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"Risco de voar em nuvem vulcânica é alto"
Piloto Robert Schapiro afirma que o perigo de atravessar cinzas é "muito maior" que o de enfrentar uma tempestade
Comandante que atuou em companhias aéreas dos EUA e do Japão diz que análise de dados ajuda pilotos a evitar nuvens de cinzas vulcânicas
GABRIELA MANZINI
DA REDAÇÃO
Piloto há mais de 30 anos,
Robert Schapiro, 52, afirma
que a principal regra para enfrentar uma nuvem de cinzas
vulcânicas, como a que cobre
parte da Europa desde quarta-feira, é nunca correr riscos. "A
chance de algo ruim acontecer
é muito, muito grande", afirma.
Com cerca de 18 mil horas de
voo, ele trabalhou para companhias aéreas dos EUA e do Japão -no Anel de Fogo do Pacífico, uma das áreas de maior
atividade vulcânica do planeta.
FOLHA - É comum ter vulcões em
rotas de aviões?
ROBERT SCHAPIRO - Muitos vulcões ficam em rotas, sim. E entram em erupção o tempo todo,
no mundo inteiro. Pilotos internacionais se deparam com
vulcões oito, nove vezes por
ano. Não é incomum. O importante, para eles, é não entrar na
nuvem. Ninguém o faria voluntariamente. Não se compara a
atravessar uma tempestade, a
chance de algo ruim acontecer
é muito, muito maior.
FOLHA - Se é comum, por que o
problema na Europa?
SCHAPIRO - Grande parte dos
vulcões fica em áreas de pouca
população. Esse gera transtorno porque a nuvem avança sobre uma área populosa, com
muito tráfego aéreo. Da Islândia para a Europa Central é distante, então, ao chegar, a nuvem ainda cobria uma área extensa.
Com o depósito de partículas, elas dominaram a faixa entre o chão e a altitude elevada.
Nesses países, começa a surgir
aquela poeira que cobre tudo.
FOLHA - Como são essas nuvens?
SCHAPIRO - Cinzas vulcânicas
não são como as de um incêndio, por exemplo. São rocha
pulverizada, e a pressão de dentro do vulcão as empurra para o
alto. Nelas há sílica, que é como
vidro. Quando entram na turbina aquecida, as cinzas se derretem e se espalham, podendo levar à quebra. Normalmente, a
turbina precisa ser descartada.
FOLHA - O piloto não vê a nuvem?
SCHAPIRO - Quando vemos a fumaça saindo do vulcão, ela fica
muito clara, porém, a altitudes
muito elevadas, ela é mais como uma neblina escura.
FOLHA - Como evitar as nuvens?
SCHAPIRO - Os pilotos, antes de
voar, veem dados da iminência
das erupções. Outro fator é o
vento, que leva as cinzas.
FOLHA - O que um piloto pode fazer, quando entra em uma nuvem?
SCHAPIRO - Pilotos são treinados para reconhecer que entraram em uma nuvem vulcânica.
Quando você avança pelas cinzas, é como se uma lixa atingisse a frente da aeronave. No para-brisa dá para ver minúsculas
descargas elétricas. As partículas afetam a visibilidade e, a
certa altura, não se vê nada. Há
ainda um odor forte, e o interior do avião pode parecer empoeirado. Pela boca da turbina
se vê um brilho. Dentro da nuvem, a técnica é dar meia-volta
e começar a reduzir a altitude.
FOLHA - É exagero fechar espaços
aéreos e aeroportos?
SCHAPIRO - É uma precaução
boa. O risco de algo acontecer
com a aeronave é bem alto.
Mesmo quando na sua área parece tudo bem, talvez em 15 minutos de voo você chegará a um
lugar pior e começará a ter problemas. Não vale a pena.
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