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TRAIÇÃO?
Presidente renega modelo dos "baby- boomers'
Clinton abandona o ideal de sua geração
de Washington
Bill Clinton, 52, é o primeiro presidente dos EUA da geração "baby-boomer", os nascidos entre o fim
da Segunda Guerra Mundial (agosto de 1945) e 1960.
Terá sido coincidência que ele tenha se tornado o primeiro presidente que teve seu mandato ameaçado por um escândalo sexual?
Clinton foi uma pessoa típica de
sua geração. Ele experimentou
drogas, flertou com o socialismo,
usou cabelo e barba compridos,
combateu a guerra, desprezou o
poder, desafiou a autoridade, defendeu a igualdade entre os sexos,
estendeu a adolescência por quanto pôde, casou e teve filhos mais
tarde que seus pais, incentivou que
sua mulher tivesse uma carreira
profissional independente, admirou o conceito do amor livre.
Na medida em que ele se integrou ao establishment, no entanto,
como muitos de sua geração, Clinton abandonou os ideais de juventude. O jovem que trabalhou por
George McGovern para acabar
com as intervenções militares dos
EUA em outros países mandou
tropas para o Haiti, ordenou combates na Somália e lançou mísseis
sobre Afeganistão, Sudão e Iraque.
Candidato à Presidência e confrontado com a questão das drogas, em vez de admitir que elas foram, como para tantos de sua idade, uma forma de crescimento pessoal, um rito de passagem, preferiu
primeiro mentir ("nunca feri as
leis do meu país") e depois se prender a legalismos para admitir o que
fez sem confessar que mentira
("fumei, mas não traguei").
No caso Lewinsky, a mesma contradição entre o jovem Clinton e o
Clinton do establishment volta a
aparecer, assim como seu contorcionismo ao lidar com a verdade.
Poderia ser arriscado, mas talvez
desse certo, se, em vez de ter negado por sete meses o relacionamento com Lewinsky e depois o chamar de "pecado", Clinton o tivesse
assumido e, mais, defendido.
Afinal, há 76 milhões de "baby-boomers" nos EUA, o mais influente grupo etário do país. Quase
todos poderiam ter entendido o raciocínio de que um caso extraconjugal, se movido por genuíno amor
e sendo do conhecimento do parceiro, não tem nada de errado. Ao
contrário, pode até ser algo bonito,
admirável.
O escritor Oscar Wilde tentou algo parecido quando foi julgado
por homossexualismo, 103 anos
atrás, na Inglaterra vitoriana. Ali, a
estratégia era suicida. Mas, pelo
menos, lhe garantiu respeito póstumo. No final do século 20, não
seria tão absurdo defender a relação de amor entre um homem de
meia-idade com uma moça de 21
anos, produto, como ele, de família
disfuncional, em busca de orientação, carinho, segurança.
Imagine se Clinton, no auge da
popularidade, em janeiro deste
ano, tivesse ido para a TV e dito: "É
verdade. Mantive durante 18 meses uma relação com essa moça,
que precisava de uma pessoa como
eu para ajudá-la. Houve respeito
entre nós, minha mulher sabia do
que estava ocorrendo. Ela me deu
felicidade, e eu a ajudei a crescer."
Será que ele seria tão condenado
quanto está sendo agora, após ter
humilhado tanto Lewinsky quanto
Hillary, traído a confiança de amigos, aliados e de todo o país?
Há até indícios de que, realmente, Clinton pode ter gostado mesmo de Lewinsky. Houve gestos delicados, de um adolescente apaixonado, dele para ela: presentes como um livro de poemas, uma caixa
de bombons. Houve dezenas de telefonemas ternos, de quem não está em busca apenas de um rápido
prazer por debaixo da mesa.
Se o jovem Clinton tivesse sobrevivido no presidente, suas estratégias de defesa poderiam ter sido
muito diferentes e, quem sabe, melhor sucedidas. Seus contemporâneos lhe teriam agradecido.
(CELS)
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