Mesmo antes de Liz Truss anunciar sua renúncia, nesta quinta (20), a corrida por seu assento já havia começado nos bastidores do seu Partido Conservador —uma disputa que agora movimenta também as casas de apostas especializadas.
De acordo com elas, o atual líder da disputa é Rishi Sunak, que comandou a pasta das Finanças na administração de Boris Johnson e havia sido derrotado por Truss nas últimas eleições indiretas.
É o segundo lugar do certame, porém, que mais chama a atenção —Boris em pessoa, que, alguns dizem, pode protagonizar um retorno triunfal ao cargo depois de ser defenestrado inclusive por antigos aliados há três meses.
Por último, vem Penny Mordaunt, ministra da Defesa no governo de Theresa May e popular entre os membros da legenda. Outras especulações incluem ainda Suella Braverman, chefe da pasta do Interior de Truss cuja saída do governo precipitou a queda da primeira-ministra.
A única a confirmar sua candidatura por enquanto foi Mordaunt. O tabloide Daily Mail afirmou que o novo cenário fez com que Boris antecipasse seu retorno das férias no Caribe.
Os aspirantes à liderança do Partido Conservador devem enviar seus respectivos nomes para o Comitê 1922, grupo que organiza a disputa interna, até a próxima segunda-feira (24). Para serem aceitos, precisam receber o apoio de ao menos cem parlamentares da sigla, sendo que cada um deles só pode endossar um líder.
Como a legenda possui 357 cadeiras, só três nomes têm chances de avançar para a votação. Nesse caso, o menos votado do trio é eliminado, e a dupla restante passa por outra disputa. Nos dias seguintes, a decisão passa para os cerca de 200 mil filiados ao partido, que poderão votar pela internet até a sexta-feira seguinte (28). É então que o resultado será anunciado.
Existe, porém, a possibilidade de que só um candidato atinja o apoio de cem parlamentares. Este será, então, declarado novo líder dos conservadores e, consequentemente, novo primeiro-ministro na própria segunda-feira.
Na noite desta sexta (21), o parlamentar Tobias Ellwood escreveu em sua conta no Twitter ser o centésimo conservador a apoiar Sunak, o que faria do ex-ministro das Finanças o primeiro candidato a entrar, de fato, na disputa. Contas do jornal The Guardian, porém, não asseguram que Sunak já tenha cem indicações –a soma do jornal leva em conta apenas os votos abertos dos conservadores.
Conheça abaixo os principais cotados para ocupar o posto de primeiro-ministro do Reino Unido.
Boris Johnson
Ao que tudo indica, não foi à toa que o ex-premiê britânico encerrou seu discurso de despedida ao Parlamento com a frase "hasta la vista, baby" —retirada do blockbuster "O Exterminador do Futuro 2". Mas Boris talvez tenha dificuldades para conseguir os cem votos necessários para a sua candidatura após três anos no poder marcados por escândalos.
Hoje, seu nome parece dividir o Partido Conservador. Alguns afirmam que é improvável que ele alcance a meta de endossos, tendo afastado dezenas de aliados ao longo de seu mandato. Outros argumentam que o dirigente talvez seja a melhor aposta da legenda para acalmar a população e o mercado em um momento de crise energética e alta do custo de vida, consequências da Guerra da Ucrânia.
A segunda é a posição do atual ministro da Defesa, Ben Wallace. Especulava-se que o ex-militar testaria suas chances no pleito, tendo emergido intacto das turbulências recentes na sigla. Mas ele, que liderou a resposta do país à invasão russa na Ucrânia, afirmou que preferiria continuar à frente de sua pasta, dizendo-se preocupado com a opinião pública ante o acelerado ritmo de sucessões na liderança do país.
Outros ministros que declararam apoio a Boris foram Jacob Rees-Mogg, à frente de Negócios —que lançou até uma hashtag no Twitter, "#Borisorbust" (Boris ou fracasso), para marcar sua posição. E Simon Clarke, secretário de Desenvolvimento, Habitação e Comunidades.
Rishi Sunak
O ex-analista financeiro pode dizer "eu avisei" para os riscos do ousado plano econômico de cortes de impostos e novos auxílios de sua rival no último pleito, Liz Truss —a proposta causou um baque como poucos no mercado e, em última instância, levou à queda da primeira-ministra.
Nomeado ministro das Finanças no momento em que o coronavírus chegou à Europa, no início de 2020, ele foi elogiado pelo pacote de medidas que lançou em combate à crise pandêmica.
Mas seu nome continua impopular entre alguns dos parlamentares por seu papel na rebelião contra Boris. Sua saída do governo foi uma das primeiras de uma série de demissões que forçaram o então premiê a deixar o cargo.
Penny Mordaunt
Atual líder do governo no Legislativo, ela se notabilizou como secretária de Defesa na gestão de Theresa May, em 2019, e chegou a competir contra Liz Truss e Rishi Sunak pela liderança do partido nas últimas eleições indiretas.
Seu nome tem a vantagem de não ter sido manchado por escândalos de administrações anteriores. Mas ela também não tem ampla experiência e, até agora, não conseguiu superar Boris e Sunak nas casas de apostas.
Suella Braverman
Representante da ala mais à direita do partido, defendendo pautas anti-imigração, por exemplo, Braverman se demitiu da chefia da pasta do Interior um dia antes da queda de Truss.
Mesmo assim, sua participação no governo da ex-primeira-ministra pode ter queimado suas credenciais junto à sigla, e suas chances no pleito parecem limitadas segundo especialistas.
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