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MÚSICA
Rapper faz disco sem gravadoras nem distribuidoras
Produção independente
GUILHERME WERNECK
DA REPORTAGEM LOCAL
Enquanto fabricantes de discos
-incluindo aí multinacionais e
independentes- perdem espaço
para a pirataria e para a música on-line, o estilo "do it yourself" (faça você mesmo) ganha cada vez mais
adeptos e rende bons lançamentos.
Um dos mais legais dessa onda de
produção caseira e distribuição totalmente independente é "Financeiramente Pobre", do rapper paulistano Slim Rimografia, 25.
Para conseguir fazer o seu primeiro disco, Slim usou uma estratégia
pouco usual. Depois de deixar um
emprego, pegou o dinheiro de indenização do INSS e o investiu todo na
produção do disco. Comprou um
computador para fazer a música e
contou com os amigos para preparar as fotos e o encarte do CD.
Com o disco pronto, Slim chegou
até a procurar selos independentes.
"Mas ninguém quer lançar um álbum de cara. Recebi ofertas para entrar com as músicas em coletâneas,
mas eu não queria. Resolvi fazer tudo sozinho", diz.
A solução foi não prensar o disco
em uma fábrica, mas fazer todo o
trabalho de forma caseira. Ele grava
o disco no computador, um amigo
faz o silk screen e ele mesmo embala.
A distribuição é de mão em mão em
shows ou em lojas do centro de São
Paulo.
"Com a grana que eu tinha fiz 50
cópias. Quando vendi tudo, peguei o
dinheiro e fiz mais cem e assim por
diante. Já fiz 600", diz.
Dá para argumentar que um disco
feito em casa pode não ter a mesma
qualidade de um gravado em estúdio. Não é o caso de "Financeiramente Pobre". As 17 faixas do disco
são muito bem produzidas, e a criatividade supera a tecnologia. O mais
surpreendente é que Slim mal tinha
domínio do computador quando fez
o disco e começara a produzi-lo havia pouco mais de um ano.
"Comecei no hip hop com o grafite
e depois fiz uma oficina de MC. Eu
não fazia produção. Ficava em casa
pensando e escrevendo, até que senti que precisava ter um computador.
No primeiro mês com a máquina,
não saía nada. Sem condições. Mas
um amigo dava os toques e aí eu comecei", conta o rapper, que assina
sozinho a produção de 15 faixas do
álbum.
E não é uma produção qualquer.
"Financeiramente Pobre" é rico em
texturas e samples e, mais do que
calcado na batida linear do rap, é
cheio de suingue. E essa manemolência acomoda perfeitamente a rima ácida, mas bem-humorada, de
Slim.
"Faço um hip hop bem diferente,
com uma produção mais trabalhada. Isso porque as minhas influências são mais a bossa nova, a MPB, o
jazz e o samba." Uma declaração
que faz lembrar Andre 3000, do
"hypado" Outkast, que advoga que
não há mais novidade no rap.
Os pontos altos de "Financeiramente Pobre" são justamente essa
produção mais solta e o fato de o
disco ser todo conceitual, tratando
das desventuras de um aspirante a
rapper sem dinheiro.
"Penso no disco como um livro,
como uma história. Por isso eu fui
muito chato na hora de escolher as
músicas e a seqüência delas no álbum", diz Slim.
Um destaque do disco é "Falido",
um rap dançante, mais próximo do
humor do carioca De Leve do que
da rima sisuda dos Racionais.
"Financeiramente Pobre" é vendido a R$ 15. Para conseguir uma
cópia, basta escrever para [email protected].
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