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Inflação reduz opções do BC dos EUA
Preços ao consumidor têm maior alta desde passagem do Katrina, em 2005, tornando mais difícil novo corte nos juros
Alta na inflação, puxada por alimentos e combustível, e chance de recessão elevam temores de estagflação na principal economia mundial
DA REDAÇÃO
Os preços para o consumidor
americano atingiram no mês
passado a sua maior alta desde
a passagem do furacão Katrina
pelo país, em 2005. A alta dos
preços pode limitar as opções
do Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA) para impedir a desaceleração da maior
economia do planeta, abalada
pela crise financeira que começou no setor imobiliário.
O CPI (o índice de preços ao
consumidor americano), considerado mais importante na hora de o Fed avaliar os rumos da
inflação, subiu 0,8% no mês
passado, pressionado especialmente pelos preços de energia,
que cresceram 5,7% em novembro, período em que o petróleo bateu recordes históricos. Foi a maior alta do índice
desde setembro de 2005, quando avançou 1,2%. Em outubro,
ele tinha subido 0,3%.
Mesmo o núcleo da inflação,
que exclui os preços de energia
e alimentos (considerados mais
voláteis), teve aumento expressivo: 0,3%, a maior alta desde
janeiro. A última vez em que o
núcleo ficou acima de 0,3% foi
em novembro de 2001. A alta
sinaliza que os aumentos dos
preços estão influenciando o
resto da economia.
Nos últimos 12 meses, o núcleo subiu 2,3%, acima, portanto, da meta do Fed, que é de entre 1% e 2%. Foi a primeira vez
desde janeiro que houve alta na
inflação nos últimos 12 meses
-em outubro, ela tinha somado 2,2%. O resultado da inflação influiu negativamente nas
Bolsas americanas e na Bovespa ontem.
Já o PPI, que mede os custos
dos bens antes de eles chegarem às lojas, divulgado anteontem, cresceu 3,2% no mês passado -a maior alta desde 1973.
Os preços de energia foram os
principais culpados, ao subirem 14,1%. Nos 12 meses até
novembro, a inflação ao produtor cresceu 7,2%, a maior marca desde 1981.
Os membros do Fomc (comitê de política monetária do BC
dos EUA) devem se mostrar
mais relutantes para cortar a
taxa de juros básica -uma maneira de injetar liquidez na economia-, temendo novos aumentos na inflação.
"Existe uma preocupação
real e crescente em relação à inflação", afirmou Jeoff Hall, economista da Thomson Financial. "Isso limita as opções do
Fed e rouba a autonomia deles.
Isso explica por que o Fed não
cortou mais os juros e de maneira mais agressiva."
Nas suas últimas três reuniões, o Fed cortou em 0,75
ponto percentual a taxa de juros básica, para 4,75%. E, na
reunião desta semana, quando
reduziu os juros em 0,25 ponto
percentual, o BC dos EUA afirmou que "agirá quando for necessário para garantir a estabilidade dos preços e o crescimento econômico sustentável". A declaração foi vista como um sinal de que o Fed poderá cortar novamente os juros
no ano que vem -a sua próxima reunião está marcada para
29 e 30 de janeiro.
Ao cortar os juros, o Fed quer
tornar mais barato o acesso ao
crédito, movimentando a economia. Porém a inflação alta
pode fazer com que empresários já levem em conta aumentos expressivos na hora de decidir os preços futuros dos seus
produtos.
"A alta nos preços pode não
apenas continuar no próximo
ano, como poderemos ver taxas
ainda mais altas de inflação",
afirmou Conrad DeQuadros,
economista do Bear Stearns.
"Um ambiente em que a política monetária está mais frouxa
dá mais oportunidades para o
comércio passar preços mais
altos para os consumidores."
O novo aumento nos preços
já começa a criar temores de estagflação -estagnação econômica mais inflação.
O próprio Fed tem alertado
nas últimas semanas de que a
economia deve se desacelerar
no curto prazo.
No fim do mês passado, Ben
Bernanke, o presidente do BC
americano, afirmou que o consumidor ainda deve enfrentar
alguns "ventos contrários" nos
próximos meses. A Casa Branca reduziu em novembro a sua
previsão de alta do PIB do ano
que vem para 2,7%, contra 3,1%
na previsão anterior.
Com o "Financial Times"
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