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Um raríssimo protesto em Pequim ocupou as manchetes sobre o país na imprensa mundial. A poucos dias para o início do Congresso Nacional do Partido Comunista Chinês —reunião que só acontece a cada cinco anos e que provavelmente reconduzirá Xi Jinping a um terceiro mandato— uma faixa crítica às políticas do líder chinês apareceu pendurada em um viaduto de Haidian, um dos maiores distritos da capital.
- As imagens que circularam na internet mostravam duas faixas. Uma dizia: "Sem teste de Covid, queremos comer. Sem restrições, queremos liberdade. Sem mentiras, queremos dignidade. Sem Revolução Cultural, queremos reforma. Sem líderes, queremos votos. Não sendo escravos, podemos ser cidadãos";
- A segunda convocava os chineses a fazer "greve na escola e no trabalho" e a remover "o ditador e traidor nacional Xi Jinping".
Alguma coisa queimava acima das faixas, mas autoridades não confirmaram o que era. O protesto foi rapidamente interrompido e o material, removido pela polícia. Ainda não há informações sobre a autoria do ato, embora Haidian seja conhecido na cidade por abrigar várias universidades de elite como a Tsinghua e a Universidade de Pequim (esta última com um histórico de manifestações antigovernamentais).
Por que importa: O incidente chamou a atenção pela ousadia do manifestante. É raríssimo que qualquer protesto na China mencione Xi Jinping pelo nome e mesmo menções vagas a ele na internet são substituídas por anagramas ou caracteres com fonética parecida, evitando a censura. O timing do protesto também é algo notável: as autoridades estão em alerta máximo para distúrbios que impeçam ou manchem a recondução de Xi ao poder.
o que também importa
A política de Covid zero deve continuar após a recondução de Xi Jinping a um terceiro mandato como líder da China, indicou um artigo do Diário do Povo na segunda-feira (10).
O jornal, gerido pelo Partido Comunista e visto como o periódico a confirmar políticas públicas na China, publicou dois textos afirmando que a política de supressão ao vírus é "sustentável" e deve permanecer.
"Em uma jornada de 160 quilômetros, as pessoas não podem parar ao alcançar 150 quilômetros e chamar isso de sucesso", diz um dos textos.
"Alguns países optam por não se dar ao trabalho, adotando a estratégia de 'viver com Covid'. Isso não significa falta de vontade em controlar a pandemia: significa que eles não conseguem", conclui o segundo artigo, cobrando "adesão inabalável à política de Covid zero, normalizando as medidas de controle e prevenção de doenças sem perder de vista o objetivo fundamental, que é evitar surtos em larga escala."
O prenúncio é um banho de água fria para analistas que esperavam reabertura gradual de fronteiras após o Congresso Nacional do Partido Comunista. Previsões anteriores indicavam relaxamento nas políticas de controle ao coronavírus uma vez que Xi assegurasse a liderança do país.
Em preparação para o Congresso Nacional, o Birô Político do Comitê Central do PC Chinês confirmou punições a quatro oficiais, acusados de participação em esquemas de corrupção.
- Ex-ministro da Justiça da China e preso em setembro acusado de receber suborno, Fu Zhenghua foi o primeiro a perder os títulos. Há três meses, ele se declarou culpado por aceitar ¥ 117 milhões (R$ 85 milhões) em dinheiro e presentes de uso pessoal. Fu chegou a receber uma sentença de morte, posteriormente comutada por um tribunal em prisão perpétua.
- Também foram expulsos por aceitar propina o ex-vice-presidente executivo do Supremo Tribunal Popular da China Shen Deyong e o ex-vice-secretário do Comitê Provincial de Jiangsu Zhang Jinghua.
Por fim, o caso a chamar mais atenção foi o do ex-chefe do órgão consultivo político da província de Shanxi, Li Jia. Ele é acusado de manipular votos nas eleições do partido, violar regras da campanha anticorrupção, "faltar com princípios partidários" e aceitar presentes valiosos de empresários.
A Comissão Central de Inspeção Disciplinar considerou, porém, que Li cometeu os crimes antes de subir ao órgão central em 2012. Ele perdeu seus títulos partidários e foi rebaixado do nível ministerial para vice-ministerial no sistema de governo, punição considerada leve. Nos bastidores, especula-se que sua ligação com Hu Chunhua —vice-premiê e um dos favoritos ao cargo de primeiro-ministro aberto com a aposentadoria de Li Keqiang— justifique a pena branda.
Fique de olho
A elite política do Partido Comunista se reuniu na quarta para a sétima e última sessão plenária desta legislatura no Comitê Central. A reunião, presidida por Xi Jinping, resumiu as principais "conquistas" da legenda nos últimos cinco anos e preparou o terreno para as nomeações a serem anunciadas a partir de domingo (16).
Na lista de feitos do partido reconhecidos por Wang Huning, principal ideólogo da legenda, estão a "restauração da ordem" em Hong Kong, o gerenciamento da crise na Ucrânia e a resposta chinesa a esforços separatistas em Taiwan.
Por que importa: A reunião foi quase toda cerimonial e dedicou boa parte do tempo a louvar os feitos de Xi Jinping, em vez de apontar a provável permanência dele na liderança do país ou possíveis emendas constitucionais a serem votadas pelos novos congressistas.
Chamam a atenção, porém, os principais pontos destacados como feitos de Xi, incluindo a forma como lidou com a questão ucraniana. É sinal de que a China não deve mudar o curso a curto prazo e, embora não apoie abertamente a Rússia, que também não fará oposição aberta ao conflito.
Para ir a fundo
- O The China Project descreve como está o clima em Pequim e os preparativos para o Congresso Nacional, explicando ainda os principais ritos envolvendo a reunião. (paywall poroso, em inglês)
- A Reuters também explica em seu canal no YouTube o que observar durante o evento para entender sinais sutis da política chinesa. (gratuito, em inglês)
- A Universidade Harvard vai realizar uma mesa de discussão no dia 8 de novembro sobre as transformações na China após o Congresso Nacional do Partido Comunista. O evento será híbrido e quem quiser assistir online deve se inscrever aqui. (gratuito, em inglês)
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