Saguões vazios, pistas para pousos e decolagens às moscas na
maior parte do dia, enquanto os seguranças dormem tranqüilamente
sem nenhum ruído de avião por perto. Apesar de as imagens
divulgadas há dez meses, desde o início do caos aéreo, serem de
superlotação e confusão nos check-ins, a realidade de grandes e
pequenos aeroportos brasileiros é de calmaria. Ou de mau
aproveitamento.
Segundo dados oficiais da Empresa Brasileira do
Infra-Estrutura Aeroportuária (Infraero), 70% dos seus 67
aeroportos, os maiores do país, têm horários ociosos na maior
parte do dia e dois terços deles ainda dão prejuízo à estatal.
Mais de 90% de todo o tráfego aéreo brasileiro se
concentra em apenas 20 desses aeroportos. “Eu diria que a
capacidade de utilização plena, de aproveitamento global do
sistema, é de 30%. Evidentemente há pontos de estrangulamento,
Vitória, Goiânia, o caso de Congonhas, mas são casos pontuais”,
afirma Valseni Braga, superintendente de Gestão Operacional da
Infraero.
Conforme dados da Agência Nacional de Aviação
Civil (Anac), o Brasil tem hoje 2.498 aeroportos e aeródromos
(locais sem terminais de passageiros), sendo 739 públicos e
1.759 particulares. Comparando com os registros da Organização
Internacional da Aviação Civil (Icao, na sigla em inglês), isso
significa o segundo maior número de aeroportos do mundo, atrás
apenas dos Estados Unidos, que têm 16.507 locais para pouso e
decolagem de aeronaves.
No entanto, levando-se em conta um índice mundial
que compara o número de passageiros transportados com a
quantidade de quilômetros rodados pelas aeronaves, o país
aparece em 16º lugar no ranking mundial. Fica atrás de países
como Japão, China, Holanda, Austrália e Rússia, que, apesar de
terem menos aeroportos, utilizam de maneira muito mais eficaz e
distribuída a sua estrutura.
Especialistas e a própria Infraero afirmam que a
falta de políticas de incentivo à ocupação, de planejamento da
malha de vôos e de cumprimento de planos aeroviários, estes dois
últimos itens de responsabilidade da Anac, são explicações para
o subaproveitamento. A agência promete apresentar uma nova malha
aérea em 60 dias, em atendimento a uma determinação do Conselho
Nacional de Aviação (Conac).
Na semana passada, em reunião no Conselho Político
do governo, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, disse ter ficado
“impressionado” ao descobrir espaços ociosos nos aeroportos do
Galeão, Confins e Viracopos, por exemplo. “Enquanto isso,
Congonhas está sobrecarregado”, constatou.