São Paulo, sábado, 12 de outubro de 2002

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HOMENAGEM

Líder do comitê do Nobel diz que decisão é censura "à linha que o atual governo dos EUA adotou em relação ao Iraque"

Crítico a Bush, Carter leva o Nobel da Paz

DA REDAÇÃO

O ex-presidente dos EUA Jimmy Carter, 78, foi nomeado ontem ganhador do Prêmio Nobel da Paz. O dirigente do comitê norueguês responsável pelo prêmio cujo disse que a decisão era "uma crítica à linha que a atual administração norte-americana adotou em relação ao Iraque".
No mês passado, Carter disse que seria "um erro trágico" atacar o Iraque sem o apoio da ONU. Ontem, após tomar conhecimento do anúncio do Nobel, disse que teria votado contra a resolução do Congresso americano que autoriza o presidente George W. Bush a fazer uso da força contra o Iraque sem o aval da ONU, caso considere necessário. "Se estivesse no Senado, teria dito "não'", disse à TV CNN.
Carter, um democrata que foi presidente entre 1977 e 1981, recebeu o prêmio de US$ 1 milhão por décadas de atuação para resolver conflitos do Oriente Médio à Coréia do Norte, do Haiti à Eritréia. Havia 156 candidatos.
"Essa honra serve como inspiração não apenas para nós como também para as pessoas que sofrem em todo o mundo, e eu a aceito em nome delas", afirmou Carter, em comunicado emitido pelo Centro Carter, em Atlanta.
O comitê, composto por cinco membros, elogiou Carter por "décadas de esforço incansável para encontrar soluções pacíficas para conflitos internacionais e para promover a democracia e os direitos humanos". A premiação foi descrita por analistas como uma homenagem a um ex-presidente que foi mais elogiado depois de deixar o governo do que durante seu mandato.
O prêmio foi instituído em 1901 como último desejo do filantropo sueco Alfred Nobel. O comitê é indicado pelo Parlamento norueguês com base na força dos partidos representados na legislatura.
O presidente do comitê, Gunnar Berge, criticou a campanha de Bush para derrubar o ditador iraquiano, Saddam Hussein.
"Com a posição que ele [Carter] adotou... [o prêmio] pode e deve também ser visto como uma crítica à linha que a atual administração norte-americana adotou em relação ao Iraque", disse Berge, um ex-ministro trabalhista, depois de anunciar a premiação.
Questionado se foi um "chute na canela" de Washington, Berge disse: "Sim, a resposta é um incondicional "sim'".
Dois membros do comitê disseram que Berge tinha ido longe demais, indo além da citação oficial que fazia uma referência velada ao Iraque. "Eu me expressei como líder do comitê... não em nome de todos os membros", disse Berge à rádio norueguesa NRK.
A Casa Branca disse que estava satisfeita com a nomeação e mostrou indiferença em relação às críticas à sua política. Bush, que ameaça atacar o Iraque caso Bagdá não elimine suas armas de destruição em massa, ligou para Carter para cumprimentá-lo. Questionado sobre as críticas, Ari Fleischer, porta-voz da Casa Branca, disse apenas que "o presidente considera este [ontem] um grande dia".
O ex-presidente Bill Clinton afirmou que "ninguém é mais digno de receber o prêmio" do que Carter.
O presidente Fernando Henrique Cardoso enviou uma mensagem a Carter em que disse que "o comitê de Oslo fez justiça à sua extraordinária contribuição à promoção dos direitos humanos e ao fortalecimento da paz por meio do diálogo e da cooperação internacional".
O prêmio será entregue em 10 de dezembro, em Oslo.


Com agências internacionais


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