|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FUTURO
Analista fala sobre a necessidade de o país flexibilizar o regime para enfrentar efeitos da globalização
Irã corre risco de "isolamento à cubana"
da Redação
Tendo aparentemente controlado a primeira grande onda de
protestos pró-democracia no país
em 20 anos, o Irã agora enfrenta
um novo desafio: flexibilizar seu
regime antes de se tornar uma
grande Cuba do Oriente Médio.
Se não mudar, a república implantada em 1979 pela revolução
comandada pelo aiatolá Khomeini tende a virar uma versão ampliada da ilha de Fidel Castro
-onde o fechamento político vive sob a pressão econômica e cultural da globalização ocidental
(leia mais sobre Cuba à pág 1-24).
""Essa proposição é correta, mas
é preciso lembrar que tal tipo de
pressão pode tender a acirrar o
suporte popular ao regime", diz o
professor de relações internacionais Yezid Sayig, da Universidade
de Cambridge (Reino Unido).
Embora tão isolado politicamente quanto o regime de Havana, o de Teerã sempre manteve
um nível de integração ao comércio mundial maior que Cuba.
Os protestos demonstraram o
limite do Estado islâmico baseado
no poder teocrático do sucessor
de Khomeini, aiatolá Ali Khamenei. A demanda interna por
maior participação política já havia eleito Mohamad Khatami como presidente, com quase 70%
dos votos, em 1997. Agora, mostrou que pode ir às ruas também.
Para Ibrahim Karawan, cientista político da Universidade de
Utah (EUA) e autor do livro ""O
Impasse Islâmico", o maior problema é o próprio formato do regime. ""Os ganhos sociais ocorreram, mas o fundamentalismo não
é a força do futuro", diz.
""Sempre haverá movimentos
islâmicos na política do Oriente
Médio. Em alguns momentos,
eles poderão ameaçar mais ou
menos os governos, mas o caso
do Irã é único", diz Karawan.
Yezid Sayig concorda e reforça
o paralelo com Cuba. ""Todo regime revolucionário passa por fases. Numa primeira, contagia seu
entorno ideológico e até financia
iniciativas semelhantes. Há a consolidação do status quo com
agressões externas, no caso a
guerra Irã-Iraque (e o embargo
dos EUA, no caso cubano). Agora
vem a acomodação."
Sayig, por outro lado, minimiza
um pouco o poder das manifestações estudantis. ""Essa imagem é
muito norte-americana. Os protestos foram muito mais restritos
a setores da elite intelectual, mas
não tiveram o respaldo popular
que a revolução teve em 79", diz.
Para ele, a eleição de Khatami
foi um sinal forte da necessidade
de mudanças pedidas por boa
parte da população. E Sayig crê
que o regime tem condições de
absorver essas demandas.
Mas novas e maiores ondas de
protestos poderiam levar a um
desmoronamento interno do sistema -algo semelhante ao Leste
Europeu comunista, embora inevitavelmente com mais violência.
Seria a globalização econômica
um catalisador para a mudança?
O regime iraniano enfrenta problemas com seu principal produto econômico. Hoje, 80% dos
quase US$ 20 bilhões que o país
exporta ao ano vêm do petróleo.
Agora, enfrenta o vaivém do
preço do produto no mercado
mundial e o embargo a seus negócios petroquímicos -por conta
das violações aos direitos humanos reportadas pelos países ricos.
""Pode ser, mas não adianta querer exportar para o Irã a idéia de
uma democracia ocidental, o país
não é ocidental e a base social é
coesa", diz Sayig.
Além disso, argumenta, o Irã,
assim como Cuba, ostentou ganhos em indicadores sociais e está
muito à frente de sociedades consideradas estáveis no Oriente Médio -o Egito, por exemplo, está
em 120� no ranking de qualidade
de vida da ONU, e o Irã, em 95�.
(IGOR GIELOW)
Texto Anterior: Fundamentalismo cresce no Paquistão Próximo Texto: Conheça a origem do movimento Índice
|