Uma mudança na lei deixou milhares de sul-coreanos um ou dois anos mais jovens nesta quarta-feira (28), após o país abandonar um sistema até então em vigor no qual as pessoas já nasciam com um ano e ganhavam outro a cada 1º de janeiro. Agora, a Coreia do Sul adota o padrão internacional.
Desde a década de 1960, os sul-coreanos usam a norma internacional de calcular a idade em documentos médicos e legais —assim como no Brasil, por exemplo. Mas, devido a regras tradicionais também toleradas, a população podia responder de formas diferentes quando questionada sobre a idade.
No chamado "sistema de idade coreano", os cidadãos do país consideravam o período em que o bebê fica no útero da mãe. Uma pessoa nascida em dezembro, por exemplo, tinha dois anos no mês seguinte.
Dessa maneira, a população era identificada como mais velha que os cidadãos em outros lugares do mundo. O método era utilizado em locais de trabalho, nos quais as hierarquias de idade importam.
A padronização internacional do sistema para a contagem de idades passou a ser o método oficial no país a partir desta quinta —o que deixou cidadãos mais jovens, ao menos em alguns documentos. A mudança, aprovada no Parlamento em dezembro do ano passado, busca "reduzir a confusão", segundo autoridades.
"Existia uma diferença entre a idade que os coreanos usam em suas vidas diárias e a idade legal. Por isso, várias disputas legais podem surgir", disse o ministro sul-coreano da Legislação Governamental, Lee Wan-kyu, à agência de notícias AFP. "Esperamos que as disputas e as reclamações sejam bastante reduzidas."
A alteração foi uma das promessas de campanha do presidente da Coreia do Sul, Yoon Suk-yeol. Segundo ele, o método tradicional, quando justaposto ao sistema internacional, gerava custos excessivos. A mudança também foi apoiada pela opinião pública. De acordo com pesquisa de setembro de 2022, 86% dos sul-coreanos disseram que usariam o método internacional quando as novas leis entrassem em vigor.
Hong Suk-min tem 45 anos pelo sistema internacional e 47 pelo método tradicional. À AFP ele disse que era confuso dizer a idade quando questionado por um estrangeiro. "Eu precisava fazer alguns cálculos."
"É uma sensação boa", acrescentou Lee Jung-hee, que estava prestes a completar 60 anos no sistema tradicional e, em alguns documentos, ficou um ano mais nova. "[A mudança] faz a gente se sentir jovem."
Nos últimos anos, políticos também ampliaram as críticas contra o sistema tradicional para contagem de idade, argumentando que a Coreia do Sul ficava fora de sintonia com o resto do mundo.
Na prática, a mudança terá impacto limitado, já que vários documentos e áreas administrativas, como passaportes e idades mínimas para persecução criminal ou aposentadoria, já utilizavam o sistema internacional. Mas o governo alega que a nova lei servirá para reduzir confusões —havia, por exemplo, cidadãos que reivindicavam a aposentadoria antes da hora, com base na idade coreana.
O método tradicional já foi usado no leste da Ásia, mas outros países como China e Japão aderiram ao sistema internacional décadas atrás. A Coreia do Sul era o único grande país que ainda adotava a prática.
Em outro sistema para contagem de idade, que segue em vigor, o cidadão nasce com zero ano e um ano é adicionado a cada 1º de janeiro —mesmo que a pessoa tenha nascido apenas um dia antes. O método existe para calcular a idade legal para o recrutamento militar e permitir o consumo de álcool e tabaco.
Assim, qualquer pessoa nascida em 2004, seja em janeiro ou em dezembro, pode ser convocada para o serviço militar a partir de 1º de janeiro de 2023, ano em que completa 19 anos.
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