Eterno inconformado, agr�nomo 'salvou' cidade
Sem banco, munic�pio perdia renda e popula��o quando empreendedor fundou cooperativa de cr�dito e mudou isso; hoje, PIB local cresce 8,74% ao ano
Um estudo aponta que o rio S�o Francisco nasce em Medeiros, n�o em S�o Roque de Minas, como sempre se acreditou. Se for verdade, n�o ser� o primeiro golpe na auto-estima da cidade mineira de 6.000 habitantes, que s� sobreviveu gra�as � a��o de Jo�o Carlos Leite, 40.
A tiros, fazendeiros foram expulsos de l� em 1972 para a constru��o do parque nacional da serra da Canastra. Em 1991, o Banco Central liquidou a Minas Caixa, e o local ficou sem banco, financeiramente dependente da vizinha Piumhi. A cidade teve decr�scimo populacional dos anos 60 aos 90.
Dono de loja de insumos agr�colas, Jo�o sentia a fuga no bolso. Formou um grupo para pedir ajuda ao prefeito e convencer algum banco a montar um posto. Ouviu "n�o" at� do Banco do Brasil.
"Ningu�m quis [vir], e isso do�a." Corajoso, descobriu uma solu��o caseira: "Fomos ver a cooperativa de cr�dito que ia abrir em Alpin�polis". A id�ia foi "importada" e, em um m�s, o mec�nico da cidade virou o gerente, e o dono do boteco, o contador.
S� Jo�o tinha diploma universit�rio, e foi eleito presidente do Sicoob Saromcredi. Sicoob significa Sistema de Cooperativas de Cr�dito do Brasil, e Saromcredi mescla as letras da cidade com a palavra cr�dito. O objetivo era oferecer o m�nimo do servi�o banc�rio.
A prefeitura deu energia, telefone e um espa�o de 24 m2. Hoje, a entidade constr�i sua terceira sede, de 1.400 m2.
Ao assumir o papel de banco, Jo�o fez com que 800 aposentados ficassem e gastassem ali. "Quando receberam pela primeira vez, choraram, abra�aram, trouxeram frango e doces." Todos passaram a usar a cooperativa -continuam fi�is, mesmo com o Banco Postal e as fun��es banc�rias da lot�rica.
No primeiro ano, o caixa fechou com US$ 1.000. Em 14 anos, o patrim�nio foi a R$ 4 milh�es (US$ 1,7 milh�o), e fechar� 2005 com R$ 20 milh�es em cr�dito concedido em v�rias �reas, al�m da rural. O PIB (Produto Interno Bruto) local cresceu 8,74% ao ano.
O crescimento populacional, em 2002, foi de 227 pessoas. � gente como Ant�nio Miranda, 42, que deixou a cidade e voltou em 2004 para gerenciar silos constru�dos com apoio da cooperativa. Outros dois silos ser�o feitos.
Gra�as a Jo�o, o caf� da regi�o chegou � BM&F (Bolsa de Mercadorias & Futuros). Gra�as a ele, um provedor pr�prio de internet conectou 135 pessoas � rede e hoje vende conex�o. Gra�as a suas id�ias, nasceu o Instituto Ellos, que educa 120 filhos de cooperados. Anaj� Arantes, 15, que estuda no Ellos, conta que � mais cobrada do que no col�gio estadual. Ela n�o vai sair da cidade porque, em 2006, o Ellos ter� o ensino m�dio.
A palavra para Jo�o � inconformismo. � esse o sentimento que o move e que n�o o deixa sossegar. Ele n�o sabe por quanto tempo ser� o cabe�a do Saromcredi. O sucessor, ele j� escolheu: Bruno Oliveira Faria, 25, que, t�mido, diz que tem "muito a aprender".
Se depender da popula��o, a transi��o demora. Andando na rua, um homem aborda Jo�o. Diz que o prefeito n�o deu ouvidos ao pedido de asfaltar a rua. "D� uma for�a para n�s", pede o sujeito. O carisma de Jo�o � grande, mas ele n�o quer saber de carreira pol�tica. "E deixar de administrar dinheiro para administrar d�vida?"