Conex�es morro-asfalto
L�der comunit�rio d� voz a moradores de favelas cariocas por meio de uma das maiores ONGs do pa�s
Nos anos 80, depois de um m�s juntando dinheiro, um menino de 12 anos vai comer seu primeiro hamb�rguer no McDonald's com um amigo.
No retorno para casa, brincam de chutar portas. Um alarme dispara e surgem policiais por todos os lados. Assustado com o som dos tiros, o menino para de correr.
O amigo foge, mas, vendo o outro apanhar da pol�cia, volta. "Ele disse que fez isso porque �ramos amigos. Eu disse que n�o teria voltado, e ele falou que essa era a nossa diferen�a." Desde ent�o, o menino, agora crescido, mudou de atitude. "At� hoje eu volto por todo mundo."
� dif�cil dissociar Jos� Junior, 42, do AfroReggae, projeto cultural, art�stico e social que teve in�cio h� 17 anos. Nascido em Ramos, sub�rbio do Rio, Junior mudou para a Lapa aos dez anos, com a m�e. "Meu pai bebia muito."
Cursou apenas o ensino fundamental e cresceu em um ambiente bo�mio, numa Lapa violenta, cen�rio de crimes e prostitui��o.
Ele diz nunca ter roubado, participado do tr�fico ou usado drogas. "Lembrava o que minha m�e passou com meu pai e n�o quis entrar nessa vida."
Ainda jovem, foi taxista e organizador de festas de funk e reggae. "Percebemos que faltava um ve�culo de comunica��o que falasse da cultura afro-brasileira e criamos o jornal 'AfroReggae'."
Depois da chacina de Vig�rio Geral, em 1993, o grupo passou a frequentar a favela. � �poca maior ponto do narcotr�fico no Brasil, o local era o epicentro do alto escal�o do Comando Vermelho. Nesse momento, o projeto ganhou outra dimens�o.
"O jornal levava informa��o, mas as pessoas queriam forma��o. O grupo virou uma luz no fim do t�nel para pessoas sem esperan�a."
Hoje, o empreendedor social � respeitado por traficantes, policiais, presidi�rios, empres�rios e artistas.
Espiritualizado, ele procura inspira��o na figura de Shiva, deus indiano que busca for�as na destrui��o para construir o novo e que representa o poder da transforma��o. Tamb�m cultua Ogum, Thor, Tutankamon, Jesus.
Rude, antip�tico, autorit�rio s�o algumas alcunhas que coleciona. L�der e exemplo para milhares de atendidos pelo projeto s�o outras.
"Se voc� procura o cara bonzinho, que fala bonitinho e � cheirosinho, n�o sou eu. Meto o p� na lama, n�o tenho medo de colocar a vida em risco para salvar outra."
Assista
Conhe�a mais sobre a Grupo Cultural AfroReggae
O AfroReggae � uma organiza��o pioneira e inovadora em v�rias frentes. Por exemplo, lan�ou a primeira banda de um projeto social a produzir seu primeiro disco com uma grande gravadora e foi respons�vel pela abertura da primeira ag�ncia mundial do banco Santander e da primeira loja de celulares da TIM em uma favela.
A principal inova��o, contudo, � o que seus diretores chamam de "tecnologia de relacionamento e de desenvolvimento", que consiste na transforma��o de pessoas exclu�das em protagonistas do grupo cultural, por meio da qual o empreendedor social consegue obter resultados concretos e efetivos.
A organiza��o criou um m�todo pessoal de gest�o que facilita seu relacionamento com grupos inimigos (fac��es criminosas, policiais, governantes e empres�rios), que passam a interagir entre eles afirmativamente. Na pr�tica, mediadores de conflitos (em geral, ex-traficantes e presidi�rios) salvam da morte pessoas juradas pelo tr�fico; policiais e ex-criminosos trabalham em conjunto para evitar a entrada de jovens no crime; crian�as propensas a todo tipo de viol�ncia mergulham no mundo das artes e come�am a visualizar um futuro antes amea�ado; presidi�rios deixam a cadeia com a chance de se ressocializarem por meio do emprego. Tudo isso amparada pelo apoio de grandes empresas privadas, �vidas pela abertura de nichos com as oportunidades de consumo da base da pir�mide, e do governo, que juntos garantem o financiamento do projeto.
O candidato atua de forma pioneira e eficaz onde poucos conseguem atuar (favelas, pres�dios e na periferia do Rio), colocando essas comunidades no centro do processo de desenvolvimento.
Com or�amento previsto em 2010 de R$ 14 milh�es (um crescimento de 233% em rela��o aos R$ 6 milh�es de 2009), o AfroReggae conta com quatro patrocinadores institucionais (Natura, Nestl�, Petrobras e Santander), que contribuem, cada um deles, com uma cota anual de patroc�nio (contrato renov�vel de um ano). A Coca-Cola negocia atualmente sua entrada nesse grupo.
At� o ano passado, a presta��o de servi�os (shows dos 14 grupos art�sticos, workshops, palestras, e oficinas) e a venda de produtos (CDs, livros, document�rios e roupas com a marca AfroReggae licenciada pela Hering desde 2008) respondiam por cerca de 30% da receita anual da entidade. Esse percentual deve cair para 10% neste ano, devido ao aumento acentuado das cotas de patroc�nio e n�o pela diminui��o dos servi�os prestados.
Atualmente, grande parte da atua��o estrat�gica (cria��o de projetos, capta��o de recursos, divulga��o na m�dia) est� concentrada no empreendedor social, de perfil fortemente centralizador. A recente abertura para a profissionaliza��o da gest�o, com a contrata��o de um executivo do mercado publicit�rio, por�m, aponta para a preocupa��o com o crescimento e com a continuidade de longo prazo do grupo cultural independentemente da proximidade de seu principal l�der.
Principais parceiros: Adidas, Banco Mundial, Domino's, Estapar, Endeavor, F/Nazca, Faetec (Funda��o de Apoio � Escola T�cnica), Funda��o Ford, Google, Governo do Estado de Minas Gerais, Governo do Estado do Rio de Janeiro, Hering, Ibmec, Ita� Social, Koni Store, Minist�rio da Cultura, Natura, Nestl�, Oi, Petrobras, Red Bull, Rede Globo, Santander, Spoleto e Universidade Candido Mendes.
Cerca de 1.300 jovens com idade a partir de sete anos s�o atendidos diretamente, segundo a gestora respons�vel pela �rea social do AfroReggae. Outras "estat�sticas" da organiza��o apontam para mais de 15 mil pessoas beneficiadas direta e indiretamente no Brasil e no exterior, mais de 10 mil atendidos diretamente na hist�ria do grupo e cerca de 4.000 benefici�rios anualmente nos 74 projetos realizados pelo grupo cultural. Haveria ainda de 1.000 a 1.150 posi��es preenchidas no mercado de trabalho por meio do projeto Empregabilidade sobretudo por ex-presidi�rios.
Esses n�meros n�o puderam ser comprovados pela organiza��o do pr�mio devido � falta de mensura��o e avalia��o qualitativa e quantitativa do trabalho efetuado. N�o h� um registro do n�mero de participantes por projeto, nem de seus perfis e de qu�o efetivas s�o as atividades.
Atualmente, a organiza��o passa por uma fase de profissionaliza��o da gest�o que indica que tal acompanhamento passar� a ser realizado paulatinamente. Ademais, pode-se afirmar da avalia��o in loco que o AfroReggae apresenta de fato um impacto transformador na vida de diversas pessoas antes exclu�das pela sociedade por meio da recupera��o da autoestima, da ressocializa��o, da educa��o, da arte, da cria��o de perspectivas e do est�mulo ao protagonismo.
Como balizador de sua atua��o, destaca-se a exist�ncia de 14 grupos art�sticos (quatro bandas, um bloco carnavalesco, uma trupe de teatro, outra de circo e uma orquestra, entre outros) e de mais de 250 funcion�rios a maioria oriunda de comunidades com alta vulnerabilidade social nos cinco n�cleos do Rio de Janeiro.
A experi�ncia surgiu na comunidade de Vig�rio Geral, na zona norte do Rio de Janeiro, e alcan�ou paulatinamente as comunidades de Cantagalo/Pav�o-Pav�ozinho, Complexo do Alem�o, Parada de Lucas e Nova Era (em Nova Igua�u). O principal foco de atua��o, portanto, se d� na capital fluminense. Um dos projetos, em parceria com a pol�cia mineira, acontece em Belo Horizonte.
A principal replica��o ocorreu no Reino Unido, com filhos de imigrantes discriminados, e cujo trabalho se espelha na atua��o do grupo cultural carioca (a administra��o, contudo, � descentralizada). Tamb�m houve trabalhos pontuais (como apresenta��es de shows e exposi��es) na Alemanha, no Canad�, na China, na Col�mbia, nos EUA, na �ndia e em pa�ses sul-americanos.
Por meio do programa Conex�es Urbanas, o empreendedor social atinge um p�blico diversificado, nacionalmente pelo programa de TV no canal fechado Multishow, e no Rio, em Porto Alegre e em S�o Paulo atrav�s do programa de r�dio.
Posicionando-se claramente contr�rio ao crescimento por meio de franquias sociais, o candidato afirma que manter� seu foco no Rio de Janeiro por uma quest�o de princ�pio e de controle, mas que n�o se op�e a compartilhar experi�ncias com organiza��es de outros locais e pa�ses, como j� ocorreu com as ONGs Afro Sul (RS), Bagun�a�o (BA), F�brica de Criatividade (SP), Maj� Mole (PE) e NUC (Negros da Unidade Consciente MG).
Os processos, dessa forma, n�o se encontram sistematizados de forma detalhada em documentos e dependem diretamente de consulta ao empreendedor social e a alguns l�deres de n�cleos e projetos.
As iniciativas lideradas pelo empreendedor social apresentam impacto em pol�ticas p�blicas no Rio de Janeiro. H� duas vertentes principais: seguran�a p�blica e desenvolvimento comunit�rio.
Por meio dos projetos Papo de Responsa (Rio) e Juventude e Cidadania (Belo Horizonte), o AfroReggae trabalha com policiais civis e militares, respectivamente, e vem mudando a rela��o pol�cia-comunidade. No Complexo Penitenci�rio de Bangu (RJ), oferecem-se ressocializa��o e capacita��o de detentos em seis unidades prisionais (a s�tima est� em processo de avalia��o).
A organiza��o tamb�m tem parceria com a Secretaria de Estado de Educa��o do Rio para estruturar oficinas de percuss�o, teatro e grafite a menores em conflito com a lei e a agentes de disciplina em tr�s unidades do Degase (Departamento Geral de Medidas Socioeducativas).
Por fim, destaca-se o apoio �s obras do PAC (Projeto de Acelera��o do Crescimento) na constru��o da rede de telef�ricos do Complexo do Alem�o. Ao t�rmino das obras, o AfroReggae trabalhar� em prol da abertura de empresas e da profissionaliza��o de moradores em turismo.
Avalia-se que, devido ao bom relacionamento do empreendedor social com �rg�os p�blicos, sobretudo do Governo do Estado do Rio, h� espa�o para que sua influ�ncia em pol�ticas p�blicas (como aprova��es de leis) cres�a e se torne mais efetiva.
O AfroReggae tem como miss�o ser motor de transforma��o social utilizando a cultura afro-brasileira, as artes e a educa��o como ferramentas para a cria��o de pontes que unam as diferen�as e sirvam como alicerces para a sustentabilidade e o exerc�cio da cidadania.
Por meio de oficinas (percuss�o, dan�a, capoeira, hist�ria em quadrinhos, violino, grafite, teatro e circo) e grupos art�sticos, fortalece a autoestima de jovens de alta vulnerabilidade social, a fim de afast�-los da viol�ncia, do narcotr�fico e do subemprego. As atividades centrais ocorrem nos cinco n�cleos de cultura, cada um estruturado como um polo (Vig�rio Geral m�sica; Parada de Lucas tecnologia; Cantagalo circo; Complexo do Alem�o e Nova Era misto). Outros projetos, chamados de especiais, s�o executados em localidades como o Complexo Penitenci�rio de Bangu, o Degase (similar � Funda��o Casa, ou ex-Febem paulista) e em escolas da periferia.
O principal m�todo de a��o, que permeia as atividades da organiza��o, � a "tecnologia de relacionamento" desenvolvida empiricamente nos 17 anos de atua��o nas favelas do Rio. Por meio de um profundo conhecimento das comunidades pobres, o AfroReggae conquistou o respeito dos atores envolvidos fac��es do narcotr�fico (ADA, Comando Vermelho e Terceiro Comando), fam�lias carentes, menores abandonados, presidi�rios e religiosos, entre outros, muitos dos quais se ressocializam e tornam-se colaboradores e fortes defensores do grupo. Ex-chefes do tr�fico de drogas, por exemplo, entram para o AfroReggae como "mediadores de conflitos", tornando-se respons�veis por salvar pessoas juradas de morte e pela articula��o e negocia��o de diversas situa��es (visitas externas, eventos, etc.) com as fac��es. Ex-presidi�rios s�o encarregados da miss�o de resgatar egressos do sistema prisional por meio do emprego.
Patrocinadores e m�dia
A sustentabilidade financeira do projeto est� ancorada nessa "tecnologia de relacionamento". N�o � toa, os principais patrocinadores institucionais do AfroReggae (Natura, Nestl�, Oi e Santander) t�m forte interesse em penetrar no mercado consumidor das classes C, D e E, que apresentam uma din�mica pr�pria a qual muitas vezes foge � abordagem tradicional de marketing. Por meio de articula��o do AfroReggae, o Santander abriu sua primeira ag�ncia numa comunidade carente (Complexo do Alem�o) e que figura hoje entre as de maior retorno financeiro para o banco entre as novas unidades, segundo o gerente. A Natura angariou 800 revendedoras na mesma localidade, enquanto a Oi pretende montar um curso de qualifica��o, na esteira da TIM, que, em parceria com o grupo cultural, abriu a primeira loja de operadora de telefonia em favela. A pr�xima da lista, revela Jos� Junior, � a Coca-Cola, cujo patroc�nio era negociado � �poca da visita.
Por fim, deve-se ressaltar a import�ncia estrat�gica da exposi��o de m�dia do empreendedor social. Com forte rede de apoiadores nessa �rea, sobretudo na Rede Globo, o l�der do AfroReggae mant�m o programa Conex�es Urbanas na TV (no canal Multishow), na r�dio (em Porto Alegre, no Rio e em S�o Paulo) e na internet. Regularmente protagoniza campanhas publicit�rias de grandes empresas e utiliza-se de outros recursos, como autoria de livros, cria��o de document�rios, participa��o em cinema, realiza��o de semin�rio internacional, entre outros canais de comunica��o que sempre evidenciam, em alguma inst�ncia, o trabalho do AfroReggae. Reflexo disso � que, ainda que n�o tenha controle operacional e mensura��o do impacto social, o projeto efetua em seu relat�rio anual an�lise detalhada do retorno de m�dia para os patrocinadores.
Entre os principais projetos do AfroReggae, al�m das oficinas culturais nos n�cleos, destacam-se
- Ant�doto: Semin�rio Internacional de A��es Culturais em Zonas de Conflito, abrange mostras de filmes, shows, espet�culos teatrais e debates, com convidados variados;
- Bloco AfroReggae: bloco carnavalesco que, segundo jornais cariocas, arrastou um milh�o de pessoas em um dia de desfile neste ano. M�sicos, dan�arinos e percussionistas oriundos de favelas como Vig�rio Geral e Complexo do Alem�o animam foli�es moradores da zona sul carioca;
- Conex�o Shiva: projeto realizado na �ndia, em Nizamuddim, a maior favela do mundo, com crian�as e jovens aliciados por terroristas, com a metodologia usada pelo AfroReggae;
- Conex�es Urbanas: leva m�sica para as favelas cariocas com shows gratuitos que normalmente s� s�o realizados nas praias da zona sul carioca. Entre os artistas que se apresentaram est�o Caetano Veloso, Gilberto Gil, Marisa Monte, Tit�s e Skank, em 59 edi��es. Posteriormente, foram criados um programa de TV e um de r�dio hom�nimos;
- Empregabilidade: em parcerias com empresas, o AfroReggae encaminha pessoas envolvidas com a criminalidade e egressos do sistema prisional para o mercado de trabalho, a fim de resgatar a cidadania de quem quer deixar o crime, mas n�o encontra chance de ressocializa��o;
- "Favela to the World": projeto realizado no Reino Unido em parceria com o Barbican Centre e o People's Palace Projects que atua com crian�as e jovens moradores de bairros da periferia, a maioria filhos de imigrantes que sofrem com o racismo;
- Juventude e Pol�cia: jovens da periferia com hist�rico de agress�o policial v�o aos batalh�es da Pol�cia Militar de Belo Horizonte (MG) como instrutores de oficinas de percuss�o, grafite, dan�a, teatro e basquete de rua, de maneira a diminuir o preconceito entre ambas as partes;
- Pr�mio Orilax�: dirigido a personalidades ou institui��es que contribu�ram para a valoriza��o e a divulga��o da cultura afro-brasileira, a diminui��o da injusti�a social e para o pleno exerc�cio da cidadania;
- Unindo For�as: em parceria com a Secretaria da Educa��o do Rio, o projeto engloba seis a��es multidisciplinares Escolando a Galera, Oficinas do Degase, N�cleo Cultural AfroReggae, Trupe de Teatro da Sexualidade, N�cleo Nova Era e o Papo de Responsa. As Oficinas do Degase beneficiam jovens que cumprem medidas educativas, buscando a ressocializa��o. J� o Papo de Responsa une policial civil uniformizado e armado e egresso do sistema penitenci�rio. Dois ex-inimigos que trabalham juntos para prevenir a viol�ncia por meio das palavras.
DEPOIMENTOS
"Fiquei 32 anos no crime, 11 anos privado de liberdade. Fui dependente qu�mico e, para poder financiar aquilo que eu gostava, tive que cair no crime. Fui porta voz de uma fac��o criminosa e quando sa� da pris�o percebi que o inferno n�o era dentro da cadeia, e sim, fora dela. A vida � muito dif�cil pra quem quer sair dessa vida, a gente coleciona muitos amigos e inimigos.O Junior � um exemplo de vida pra mim. Nos seis primeiros meses que sa� do inferno, minha vida ficou muito pior. Nossa sociedade � muito preconceituosa e hip�crita e, para algu�m se entregar, tem que querer muito fazer parte disso. As pessoas que gostam de condenar �s vezes nem sabem que o pr�prio filho � viciado em drogas. Valorizo muito o meu trabalho hoje e toda a luta do Junior que � confiada a mim.
Um dia fui � igreja e um pastor me apresentou o Junior e falou para eu contar minha hist�ria para ele. O pessoal falava muito de AfroReggae, mas eu pensava: 'Esse cara batendo lata e usando brinquinho parece veado'.
Contei minha hist�ria a ele, inclusive que minha geladeira parecia uma piscina, pois s� tinha �gua. O Junior pegou o r�dio e foi para o banheiro. Achei que n�o ia dar em nada, s� que, quando ele saiu do banheiro, disse que ia pagar meus seis meses de aluguel atrasados e me dar dinheiro para fazer mercado.
Perguntei se ele podia me dar emprego com carteira assinada para eu conquistar minha dignidade. Eu n�o tinha nem dentes, estava magro e barbudo porque n�o tinha dinheiro nem para comprar barbeador. Ele me mandou para Vig�rio para coordenar um projeto. Isso faz quatro anos.
De l� pra c�, houve muitas mudan�as na minha vida. O AfroReggae ajuda as pessoas das favelas a conseguir emprego, ajuda bandidos a sa�rem dessa vida e � uma luz no fim do t�nel, que d� esperan�a a essas pessoas.
No come�o, eu nem sabia o que era sustentabilidade ou empreendedorismo e que eu aplicava isso na minha vida criminosa. Tinha muitos caras que queriam sair da vida criminal e vinham pedir emprego. Cheguei a perguntar para o Junior o que far�amos com tanta gente. Em 2008, comecei a correr atr�s de contatos explicando minha hist�ria de vida e a quest�o de empregabilidade.
Consegui empregar 300 pessoas no mesmo ano. Levei muitos n�os de v�rias empresas por ter sido bandido, mas hoje tenho uma equipe formada por quatro pessoas que trabalham na supervis�o, sendo que cada um deles veio de uma fac��o diferente do Rio de Janeiro.
O que acontece aqui � um exemplo para o mundo. Enquanto as fac��es entram em guerra entre si nas ruas, aqui dentro, pessoas que eram de fac��es diferentes lutam, choram, se abra�am e riem juntos para alcan�ar o mesmo fim, que � dar esperan�a a quem n�o tem."
Norton Guimar�es, 53, ex-detento e coordenador do projeto empregabilidade do AfroReggae