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Projeto de lei prevê penas alternativas
DA REPORTAGEM LOCAL
No dia 12/2, a Câmara dos
Deputados aprovou o fim
da pena de prisão para os
usuários de drogas. Mas isso
não significa a descriminalização do uso de drogas.
De acordo com o projeto
de lei, que agora tramita no
Senado, quem for detido
consumindo ou portando
drogas poderá ser advertido
pelo juiz, ser obrigado a
prestar serviços comunitários ou ter de freqüentar curso ou programa educativo
durante cinco meses. Hoje a
lei determina pena de seis
meses a dois anos de prisão
para usuários de drogas.
Para o deputado federal
Paulo Pimenta (PT-RS), relator do projeto de lei na Câmara, o texto avançou o máximo possível sem descriminalizar as drogas. "Acho que
era necessário enfrentar a hipocrisia de manter o cárcere
como medida terapêutica
para o usuário ou para o dependente", disse.
O secretário nacional Antidrogas, general Paulo
Uchôa, lembra que o projeto
de lei, se aprovado, substituirá as leis "remendadas de
1976" e instituirá o Sisnad
(Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas).
"Com o projeto criamos um
instrumento legal sobre o
qual é possível trabalhar alguns avanços, como a questão de acabar com as penas
privativas de liberdade para
o usuário e para o dependente. Mas também devemos falar do endurecimento das
penas para o tráfico", disse,
lembrando que o projeto de
lei torna crime o financiamento do tráfico (pena de 8 a
20 anos de prisão) e institui o
agravamento da pena para
traficantes -que varia de 5 a
15 anos de prisão- em caso
de envolvimento de servidores públicos (como policiais), de crianças e adolescentes ou de associação com
o tráfico internacional.
As principais críticas que o
projeto de lei recebe são as de
que estimularia o uso de drogas. Em reportagem publicada
na Folha em 13/2, deputados
evangélicos criticaram o projeto de lei, afirmando que ele
"desestimulará o trabalho da
polícia" e incitará o uso de drogas. "[O projeto] é um estímulo moral ao uso das drogas,
porque a prisão ainda é um
freio para os usuários", reclamou o deputado Jefferson
Campos (PMDB-SP). "Houve
pouco tempo de discussão para um projeto polêmico como
esse", disse o presidente da
Frente Parlamentar Evangélica, Adelor Vieira (PMDB-SC).
O general Uchôa não concorda com essa posição, embora
diga que a respeita. "Muitas vezes os pais ocultam ou acobertam o uso de drogas dos filhos
com medo que ele vá para a
prisão. Alguns impedem até o
tratamento por causa desse
medo. Por isso a necessidade
desse novo olhar, de extinguir
a prática danosa de encarcerar
o usuário", afirmou.
Para o deputado federal Fernando Gabeira (sem partido-RJ), que mantém posição histórica a favor da descriminalização das drogas, o projeto representa um avanço ao acabar
com a prisão para usuários.
"Para milhares de jovens, sobretudo os mais pobres, o projeto representa a garantia de
que eles não vão ser submetidos à violência, aos maus-tratos e à coexistência com delinqüentes na cadeia. Para os pais
da classe média, significa que
não serão achacados como
eram antes", disse.
Paulo Pimenta toca num outro ponto que a nova lei deixa
mais claro: o da pessoa que fornece drogas, por exemplo, a
um amigo. "Dentro do crime
de tráfico, essa pessoa foi classificada de outra forma: como
quem estimula, instiga o uso
de drogas. Ela terá uma pena
mais reduzida, de um a três
anos de prisão", afirmou.
(GUILHERME WERNECK)
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