cen�rio, atuando na regi�o Norte, no Estado de Mato Grosso e S�o Paulo, a Vaga Lume desponta como mobilizadora do acesso � leitura e ao conhecimento tanto por meio de sua tecnologia social, fortalecendo la�os comunit�rios em torno de bibliotecas bem equipadas e mediadores capacitados, quanto pelo seu modelo de educa��o para a sustentabilidade, enfrentando, assim, todos os desafios aqui descritos.
O perfil de inova��o da Vaga Lume � sutil e moderado, menos expl�cito que em muitas organiza��es de impacto social, e est� ligado � forma como atua no n�vel microssocial, com vistas a gerar uma transforma��o local e regional.
A estabilidade de seus dois �nicos programas --o Expedi��o, de cria��o e gest�o de bibliotecas, que deu origem � organiza��o, e o Rede, de interc�mbio cultural juvenil-- demonstra a escolha clara da candidata por aprimorar continuamente sua tecnologia social, tornando-a cada vez mais eficiente e efetiva, em vez de se lan�ar a novas frentes de projetos, produtos e servi�os.
Essa cultura em si pode ser considerada um vetor de inova��o, em um contexto em que inova��o tornou-se o carro-chefe de marketing social, em resposta �s demandas do mercado. S�o, portanto, inova��es incrementais e em boa parte das vezes end�genas --a partir das iniciativas e do olhar de seu p�blico-alvo, leitores e volunt�rios da regi�o amaz�nica.
O pioneirismo da candidata se d� em sentido estrito, ao desbravar locais de atua��o em que ningu�m mais atua ou quer atuar, com grandes barreiras log�sticas e longe dos principais centros de decis�o do pa�s.
N�o h� ind�cios de pontos fracos ou amea�as que coloquem em risco a continuidade do trabalho da Vaga Lume. A empreendedora social j� passou por momentos bastante cr�ticos, como a sa�da em 2006 das duas outras cofundadoras da organiza��o, que eram respons�veis pela gest�o e articula��o de parcerias, �reas que n�o dominava --e que at� hoje esmera-se para cobrir. Em 2010, o encerramento abrupto de uma parceria com uma empresa varejista teve impacto profundo nas contas, com sucessivos d�ficits que quase zeraram as reservas, amortecido e estabilizado apenas neste ano. Transformou ambas as ocasi�es em "aprendizado", sem jamais cogitar o encerramento das atividades.
A Vaga Lume tem buscado sua sustentabilidade pela diversifica��o de suas fontes de recursos. Os esfor�os est�o concentrados na estrutura��o de um modelo de capta��o de recursos que tenha como um de seus pilares a amplia��o do n�mero de contribuintes pessoas f�sicas e pequenas/m�dias empresas, garantindo assim a exist�ncia de recursos suficientes para as �reas administrativas da organiza��o.
Al�m disso, a Vaga Lume vem nos �ltimos anos desenvolvendo projetos personalizados para empresas e organiza��es governamentais e ONGs na sua �rea de expertise. Fez em 2012 uma curadoria de acervo de livros para organiza��es apoiadas pela Funda��o Andr� Maggi; desenvolveu metodologia para forma��o de comunidades em uso racional de energia el�trica em �reas rurais da Amaz�nia para a Guascor e foi respons�vel pela sele��o de acervo e referencial te�rico da campanha Ita� Crian�a 2011.
Em 2013, os principais patrocinadores financeiros da Vaga Lume s�o: Dresser-Rand Guascor, sua mantenedora s�nior desde 2006 e parceira desde 2004; Machado Meyer Sendacz e Opice Advogados, parceiro desde 2012 que atualmente tem a chancela de patrocinador regional; Banco Paulista, que iniciou sua parceria em 2013, tamb�m com a chancela de patrocinador regional.
O or�amento para 2013 � de R$ 1.600.000 (estimado).
Alta, se considerada as comunidades em que atua na Amaz�nia. Trata-se de um trabalho que vem sendo realizado de maneira consistente, cont�nua e aprofundada ao longo de mais de uma d�cada de exist�ncia.
"O impacto � claro. Houve aumento do Ideb [�ndice de Desenvolvimento da Educa��o B�sica, um indicador criado pelo governo federal para medir a qualidade do ensino nas escolas p�blicas] em rela��o ao per�odo anterior [� sua chegada] e tamb�m em compara��o com as comunidades que n�o t�m biblioteca. [A Vaga Lume] causa um despertar para a leitura, mais livre, espont�neo, com mais prazer em ler. H� melhoria na linguagem e no interesse por ler", atesta a chefe da unidade de Educa��o Infantil da Secretaria Estadual do Amap�, V�nia Mary Viegas Souto, 49.
Diretamente, de acordo com a empreendedora social, o programa Rede beneficiou 37 mil alunos de comunidades rurais da Amaz�nia e da cidade de S�o Paulo envolvidos; j� o Expedi��o, por meio de suas bibliotecas em 23 munic�pios da Amaz�nia, beneficiou um total de 194 mil pessoas, afora os 2.396 volunt�rios formados como mediadores de leitura e os 347 volunt�rios formados para replicar a metodologia Vaga Lume.
Programa Expedi��o
Est� em 163 comunidades rurais de 23 munic�pios dos nove Estados das regi�es Norte, Nordeste e Centro-Oeste que comp�em a Amaz�nia legal brasileira. Os munic�pios s�o Cruzeiro do Sul (AC), Barcelos (AM), Carauari (AM), S�o Gabriel da Cachoeira (AM), Tef� (AM), Uarini (AM), Macap� (AP), Barreirinhas (MA), Guimar�es (MA), Mirinzal (MA), Campin�polis (MT), Chapada dos Guimar�es (MT), Bel�m (PA), Breves (PA), Castanhal (PA), Oriximin� (PA), Portel (PA), Santar�m (PA), Soure (PA), Ouro Preto do Oeste (RO), Caracara� (RR), Pacaraima (RR) e Ponte Alta do Tocantins (TO).
Programa Rede
O interc�mbio cultural se d� entre educadores, adolescentes, escolas e ONGs da cidade de S�o Paulo e da Amaz�nia, em dez munic�pios. S�o eles: Castanhal (PA), Ponte Alta do Tocantins (TO), Pacaraima (RR), Barreirinhas (MA), Tef� (AM), Uarini (AM), Carauari (AM), Chapada dos Guimar�es (MT), Santar�m (PA) e Ouro Preto do Oeste (RO).
A escalabilidade do impacto � desejo da candidata para o m�dio prazo
A organiza��o j� foi procurada para compartilhar seus m�todos, por exemplo, em uma ONG em Fortaleza. Segundo a candidata, o maior obst�culo � que a metodologia, para ter um impacto real relevante, tem de ser trabalhada a longo prazo, o que esbarra na capacidade operacional da equipe. "N�o replicamos nosso trabalho se n�o tivermos certeza de que ele ser� continuado com qualidade e seriedade ap�s nossa sa�da", destaca Sylvia.
Esse indicador pode aumentar por meio da parceria com outras organiza��es que atuem diretamente em seus eixos tem�ticos e o trabalho com pol�ticas p�blicas em escala nacional, em programas do Minist�rio da Educa��o.
Um retrato do empoderamento dos volunt�rios da Vaga Lume � seu envolvimento com as quest�es pol�ticas de seus munic�pios em tem�ticas relacionadas ao trabalho desenvolvido com a organiza��o. Nas elei��es municipais de 2012, sete volunt�rios da Vaga Lume foram candidatos a vereador, defendendo a promo��o da leitura e da cultura local, o engajamento da popula��o como volunt�rios e a melhoria da qualidade da educa��o. Dois deles foram eleitos.
Ressalte-se que a Vaga Lume n�o possui liga��o com partidos pol�ticos. Os volunt�rios candidataram-se representando partidos com os quais tinham mais afinidade pol�tica, sem interfer�ncia da organiza��o.
A estrat�gia adotada pela Vaga Lume, nas palavras da candidata, � o investimento em forma��o educacional e na valoriza��o da cultura local na regi�o amaz�nica utilizando o livro, a leitura e a oralidade como ferramentas de interc�mbio cultural. A forma��o parte da ideia de que, para as crian�as serem cuidadas e atendidas em suas necessidades, � preciso cuidar e atender os adultos que as educam.
J� o interc�mbio cria v�nculos (adultos/crian�as, escolas/comunidades e adolescentes de diversas regi�es), oferecendo um espa�o difuso de colabora��o e aprendizado que empodera pessoas para que cuidem do planeta. O ideal embutido nisso � que as pessoas possam, a partir de propostas educacionais afetivas, elevar sua autoestima, resultando em autodesenvolvimento.
Esse interc�mbio possibilita a amplia��o dos horizontes de cada um dos volunt�rios que trabalham na ponta -ao conhecerem o novo, passam a conhecer melhor a si mesmos e aprendem sobre outras culturas, enquanto ensinam sobre as suas pr�prias.
A organiza��o se v� como mediadora do processo de mudan�a que vem sendo implementado na Amaz�nia Legal brasileira. Mediar, para a Vaga Lume, � aprender e educar, construir pontes para o di�logo e dar oportunidade para o protagonismo de pessoas. Ao colocar essas comunidades rurais no centro das transforma��es espera, um dia, tornar-se desnecess�ria.
A candidata desenvolveu m�todo pr�prio de interven��o a partir de tr�s pilares: teoria, apoio t�cnico e empirismo.
Programa Expedi��o
Est� em 163 comunidades rurais de 23 munic�pios dos nove Estados das regi�es Norte, Nordeste e Centro-Oeste que comp�em a Amaz�nia legal brasileira. Os munic�pios s�o Cruzeiro do Sul (AC), Barcelos (AM), Carauari (AM), S�o Gabriel da Cachoeira (AM), Tef� (AM), Uarini (AM), Macap� (AP), Barreirinhas (MA), Guimar�es (MA), Mirinzal (MA), Campin�polis (MT), Chapada dos Guimar�es (MT), Bel�m (PA), Breves (PA), Castanhal (PA), Oriximin� (PA), Portel (PA), Santar�m (PA), Soure (PA), Ouro Preto do Oeste (RO), Caracara� (RR), Pacaraima (RR) e Ponte Alta do Tocantins (TO).
Programa Rede
Com forte influ�ncia do pedagogo polon�s Janusz Korczak, � uma rede de educadores, adolescentes, escolas e ONGs da cidade de S�o Paulo e de escolas de comunidades da Amaz�nia legal brasileira mediada pela Vaga Lume.
Trata-se de uma iniciativa de Educa��o para o Desenvolvimento Sustent�vel realizada por meio de um interc�mbio cultural a partir do tema "N�s e nosso meio ambiente", que tem como objetivo geral contribuir para a amplia��o do olhar de adolescentes da cidade de S�o Paulo e de comunidades da Amaz�nia Legal para a complexidade da realidade brasileira, suas diversas culturas e rela��es com o ambiente.
O programa contribui com projetos pedag�gicos das institui��es participantes ao formar os educadores para que medeiem as oficinas com os adolescentes.
O p�blico � composto por jovens de 11 a 13 anos, por monitores de 14 a 16 anos de turmas que j� participaram do programa e pelos pr�prios educadores de S�o Paulo e da Amaz�nia.
As oficinas s�o encontros semanais, extracurriculares, organizados pelos educadores nas escolas e institui��es parceiras.
Em S�o Paulo, participam tanto col�gios de elite, como o Vera Cruz e o Oswald de Andrade, como ONGs da periferia, como Gotas de Flor com Amor e o Anchieta.
DEPOIMENTOS
M�RCIO ROBERTO SOUSA PEREIRAprofessor da escola da comunidade Tracajatuba, em Macap� (AP), e mediador da Vaga Lume
"Quando o projeto veio para a comunidade, por volta de 2009, nosso d�ficit de leitura era grande. E a quantidade de livros na escola era pequeno. O acervo que veio da Vaga Lume, na primeira vez, j� chamava a aten��o, as crian�as gostaram demais e vieram para a biblioteca. No come�o, a biblioteca funcionava na escola, depois foi para a casa de uma moradora, da Jucirana, mas era aberto, n�o tinha telhado, e, na �poca da chuva, n�o dava para fazer as media��es de leitura. Trocamos de novo de lugar, fomos para a sede comunit�ria, que tamb�m era usada para reuni�es e n�o era um lugar adequado tamb�m.
Em 2011, conseguimos um recurso de R$ 500 para fazer uma biblioteca na comunidade. S� que o dinheiro n�o era suficiente para construir o espa�o. Ent�o convidamos todo mundo para construir a biblioteca. V�rias pessoas colaboraram: tinha gente que doava a pedra para fazer a funda��o, outros areia e tinta, teve at� gente que doou duas telhas. Quando a gente estava construindo, as pessoas passavam e perguntavam: "O que � isso? Quem est� pagando?". Eu explicava que � a biblioteca da comunidade e que todo mundo estava contribuindo, podia ser at� com uma pedrinha.
Teve quem pregou duas ou tr�s t�buas dessa a�.
No primeiro m�s que abrimos, tivemos mil empr�stimos de livros. � tarde, por volta das quatro, fica uma sombra imensa aqui na porta. A gente estica as esteiras, espalha os livros e as crian�as v�m ler.
E a gente leva tamb�m os livros para outras comunidades, faz media��es de leitura. A maior parte dos idosos � analfabeta, e as crian�as leem para eles. A gente pega as caixinhas e umas bolsas e anda por a�. Escolhe uma casa para fazer a media��o de leitura.
O mais bonito � ver as pessoas chorando. A gente chora junto. Eles mandam todo dia o filho para a escola. Mas, quando o filho chega em casa e est� lendo um livro assim, � dif�cil segurar, � muito emocionante.
Os livros s�o uma janela para o mundo. Aqui eles enxergam o mundo."
Frases sobre a empreendedora social e seu trabalho
"Aqui � uma comunidade que surge pela luta pela terra. Quando a Vaga Lume chega � para somar, para valorizar a cultura e a identidade. Na �poca, a escola era num barrac�o da fazenda. Havia muitas crian�as analfabetas. A leitura como transforma��o social come�a a�, as crian�as come�am a ter acesso aos livros. Hoje, n�o temos nenhuma crian�a analfabeta. Elas emprestam o livro e gostam de ler. A Sylvia � uma profissional que traz um cunho muito humano, tem um diferencial dia nte de muitos esquisadores que v�m aqui conhecer a comunidade: ela vive a nossa vida e, mesmo longe, est� com a gente"
SILVIA EMANUELLI SANTOS ALMEIDA, 35, multiplicadora da Vaga Lume no Assentamento Jo�o Batista 2, em Castanhal (PA)
"Ser mediadora � saber se doar para as crian�as e os adultos, para a comunidade, na hora da leitura. Gostando de ler, consigo passar esse gosto para as outras pessoas. � um orgulho grande inaugurar hoje essa biblioteca"
ALICE PALMERIM DO VALE, 39,
mediadora da Vaga Lume, atua na comunidade Campina de S�o Benedito, de Macap� (AP)
"Quando conheci essa comunidade [Campina de S�o Benedito], ela tinha seis casas. � incr�vel ver hoje a inaugura��o dessa biblioteca. O que a Vaga Lume faz � dar um empurr�o"
ADENOR DE SOUZA, 58, educador, agricultor e multiplicador e mediador da Vaga Lume na comunidade Campina de S�o Benedito, de Macap� (AP)
"Quando chegou a Vaga Lume aqui, eu tinha uns 11 anos. Eu e as outras crian�as t�nhamos pouco acesso a livros de hist�rias, foi muito bom e comecei a gostar de ler. Adoro ler as lendas. Virei mediador de leitura em 2009. Hoje, queremos fazer livros aqui para contar a hist�ria da comunidade e da biblioteca"
MARINHO FERREIRA, 20,
estudante de pedagogia e multiplicador e respons�vel pela biblioteca da Vaga Lume na comunidade Campina de S�o Benedito, de Macap� (AP)
"A gente j� fez muito trabalho com os alunos da Escola Alecrim, de S�o Paulo. Mandamos um v�deo mostrando nossa escola e dizendo que aqui tem muitas �rvores e igarap�s. Eles tamb�m mandaram trabalho pra gente mostrando como � S�o Paulo, eu nunca estive l�"
MARIA VIT�RIA AZEVEDO DE LIMA, 11,
a comunidade de Cupi�ba, de Castanhal (PA), que participa do Programa Rede.
"Somos amigas do [col�gio] Santa Cruz, onde fizemos o ensino m�dio. Foi a Sylvia quem me levou para setor social, atuei no projeto Anchieta com ela. A gente sempre compartilhou valores, como um forte senso de justi�a. Ela foi estudar hist�ria, e eu, direito, acabei atuando na �rea de direitos humanos. Ela sempre foi uma l�der nata, �tima contadora de hist�ria, uma intelig�ncia e cultura acima da m�dia, � de puro brilhantismo. � muito criativa, d� n� em pingo d"�gua. E � tamb�m uma menina muito sens�vel e intuitiva, sempre tem insights interessantes sobre as pessoas e o mundo. Ela � extremamente exigente. Tem um o perfil do empreendedor social, assim como meu pai [H�lio Mattar], que parece querer carregar o mundo nas costas"
LAURA DAVIS MATTAR, 35,
coordenadora de desenvolvimento institucional da Associa��o Vaga Lume