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FERNANDO RODRIGUES
Ganhar e governar
BRASÍLIA - A atual onda de pessimismo que ronda a economia nos últimos dias não ocorre apenas por
causa da inabilidade do pré-candidato oficial, José Serra, em decolar
nas pesquisas. Há também uma percepção no mercado sobre a desvantagem que os postulantes ao Palácio do
Planalto têm em relação ao atual
ocupante da cadeira, Fernando Henrique Cardoso.
Existe um consenso sobre algo quase óbvio. No atual estágio de complexidade econômica e política do país,
ganhar a eleição não é fácil. Mas governar é muito mais difícil.
O próximo presidente da República
colocará os pés no Planalto no dia 1�
de janeiro de 2003 tendo de propor
inúmeras reformas constitucionais.
Precisará de ampla base de apoio. Dificilmente terá o que FHC teve.
Em 1995, o primeiro tucano presidente tinha para bancá-lo o Plano
Real. Estava derrubando a inflação.
Havia vencido a disputa eleitoral no
primeiro turno. Mais importante,
FHC era talvez um dos mais tolerantes políticos que havia ocupado a Presidência. Falava com todos. Não cultivava mágoas e sabia agradar os
parlamentares como ninguém
-ainda que isso pudesse passar, como passou muitas vezes, a imagem
de leniência com o fisiologismo e as
más práticas políticas.
Dos quatro pretendentes mais ou
menos competitivos, nenhum reúne
sozinho as habilidades de FHC nem
têm à disposição a conjuntura que
ajudou o tucano no começo de seu
primeiro mandato.
Lula (PT), Serra (PSDB), Garotinho
(PSB) e Ciro (PPS) terão de conviver
com um Congresso muito mais arredio. A inflação já está sob controle
(embora ainda alta para padrões internacionais). A economia cresce
pouco. Não há argumentos disponíveis para obrigar deputados e senadores a votarem medidas impopulares. Tudo somado, não importa
quem vença no dia 6 de outubro. O
eleitor deve estar preparado para um
ano dificílimo em 2003.
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