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CINEMA
"Contra Todos", do cineasta Roberto Moreira, relata história de um matador profissional do bairro da zona leste de São Paulo
Violência de Aricanduva alcança Berlim
FABIO CYPRIANO
ENVIADO ESPECIAL A BERLIM
A violência brasileira novamente chega às telas de cinema. Com a
estréia mundial anteontem à noite no Festival de Cinema de Berlim, "Contra Todos", de Roberto
Moreira, apresenta como figura
central um matador num subúrbio brasileiro, assim como ocorreu com os filmes "O Invasor", de
Beto Brant, e "O Homem do
Ano", de José Henrique Fonseca,
exibido em Berlim em 2003.
A sessão estava lotada, com os
400 lugares da sala de exibição
ocupados. No entanto, houve
apenas palmas burocráticas no final e a sala se esvaziou para o debate com o diretor após a exibição. O que era esperado, já que a
conversa começou à 0h30.
O filme chegou trazendo grande
expectativa ao festival, já que é
produzido pela O2, de Fernando
Meirelles, realizador de "Cidade
de Deus", que concorre em quatro categorias do Oscar. "O Fernando assistiu à primeira parte do
filme, gostou muito e deu um
apoio que permitiu que a gente
estivesse aqui", afirmou Moreira.
"Contra Todos" retrata a desagregação de uma família no bairro de Aricanduva, na zona leste de
São Paulo, por conta da "profissão" de Teodoro (Giulio Lopes),
um matador.
Durante o debate, obviamente,
a violência como um estereótipo
da realidade brasileira foi uma das
questões mais apresentadas ao diretor. "Há duas semanas, quatro
funcionários do Ministério do
Trabalho foram assassinados enquanto investigavam trabalho escravo, e isso aconteceu a 200 km
de Brasília. O lugar onde acontece
o filme está a 20 km da minha casa. Eu acho que essa é a realidade
do Brasil", disse Moreira.
A atuação do elenco, que traz
Leona Cavalli no papel de Cláudia, mulher de Teodoro, foi outro
dos destaques durante a discussão. "Queria um tipo de qualidade
documental na qual os atores fossem muito espontâneos e, por isso, trabalhei com bastante improvisação. Os atores participaram sem ler o roteiro e só sabiam o que ia acontecer no
dia das filmagens. Com isso,
eles foram construindo sua
própria história", explicou.
Amanhã é a vez da última
produção brasileira que participa da Berlinale: "O Outro
Lado da Rua", de Marcos
Bernstein. Entre as nacionais, é a que chega com espaço mais privilegiado, pois
a entrevista será concedida
na mesma sala que os filmes
da mostra competitiva, o
que não aconteceu com os
demais. Graças à Fernanda
Montenegro, que encabeça a
produção e há seis anos ganhou o Urso de Prata por
"Central do Brasil".
O jornalista Fabio Cypriano viajou a convite do Instituto Goethe
de São Paulo e da organização da
Berlinale
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