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TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS
Eleições de hoje no Japão não garantem ajuste
GILSON SCHWARTZ
da Equipe de Articulistas
O Japão vai às urnas hoje. Para
alguns analistas, o governo japonês estaria adiando medidas mais
fortes de ajuste, como fechar alguns bancos e socorrer outros, ou
reduzir impostos, até as eleições.
O cenário político japonês, como tudo no país, muda gradualmente. Pesquisas mostram que o
Partido Liberal Democrático
(PLD) continuará hegemônico.
Mas o Partido Comunista Japonês,
por exemplo, deverá dobrar sua
participação parlamentar.
Na economia, a única diferença
entre boa parte dos partidos é o tamanho do corte de impostos prometido. Sintomaticamente, entretanto, o PLD não divulgou qual seria a sua proposta de redução de
impostos. É isso que afinal deixa
os observadores ocidentais irritados com a elite japonesa.
Além das reduções de impostos
residenciais, sobre a renda e locais, alguns dos partidos de oposição gostariam de cancelar o aumento do imposto sobre o consumo (que foi de 3% para 5%). O
PLD não tem esse compromisso.
Nas últimas duas semanas, entretanto, o primeiro-ministro
Ryutaro Hashimoto foi praticamente obrigado a abraçar com intensidade crescente a proposta de
redução de impostos. A cada declaração sua, vaga ou inconclusiva
com relação ao tema, o iene sofria
um ataque especulativo. A princípio, ele teria assumido apenas o
compromisso com cortes temporários de impostos. Na semana
passada, ele aderiu à tese da redução permanente, restrita a impostos residenciais e sobre a renda.
Os ocidentais continuam irritados. O Japão tem sido acusado de
lentidão nas reformas do sistema
financeiro e de insuficiência na
promoção do crescimento.
Entretanto, a opção pela redução de impostos de fato não é consensual como forma de estimular
a economia, na teoria e na prática.
Um dos mais importantes jornais
econômicos do Japão, o "Nihon
Keizai Shimbun", realizou há
poucas semanas uma pesquisa sobre o assunto entre consumidores,
em conjunto com o "Nikkei Research Institute of Industry and
Market" (Instituto Nikkei de Pesquisa Industrial e de Mercado).
O resultado revelou que o consumidor japonês provavelmente
não responderia a um corte de impostos da forma esperada pelo
modelo convencional de política
econômica. Para 76,1% dos entrevistados, não haveria mudança
nos hábitos de consumo. Outros
7,4% aumentariam "até certo
ponto" o consumo, e só 0,3%
consumiriam muito mais.
Desemprego
O mistério não é tão insondável.
O mercado de trabalho japonês
passa por abalos como não se via
há décadas. O consumidor é também um trabalhador que, se não
está desempregado, percebe claramente que as mudanças não tendem a favorecer os assalariados.
Obviamente, quem teme o desemprego ou algum benefício social não optará por gastar mais se
o governo cortar impostos.
É outra dessas inconsistências
que fazem a ruína das teorias. Os
especialistas pedem menos impostos e "flexibilização" do mercado
de trabalho japonês. Tudo para estimular as empresas a investir e
exportar mais. Mas as duas medidas juntas abalam as expectativas
do consumidor japonês. Habituado a poupar, ele poupará ainda
mais diante da incerteza geral que
abala o seu país.
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