São Paulo, quinta-feira, 22 de setembro de 2005

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ANÁLISE

Retórica de Bush sobre o Iraque remete ao Vietnã de Johnson

DOUGLASS K. DANIEL
DA ASSOCIATED PRESS, EM WASHINGTON

Ainda que os assessores de George W. Bush rechacem comparações entre as guerras do Vietnã e do Iraque, não são só manifestantes antiguerra que vêem repetindo o discurso de predecessores. O presidente também o faz.
Em março de 1967, o então presidente Lyndon Johnson declarou a legisladores no Tennessee: "Os EUA estão comprometidos com a defesa do sul do Vietnã até que uma paz honrosa possa ser negociada". Apesar dos obstáculos, "devemos manter o rumo", disse.
Mais de 38 anos depois, diante da morte de 14 marines, Bush afirmou: "Devemos manter o rumo e completar o trabalho no Iraque. E o trabalho é ajudar os iraquianos a desenvolverem a democracia".
As duas guerras foram conduzidas de forma diferente, ainda que com objetivos semelhantes. Mas, cientes de que a Guerra do Vietnã acabou com uma nada cerimoniosa retirada americana e a queda do Sul, as autoridades americanas evitam comparar a retórica de Bush à de Johnson.
Entretanto os principais argumentos de 1967 são muito parecidos com os de Bush: a guerra se justifica para proteger os EUA e incentivar a liberdade, e, diante de crescentes baixas, ambos os presidentes citam os mortos como razão para manter a luta.
"Quando uma guerra é longa e o resultado não é claramente positivo, as linhas de argumentação do presidente acabam restritas", diz Kathleen Hall Jamieson, do Centro Annenberg de Política Pública na Universidade da Pensilvânia.
O sul do Vietnã, politicamente instável por conta da violência interna e da corrupção, hesitou diante de uma votação para adotar uma nova Constituição e eleger novos governantes -nada muito diferente pelo momento pelo qual passa o Iraque.
"Nosso país não nasceu facilmente. Houve momentos naqueles anos do século 18 em que parecia que nem sequer nasceríamos", disse Johnson em agosto de 1967. "Dado tal histórico, não devemos nos surpreender que a luta no Vietnã continue. Não devemos nos surpreender com o fato de que aquela nação, devastada pela guerra da insurgência e cercado por seus vizinhos do norte, ainda não tenha emergido em todo seu vigor como um modelo perfeito de democracia bipartidária."
Bush também recorreu à gênese americana. "Como os fundadores de nossa nação há dois séculos, os iraquianos estão lutando com temas difíceis, como o papel do governo federal. O importante é que eles agora tratam desses assuntos com debates, não com uma arma", disse ele em agosto.
Bush liga a segurança e a liberdade dos EUA à guerra: "Estamos erigindo a base para uma paz que durará gerações. Estamos derrotando os terroristas em um lugar como o Iraque para que não tenhamos que enfrentá-los em casa. E estamos disseminando a democracia." Em setembro de 1967, Johnson afirmara: "O que acontecer no Vietnã é extremamente importante para a liberdade do país e para a segurança dos EUA".
O alto saldo de baixas incomodava Johnson tanto quanto Bush. "Tenham certeza de que a morte de seu filho significará alguma coisa", disse o primeiro aos pais de um soldado contemplado com uma medalha póstuma em abril de 1967. "Juro que nosso país persistirá -e prevalecerá- na causa pela qual seu filho morreu." A famílias de militares, Bush disse no último dia 24: "Esses homens e mulheres corajosos deram suas vidas por uma causa justa e necessária à segurança de nosso país. Nós honraremos seu sacrifício completando sua missão".


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