Como ex-vice-presidente da Nike para Europa e instrutor de governança de stakeholders no IBGC, percebo a recente evolução na OpenAI como um marco significativo na governança corporativa contemporânea.
A recontratação de Sam Altman como CEO, resultado de uma mobilização inédita dos funcionários, ressalta a tendência atual de dar voz aos stakeholders —investidores, empregados, clientes, governos, a sociedade e o planeta. Hoje, são fortes porque têm voz, criam movimentos e impactam as empresas.
Esse movimento ecoa eventos similares em outras grandes corporações, como a greve que influenciou à demissão do então CEO da Disney, Bob Chapek, enfatizando a crescente influência dos stakeholders internos nas estratégias empresariais.
A OpenAI, operando como uma entidade sem fins lucrativos que busca harmonizar inovação tecnológica e benefícios sociais e de negócios, pode ser singular, mas representa bem os desafios da governança atual, levantando questões sobre a identificação e o papel dos stakeholders relevantes.
Nesse contexto, líderes empresariais são chamados a adotar uma postura pragmática e estratégica. A governança contemporânea exige que as empresas abordem questões sociais, ambientais, éticas e geopolíticas sem modelos decisórios pré-estabelecidos, enquanto alinham os interesses dos stakeholders com o crescimento sustentável dos negócios.
É indiscutível que opiniões e percepções moldam o sucesso empresarial. Tradicionalmente, as empresas dialogam com uma gama de stakeholders por meio de departamentos especializados, desde Recursos Humanos até Relações com Investidores. Contudo, torna-se essencial reconhecer a interconexão e a influência recíproca entre esses grupos na tomada de decisões.
A recente decisão do conselho da OpenAI impactou 700 empregados, evidenciando uma lacuna na previsão das reações dos stakeholders.
Tal episódio demonstra que a estratégia não se limita apenas ao planejamento de ações, mas também à antecipação das respostas de todos os envolvidos, pois a confiança dos stakeholders está intrinsecamente ligada à reputação e à estabilidade organizacional.
Alan Murray, CEO da Fortune, reforça essa ideia, afirmando que a confiança é atualmente a moeda de maior valor.
A confiança dos stakeholders em CEOs é crítica. O Edelman Trust Barometer revela que 84% das pessoas esperam que CEOs informem discussões e debates sobre questões sociais urgentes. Contrariando a crença de que apenas jovens funcionários impulsionam a agenda de propósitos corporativos, todas as faixas etárias esperam que CEOs sejam visíveis pessoalmente em compartilhar o propósito e visão da empresa.
Além disso, 64% acreditam que CEOs devem liderar mudanças sociais em vez de esperar ações do governo. CEOs que se omitem em questões importantes enfrentam a desaprovação de 56% dos entrevistados, demonstrando que a transparência e a ação autêntica são essenciais para manter a confiança dos stakeholders
Os eventos na OpenAI refletem um microcosmo das transformações na governança corporativa e na interação com stakeholders. Luciano Montenegro, do Conselho Global da WTC, salienta a necessidade de os conselhos estarem intimamente ligados aos stakeholders da empresa. Andiara Petterle, do conselho da Assai e da Melhoramentos e instrutora do IBGC, reitera esse ponto de vista, observando o crescente poder dos stakeholders.
A combinação do poder ascensional dos stakeholders, os desafios inerentes à governança de organizações sem fins lucrativos e a imperatividade de decisões pragmáticas e estratégicas, sublinha a dinâmica do cenário empresarial atual.
A nova era dos negócios demanda um entendimento detalhado das forças atuantes e um engajamento genuíno com as diversas perspectivas e interesses dos stakeholders.
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