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CONJUNTURA
Mesmo com incentivo do governo, executivos não têm intenção de abrir fábricas ou escritórios fora do país
Investir no exterior está fora da ordem do dia
FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL
Bem quando o governo decide
lançar uma linha de financiamento para internacionalizar as empresas brasileiras estudos constatam: a maioria dos executivos não
tem intenção de investir no exterior, e há dúvidas entre economistas se é bom para o Brasil bancar
investimentos em outros países.
Consultas feitas no final de 2001
e no início deste ano com empresas exportadoras mostram que o
interesse pelo mercado externo
não é tão forte a ponto de abrir escritórios ou fábricas no exterior.
Especialistas levantam a seguinte
questão: é hora de o país financiar
investimentos fora? O BNDES
(Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) anunciou na semana passada que vai
criar linha de financiamento para
promover a internacionalização
das empresas brasileiras.
"Apoiar investimentos em comércio e distribuição de produtos
no exterior é apoiar emprego no
Brasil, mas em fábrica é uma
questão bem mais polêmica", diz
Roberto Iglesias, coordenador de
trabalho da Funcex (Fundação
Centro de Estudos de Comércio
Exterior) sobre Promoção das Exportações via Internacionalização
das Firmas de Capital Brasileiro.
Levantamento da Funcex revela
que 71% de 322 empresas de capital nacional exportadoras consultadas no início deste ano não pretendem investir no exterior. Considerando apenas as empresas de
grande porte, com mais de 500
empregados, que representam
21% da amostra, esse percentual
ainda é muito alto, de 66,7%.
A principal razão mencionada
pelos empresários é a falta de necessidade. Isto é, investimentos
no mercado externo não fazem
parte das estratégias das empresas. Depois citam o fato de que os
produtos que fabricam não exigem estrutura fora do país (como
assistência técnica) e, em seguida,
as dificuldades para realizar investimentos em outros mercados.
A Fundação Dom Cabral também verificou em levantamento
feito no final de 2001 que as empresas brasileiras têm pouco interesse no mercado internacional.
Comparando as estratégias das
companhias do Brasil com as de
outros 49 países, o país fica em 30�
lugar entre os que vêem o mercado externo como atraente.
Entre os dez países mais ávidos
para investir estão Suíça, Alemanha, Suécia, Finlândia, Hong
Kong, Cingapura e Chile -países
com mercado interno pequeno.
"As empresas brasileiras não
têm cultura voltada para a internacionalização. O foco é para o
mercado interno, que tem enorme potencial", afirma Carlos Arruda, diretor de desenvolvimento
da Fundação Dom Cabral.
"O mercado externo para as
empresas brasileiras ainda é usado como válvula de escape, e não
como estratégia de vendas", diz
José Augusto de Castro, diretor da
AEB (Associação de Comércio
Exterior do Brasil).
A cultura de dar preferência ao
mercado local é típica dos países
com potencial de crescimento e
em desenvolvimento. No caso do
Brasil, a filosofia da maioria dos
empresários é a seguinte: se é possível vender a produção aqui, por
que investir na conquista de clientes em outros mercados?
Polêmica
Os especialistas em comércio
exterior e os empresários estão divididos quanto aos benefícios trazidos para o Brasil dos investimentos no exterior. Pelo levantamento da Funcex, o investimento
externo é importante se resultar
na expansão das exportações do
país e contribuir para aumentar a
produtividade das empresas.
Para Mariano Laplane, professor do Instituto de Economia da
Unicamp, a linha de financiamento para a internacionalização das
empresas que o BNDES vai criar
não faz sentido se considerar a
pauta de exportação atual, concentrada em commodities e produtos semi-elaborados.
"Agora, vale se o país quiser colocar no exterior produtos novos,
com maior valor agregado, que
vão demandar, por exemplo, assistência técnica local", afirma Laplane. O estímulo à internacionalização de empresas, diz, não pode ser para qualquer um. "O
BNDES não pode dar dinheiro
para um banco abrir agência fora,
mas sim para aumentar as exportações de um determinado setor."
A pauta de exportação do país,
destaca a Funcex, está concentrada em produtos como complexo
soja, café, açúcar, fumo, minério
de ferro, alumínio e semimanufaturados de ferro e aço, que não
exigem instalações no exterior para acompanhamento até a chegada aos clientes ou manutenção.
O Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial)
defende a idéia de que a linha de
financiamento à internacionalização das empresas é necessária e
tende a beneficiar as exportações
brasileiras. Para alguns setores,
como o siderúrgico, estar fora é
quase uma condição para ser
competitivo e ainda uma maneira
de driblar as barreiras protecionistas dos países desenvolvidos.
Início
Os investimentos de empresas
brasileiras no exterior começaram a partir de meados dos anos
60. Até o início da década de 80 a
internacionalização ficou concentrada na Petrobras, em instituições financeiras e em empresas
do setor de construção civil.
A Petrobras foi ao exterior motivada pela procura de fontes alternativas de fornecimento de petróleo. Os bancos buscaram acesso à captação no mercado internacional e, as construtoras, oportunidades para escapar da crise
do país pós milagre econômico.
Pelo levantamento da Funcex,
ate o início da década de 80 poucas empresas manufatureiras tinham investido no exterior. Entre
elas, Copersucar e Gerdau.
A partir da década de 80, o que
se verificou foram mudanças nas
características de investimentos.
Diferentemente de anos anteriores, quando só grandes empresas,
com faturamento acima de US$
500 milhões, arriscavam investir
fora do país, empresas menores
começaram a ir para fora, especialmente na América do Sul. Os
setores que mais se internacionalizaram foram material de transporte, têxtil e siderurgia.
A tendência, na análise de especialistas em comércio exterior, é o
país avançar daqui para a frente
no processo de internacionalização das empresas.
A participação das empresas
brasileiras no exterior ainda é
considerada tímida. O Brasil ocupa a 28� colocação num ranking
de 49 países que mais investem no
exterior, segundo levantamento
da Unctad de 99, está atrás da Coréia (21�) e do Chile (18�), por
exemplo. Enquanto o país colocou no exterior US$ 1,7 bilhão em
99, Coréia e Chile levaram mais de
US$ 4 bilhões.
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