São Paulo, segunda-feira, 01 de março de 2004

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CRISE NO CARIBE

Presidente é deposto por rebeldes, chefe do Supremo assume e CS da ONU se reúne para aprovar intervenção

Aristide foge; força internacional chega

Pablo Aneli/Associated Press
Haitianos celebram a partida ontem do presidente Jean-Bertrand Aristide em Cabo Haitiano, um reduto rebelde no norte do país


DA REDAÇÃO

Pressionado por uma rebelião e pelos EUA e pela França, Jean-Bertrand Aristide renunciou ontem à Presidência do Haiti e partiu para o exílio. Porto Príncipe, a capital, foi tomada pelo caos. Washington despachou marines para restaurar a ordem.
Os primeiros fuzileiros navais chegaram ontem à tarde. Eles devem constituir a primeira leva de uma força internacional de paz autorizada pela ONU. A França deve mandar 300 soldados.
No lugar de Aristide, assumiu Boniface Alexandre, o presidente da Suprema Corte, como preconiza a Constituição. Líderes rebeldes disseram que suspenderiam a rebelião e que apoiariam as forças internacionais. "Acho que o pior já passou, e esperamos pelas forças internacionais. Elas terão nossa total cooperação", disse à TV CNN Guy Philippe, um dos principais líderes de milícia rebeldes.
Diplomatas da ONU disseram que os membros do Conselho de Segurança iniciariam ainda ontem discussões para aprovar uma resolução autorizando o envio de soldados ao Haiti, tomado pela violência há pouco mais de três semanas, quando rebeldes começaram a expulsar policiais de cidades no norte do país.
"O governo acredita que é essencial que o Haiti tenha um futuro de esperança. Esse é o começo de um novo capítulo", disse o presidente dos EUA, George W. Bush, na Casa Branca. "Peço ao povo do Haiti que rejeite a violência. Os EUA estão prontos para ajudar", acrescentou.
Não foi divulgado o número de marines do primeiro destacamento, cujo envio foi ordenado por Bush poucas horas depois da queda de Aristide, culpado por EUA e França pela crise.
Apesar de não estar alinhada com os rebeldes, a oposição política também pressionou para que Aristide deixasse o país, o mais pobre do hemisfério ocidental. A rebelião matou pelo menos cem.
A anarquia se espalhou por Porto Príncipe com a notícia da partida do presidente. Apoiadores de Aristide, furiosos, tomaram as ruas da capital armados com velhos rifles, pistolas, facões e paus. Alguns abriram fogo selvagemente contra a multidão que se reunia na praça em frente ao Palácio Nacional. Saqueadores esvaziaram uma delegacia de polícia e atacaram farmácias, supermercados e outras lojas.
Detentos foram libertados da Penitenciária Nacional e de várias outras cadeias do país. Ignora-se o total de vítimas dos vários episódios de violência. Ao menos quatro teriam sido mortos na capital, onde o toque de recolher foi decretado à tarde.
"Cortem-lhes as cabeças e queimem suas casas", gritavam os manifestantes repetindo o grito de guerra de Jean-Jacques Dessalines, o general que expulsou as tropas francesas e acabou com a escravidão no Haiti.
O primeiro-ministro Yvon Neptune disse numa entrevista coletiva que Aristide renunciou "para evitar um banho de sangue". Não estava claro o destino do ex-presidente. O Panamá já lhe concedeu asilo temporário, mas um funcionário do governo dos EUA disse que a África do Sul era o país mais mencionado como exílio definitivo.
Três horas depois da partida de Aristide, o presidente da Suprema Corte Boniface Alexandre declarou que estava assumindo a Presidência, como previsto pela Constituição. Ele pediu calma à população. "A tarefa não será fácil", disse Alexandre, que tem fama de ser honesto.
Philippe disse que seus homens iriam para a capital, mas não se engajariam em novos combates. "O tempo não é mais o de lutar", afirmou, ao reconhecer Alexandre como presidente. "Espero que nenhum país aceite Aristide, assim ele será repatriado e poderemos julgá-lo. Ele fez coisas ruins", acrescentou Philippe, que foi chefe de polícia e já apoiou Aristide.

Com agências internacionais


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