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VENEZUELA
Órgão eleitoral determina que oposição reconfirme entre os dias 18 e 22 parte das assinaturas que foram recolhidas
Caracas adia de novo decisão sobre referendo
ELIANE CANTANHÊDE
ENVIADA ESPECIAL A CARACAS
O CNE (Conselho Nacional
Eleitoral) empurrou com a barriga novamente ontem a decisão final sobre a realização de um referendo revogatório que na prática
pode resultar numa redução do
mandato do presidente Hugo
Chávez.
A oposição terá entre os dias 18
a 22 deste mês para reconfirmar
milhares de assinaturas recolhidas de pessoas que são a favor do
referendo para decidir se Chávez
deve ou não permanecer no poder. Até o fechamento desta edição, porém, não havia a definição
sobre o número definitivo de assinaturas em dúvida.
A expectativa generalizada, enquanto o CNE continuava reunido, era de que, do total de cerca de
3,4 milhões de assinaturas recolhidas pela oposição, 1,9 milhão
seriam consideradas válidas, 760
mil, sujeitas a "reparo", e 660 mil,
desqualificadas. Como são necessárias ao menos 2,4 milhões para
convocar o referendo, tudo dependeria de a oposição conseguir
reconfirmar as 760 mil assinaturas em dúvida.
De acordo com um primeiro
comunicado do conselho, emitido no meio da tarde, haverá uma
exigência para a reconfirmação
das assinaturas: em vez de os oposicionistas irem até os eleitores, de
casa em casa por exemplo, haverá
pontos fixos para que eles o façam
espontaneamente.
Além disso, ninguém poderia
preencher as planilhas em nome
dos eleitores. Um dos motivos para o "reparo" foi justamente a repetição da mesma caligrafia em
várias planilhas, apesar de as assinaturas serem diferentes.
Espera
A Coordenadora Democrática,
que reúne 18 partidos e grupos
oposicionistas, estava reunida
aguardando o anúncio definitivo
sobre os números para se manifestar oficialmente. A decisão, porém, vem sendo desde a semana
passada rechaçada pela oposição.
Também a Missão Carter, de
observadores independentes do
processo político venezuelano, estava reunida ao longo da tarde,
discutindo uma manifestação oficial em relação ao CNE, que foi
instalado com dois integrantes favoráveis ao governo, dois contrários e um quinto, neutro: seu presidente, Francisco Carrasquero.
Como a decisão do "reparo"
(rechecagem) de um número suficiente para inviabilizar o referendo, Carrasquero passou a ser
considerado também governista,
e os dois oposicionistas se retiraram das reuniões. Os observadores internacionais já pediram ao
CNE que não se prenda a tecnicalidades para anular assinaturas.
A postergação da definição sobre a realização do referendo, porém, pode interessar aos dois lados. Há analistas que crêem que
Chávez ganharia qualquer referendo, mas prefere não realizá-lo,
para não convulsionar ainda mais
o país. Já a oposição, temendo
uma derrota, pode usar o adiamento para manter seus militantes mobilizados.
A Constituição admite a possibilidade de um referendo para julgar a permanência ou não do presidente na metade de seu mandato de seis anos. Chávez foi eleito
em 1998, mas se submeteu a novas eleições em 2000 e tem mandato até 2006.
Se houver referendo antes de 19
de agosto e ele perder, haverá novas eleições. Se for depois dessa
data e ele perder, quem assume é
o vice-presidente, José Vicente
Rangel, tido como uma espécie de
eminência parda e conselheiro
político de Chávez. Ou seja: o referendo não serviria para nada, a
não ser para enfraquecer o regime
chavista.
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