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DE VOLTA A HAVANA
Clinton anuncia mudanças no bloqueio econômico contra a ilha e aumenta fluxo entre os países
EUA abrem "frestas" no embargo a Cuba
MARCIO AITH
de Washington
As frestas abertas nos dois últimos anos no bloqueio econômico
dos EUA contra Cuba estão aumentando sensivelmente o fluxo
de bens e de pessoas entre os dois
países e já reduzem os efeitos do
embargo norte-americano de 37
anos contra a ilha do Caribe.
A tímida aproximação começou em março do ano passado,
quando o presidente Bill Clinton
autorizou vôos diretos de Miami
para Havana, diminuiu as exigências para viagens de norte-americanos a Cuba e facilitou as exportações de medicamentos a comerciantes autônomos da ilha.
As medidas, anunciadas como
sendo de caráter humanitário em
razão da visita do papa João Paulo
2� a Cuba, estão mudando o perfil
da relação entre os dois países.
Os medicamentos exportados
para Cuba por empresas norte-americanas somaram US$ 20 milhões de março de 1998 até o mês
passado. Entre janeiro de 1992
(quando essas exportações foram
autorizadas pela primeira vez) e
março de 1998, os atacadistas e fabricantes de remédios dos EUA
haviam vendido apenas US$ 1 milhão aos cubanos.
O aumento no número de visitas a Cuba também é expressivo.
Em 1998, cerca de 50 mil norte-americanos receberam autorizações dos EUA para visitarem a
ilha, supostamente para fins educacionais, humanitários e para
promover o capitalismo -as exceções previstas no embargo. Em
1995, apenas 12 mil pessoas requisitaram autorizações de viagem.
Pelo embargo, cidadãos dos
EUA são proibidos de fazer turismo na ilha, mas ao menos duas
universidades da capital levam regularmente seus alunos ao país e
agências de turismo vendem
abertamente pacotes de viagem.
Estima-se que para cada norte-americano que vai a Cuba com
autorização outros cinco fazem a
viagem através de um terceiro
país sem comunicar ao governo.
Os EUA cortaram relações diplomáticas com Cuba em 1961,
dois anos depois do fim da revolução que levou Castro ao poder.
Em 1962, Washington impôs o
embargo econômico contra Cuba
que vigora até hoje, restringindo o
acesso dos cubanos ao capital e a
produtos estrangeiros para forçar
o fim do regime socialista.
Na semana passada, o governo
dos EUA deu mais três passos para estreitar as relações com Cuba.
Autorizou a exportação de comida e de sementes, permitiu à
empresa Western Union mandar
dinheiro dos norte-americanos
(US$ 1.500 por ano) a cubanos
que não tenham relação com o
governo socialista e patrocinou a
viagem a Cuba do presidente da
Câmara de Comércio dos EUA.
Essas medidas poderão transformar o embargo numa lei distante da realidade. A autorização
para a exportação de comida e de
sementes foi também produto de
lobby dos fazendeiros dos EUA.
Representantes do setor agrícola nos EUA vêem Cuba como um
mercado potencial para seus produtos. Cuba importa 900 mil toneladas de trigo por ano, basicamente de países europeus.
A aproximação entre os dois
países não conseguiu ainda alterar o discurso dos dois governos.
Comentando os resultados da
viagem de empresários norte-americanos a Cuba, o porta-voz
do Departamento de Estado, James Foley, disse que, apesar do
maior fluxo entre os dois países,
"não há oportunidade real de comércio enquanto Castro estiver
no poder. Não acho que a visita o
fará mudar de mentalidade."
Na Venezuela, o ministro das
Relações Exteriores de Cuba, Felipe Perez Roque, deu boas-vindas
às novas medidas relaxando o
embargo, mas alertou: "Podemos
aguentar por mais mil anos".
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