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Ensaísta comenta eleição no Brasil e fala de livro em que defende que cultura define o "progresso" da humanidade
A receita do sucesso por Samuel Huntington
SYLVIA COLOMBO
EDITORA-ADJUNTA DA ILUSTRADA
"Lula conseguiu os 50%?", perguntou um ansioso Samuel P.
Huntington ao telefone, mal havia começado a entrevista que
deu, na última segunda -um dia
depois do primeiro turno das eleições no Brasil-, à Folha.
Para o cientista político norte-americano da Universidade Harvard, o presidenciável petista, caso eleito, terá de reafirmar sua popularidade por meio de ações
imediatas. "Se Lula se eleger, isso
vai energizar a sociedade brasileira. Mas a identificação popular
com seu governo só irá se definir
mesmo com as atitudes que ele
tomar assim que assumir. Senão,
pode seguir o exemplo desastroso
do..., como é mesmo o nome do
venezuelano?" "Hugo Chávez."
"Isso mesmo, Chávez, que chegou
ao poder com o mesmo tipo de
apoio e armou uma grande bagunça."
Huntington lança agora no Brasil "A Cultura Importa", coletânea
de artigos que investiga o impacto
da cultura no desenvolvimento
econômico e político das sociedades. O livro surgiu a partir de um
seminário organizado em 1999
pelo também cientista político Lawrence E. Harrison em Harvard e
que reuniu, entre outros, Carlos
Alberto Montaner, Jeffrey Sachs,
Francis Fukuyama, David Landes
e o próprio Samuel Huntington.
Por desenvolvimento econômico, leia-se, pela cartilha de grande
parte dos autores, liberalização de
mercados e privatizações e, no
plano político, a adesão à democracia nos moldes ocidentais.
Em sua introdução, Huntington
chama a atenção para o fato de,
nos anos 60, Gana e Coréia do Sul
terem economias muito semelhantes e, hoje, estarem em estágios muito diferentes de progresso material, com o segundo país
tendo atingido o Primeiro Mundo
em menos de quatro décadas.
Para o ensaísta, isso se deve, antes de tudo, a uma questão cultural. "Os sul-coreanos valorizavam
a frugalidade, o investimento, o
trabalho, a educação, a organização e a disciplina. Os ganenses tinham valores diferentes."
Para Huntington e Harrison, a
urgência de entender o impacto
da cultura na economia mundial
tem origem num contexto criado
a partir da Segunda Guerra. Logo
depois do conflito, houve um período de muito otimismo em relação a um desenvolvimento tido
como "inevitável", reforçado nos
anos 60 com o fim das últimas colônias. A recuperação da Europa
Ocidental e do Japão era prova
concreta disso, e a América Latina
deveria seguir o caminho do progresso político e material em menos de uma década.
Seguiu-se, entretanto, uma
grande decepção, pois poucos
países teriam atingido o patamar
esperado. A América Latina ainda
se apresentava como um mistério
por ter empacado no caminho.
O que explicaria o sucesso de
uns e o fracasso de tantos? A idéia
de que a cultura ofereceria elementos para esclarecer o enigma
tomou força nos anos 80, depois
do predomínio de explicações de
origem marxista que apresentavam o colonialismo e a dependência como justificativas para a pobreza de parte do planeta.
Para Harrison e Huntington,
tanto o colonialismo como a dependência caducaram e já não
dão mais conta do problema. "A
Cultura Importa" é uma resposta
a isso, na carona do polêmico
"Underdevelopment Is a State of
Mind - The Latin American Case
(O Subdesenvolvimento É um Estado de Espírito - O Caso Latino-Americano), lançado por Harrison nos anos 80 e que causou enfurecidos protestos no meio acadêmico latino-americano.
Para este continente, os autores
acreditam que a saída está na mudança da cultura política. E como
transformá-la? Huntington não
hesita na resposta: "Ou a América
Latina atravessa uma grande catástrofe e aprende um novo rumo,
como fizeram os países que perderam a Segunda Guerra, ou tem
de surgir um líder que supere as
forças da tradição da sociedade".
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