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Tratado como "messias" pelo Ocidente, Saakashvili exibiu lado imprevisível
SHAUN WALKER
DO "INDEPENDENT", EM TBILISI
Usando o terno escuro e a
gravata vermelha que se tornaram sua marca registrada, Mikheil Saakashvili saiu ao terraço de seu palácio presidencial
em meio à tarde úmida da segunda-feira em Tbilisi para enfrentar a mídia internacional.
Ele falou apaixonadamente sobre a necessidade de a comunidade internacional responder à
"invasão" russa de seu país,
mas, para um homem sempre
faminto pelas atenções da mídia e renomado pelo carisma,
parecia fatigado e desgastado.
De muitas maneiras, o comportamento que ele exibiu ao
longo da última semana seguiu
o modelo previsível. Saakashvili há muito vem sendo um enigma político. Quando a Revolução Rosa o levou ao poder em
um levante incruento em 2003,
o Ocidente decidiu que o trataria como a um messias retornado para levar a democracia ao
seu pequeno país do Cáucaso, e
espalhá-la pela região.
De maneira igualmente rápida, ele se tornou o inimigo número um do Kremlin. Enquanto o Ocidente se deliciava com a
reação em cadeia de "revoluções coloridas" que sua chegada ao poder deflagrou, os russos
se sentiam aterrorizados.
Mas enquanto Washington e
Bruxelas pareciam deliciados
diante de um líder desejoso de
abrir o país ao Ocidente e que
falava sua língua, sempre houve
dúvidas quanto à possibilidade
de que Saakashvili talvez se
comportasse de maneira um
tanto descontrolada.
A linguagem que ele emprega
com relação à Rússia sempre
foi provocadora, e o presidente
exibiu traços de impulsividade
e até mesmo de crueldade na
repressão a manifestações de
rua, neste ano.
Sem mastigar
Nos últimos dias, a expressão
de Saakashvili é a de um homem que abocanhou presa
maior do que conseguiria mastigar. A Rússia estava evidentemente ansiosa por um pretexto
para combater, mas parece difícil não concluir que a cartada
vital nesse arriscado jogo foi
dada por Saakashvili ao ordenar um ataque aberto contra a
Ossétia do Sul na noite do dia 7.
Ele decidiu que pagaria para
ver se Putin estava blefando, e o
premiê russo, ostentando a linguagem áspera que o tornou
conhecido, mostrou as cartas.
Na entrevista de segunda-feira, o líder georgiano exibiu
um sorriso estranhamente inadequado quando perguntado
sobre um "incidente de segurança" que teria envolvido a ele
e ao ministro francês do Exterior, Bernard Kouchner, anteontem em Gori, quando os
dois líderes foram conduzidos
apressadamente aos seus automóveis e levados para fora da
cidade. Um diplomata estrangeiro disse que Saakashvili "parecia perdido" nos últimos dias.
Ele claramente cometeu um
imenso erro de cálculo ao estimar o nível de apoio do Ocidente com que poderia contar em
caso de guerra.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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