São Paulo, quarta-feira, 13 de agosto de 2008

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Tratado como "messias" pelo Ocidente, Saakashvili exibiu lado imprevisível

SHAUN WALKER
DO "INDEPENDENT", EM TBILISI

Usando o terno escuro e a gravata vermelha que se tornaram sua marca registrada, Mikheil Saakashvili saiu ao terraço de seu palácio presidencial em meio à tarde úmida da segunda-feira em Tbilisi para enfrentar a mídia internacional. Ele falou apaixonadamente sobre a necessidade de a comunidade internacional responder à "invasão" russa de seu país, mas, para um homem sempre faminto pelas atenções da mídia e renomado pelo carisma, parecia fatigado e desgastado.
De muitas maneiras, o comportamento que ele exibiu ao longo da última semana seguiu o modelo previsível. Saakashvili há muito vem sendo um enigma político. Quando a Revolução Rosa o levou ao poder em um levante incruento em 2003, o Ocidente decidiu que o trataria como a um messias retornado para levar a democracia ao seu pequeno país do Cáucaso, e espalhá-la pela região.
De maneira igualmente rápida, ele se tornou o inimigo número um do Kremlin. Enquanto o Ocidente se deliciava com a reação em cadeia de "revoluções coloridas" que sua chegada ao poder deflagrou, os russos se sentiam aterrorizados. Mas enquanto Washington e Bruxelas pareciam deliciados diante de um líder desejoso de abrir o país ao Ocidente e que falava sua língua, sempre houve dúvidas quanto à possibilidade de que Saakashvili talvez se comportasse de maneira um tanto descontrolada.
A linguagem que ele emprega com relação à Rússia sempre foi provocadora, e o presidente exibiu traços de impulsividade e até mesmo de crueldade na repressão a manifestações de rua, neste ano.

Sem mastigar
Nos últimos dias, a expressão de Saakashvili é a de um homem que abocanhou presa maior do que conseguiria mastigar. A Rússia estava evidentemente ansiosa por um pretexto para combater, mas parece difícil não concluir que a cartada vital nesse arriscado jogo foi dada por Saakashvili ao ordenar um ataque aberto contra a Ossétia do Sul na noite do dia 7.
Ele decidiu que pagaria para ver se Putin estava blefando, e o premiê russo, ostentando a linguagem áspera que o tornou conhecido, mostrou as cartas.
Na entrevista de segunda-feira, o líder georgiano exibiu um sorriso estranhamente inadequado quando perguntado sobre um "incidente de segurança" que teria envolvido a ele e ao ministro francês do Exterior, Bernard Kouchner, anteontem em Gori, quando os dois líderes foram conduzidos apressadamente aos seus automóveis e levados para fora da cidade. Um diplomata estrangeiro disse que Saakashvili "parecia perdido" nos últimos dias.
Ele claramente cometeu um imenso erro de cálculo ao estimar o nível de apoio do Ocidente com que poderia contar em caso de guerra.


Tradução de PAULO MIGLIACCI


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