O líder do mercenário Grupo Wagner, Ievguêni Prigojin, voltou a reclamar nesta quarta-feira (10) da falta de munição para a Guerra da Ucrânia e acusou os comandantes do Exército de seu país de tentarem enganar o presidente Vladimir Putin sobre a real situação no conflito, em curso há 14 meses.
A mensagem foi divulgada em vídeo um dia após as celebrações em Moscou relacionadas ao Dia da Vitória, que marca o êxito dos Aliados contra a Alemanha nazista. Em discurso na praça Vermelha, Putin tentou incentivar os militares russos traçando paralelos entre os desafios atuais e aqueles com que as tropas soviéticas lidaram na Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Mas a fala de Putin não diminuiu o descontentamento de Prigojin acerca do conflito. Irritado, o líder do Grupo Wagner até comentou a possibilidade de derrota russa na Ucrânia. Sem entrar em detalhes, disse que o povo "ficará furioso se a guerra for perdida" devido a informações enganosas transmitidas a Putin.
As brigas entre o grupo mercenário e os chefes da Defesa começaram no ano passado, quando Prigojin começou a acusá-los de incompetência e de privação de recursos devido a rusgas pessoais. Atualmente, tropas do Grupo Wagner concentram seus esforços em Bakhmut, epicentro dos combates na guerra.
Sem conseguir avanços e com pouca munição, contudo, Prigojin ameaçou retirar suas tropas da região, considerada um trampolim para a conquista de outras áreas do Donbass, no leste ucraniano. Na sexta, ele chegou a gravar um vídeo cercado de cadáveres para alertar sobre as baixas sofridas pelo grupo.
"Choigu! Gerasimov! Onde está a merda da munição?", grita ele no vídeo, referindo-se ao ministro da Defesa, Serguei Choigu, e ao chefe do Estado-Maior, Valeri Gerasimov.
Dois dias depois, o líder mercenário disse ter recebido a promessa de que receberia mais munições e recuou na ameaça de ordenar a retirada de Bakhmut, apesar dos reveses recentes.
Do lado ucraniano, Serhii Tcherevatii, porta-voz das tropas no leste do país, disse que a situação continua difícil em Bakhmut, mas que Moscou tem sido cada vez mais forçado a usar as forças regulares devido às baixas no Grupo Wagner. "Para o inimigo, apesar de todo o ruído que Prigojin está tentando criar, [Bakhmut] ainda é a principal direção de ataque, o principal alvo cobiçado", afirmou Tcherevatii.
Já o coronel-general Oleksandr Sirskii, que chefia as forças terrestres da Ucrânia, disse que as unidades russas na região de Bakhmut recuaram até dois quilômetros após contra-ataques ucranianos. Até a semana passada, os russos ocupavam cerca de 80% da cidade.
A declaração foi ecoada pela vice-ministra da Defesa ucraniana, Hanna Maliar. Segundo ela, as forças ucranianas resistem ferozmente e não perderam uma única posição em Bakhmut nesta quarta-feira.
Durante o inverno europeu, a Ucrânia reforçou suas defesas. Agora, prepara um contra-ataque usando centenas de veículos blindados e tanques doados por aliados. Para tanto, contará com o reforço de milhares de soldados que voltaram recentemente de uma série de treinamentos no Ocidente.
Ao mesmo tempo, declarações de vários atores corroboram a hipótese de falta de munição do lado russo —algo que também afeta a Ucrânia em proporção diferente.
No último dia 2, Choigu pediu à estatal Tactical Missiles Corporation que dobre sua produção de mísseis. No mesmo dia, o Ministério da Defesa do Reino Unido informou que os problemas logísticos são centrais e que Moscou não tem munição suficiente. "A Rússia continua dando a mais alta prioridade à mobilização de sua indústria de defesa e ainda assim não consegue atender às demandas do tempo de guerra."
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