São Paulo, segunda-feira, 01 de março de 2004

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APERTO

Diretor-gerente do FMI diz que irá estudar forma que permita maior gasto em infra-estrutura sem afetar meta fiscal

Governo negocia mudar cálculo de superávit

Bruno Stuckert/Folha Imagem
Horst Köhler (ao fundo), do FMI, e o ministro Antonio Palocci


CLÁUDIA DIANNI
SÍLVIA MUGNATTO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo brasileiro e o FMI (Fundo Monetário Internacional) negociam mudar o cálculo do superávit primário (receitas menos despesas, exceto juros) para que possa haver um aumento dos investimentos em infra-estrutura.
Não foi esclarecido, porém, que mudança seria essa. A meta de superávit primário para este ano é de 4,25% do PIB (Produto Interno Bruto) -a mesma de 2003.
A sinalização de uma mudança foi dada ontem, em um churrasco na Granja do Torto, em Brasília, que reuniu o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o diretor-gerente do FMI, Horst Köhler.
Na sexta-feira, foi divulgado que a economia brasileira sofreu retração de 0,2% em 2003, na comparação com 2002. Foi a primeira queda do PIB em 11 anos. Uma das críticas feitas ao governo Lula é que parte da culpa seria da meta fiscal rigorosa, que engessa os investimentos. A necessidade de aumento dos investimentos em infra-estrutura e da retomada do crescimento sustentado foram os principais temas do almoço.
Neste ano, o governo brasileiro negociou para que R$ 2,9 bilhões de despesas na área de saneamento básico fossem retiradas do cálculo do superávit. Se as despesas ficassem dentro do cálculo, o país teria que economizar em outras áreas para compensar.
A Folha apurou que a idéia é fazer a mesma negociação para outros setores, como habitação. Além disso, o FMI poderá aceitar que os investimentos mais rentáveis, como os realizados por algumas empresas estatais, também sejam retirados do cálculo.
"É preciso gastar mais com infra-estrutura nos países da América Latina. É preocupante que esses investimentos em muitos países da região tenham declinado na última década", disse Köhler.
"Vamos discutir isso no conselho do FMI e com investidores da América Latina para que, no curso deste ano, possamos ter um conceito claro sobre como investimentos em infra-estrutura podem crescer em um arcabouço de disciplina fiscal", disse.

Seguro
Lula disse ao número um do Fundo que também é necessário criar um mecanismo de prevenção de crises, ou um "seguro", para os países emergentes que estão seguindo uma política econômica "responsável" como o Brasil.
"Seriam dados aos países a possibilidade e a garantia de desenvolvimento de seus próprios programas econômicos", disse o ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) ao relacionar vantagens do mecanismo de "seguro".
O governo brasileiro, porém, tem dito sempre que termos dos acordos feitos com o FMI não são uma imposição da instituição.
Palocci lembrou que o Brasil teve que fazer um acordo tradicional com o FMI para este ano mesmo avisando com antecedência que não precisaria de empréstimos -seria apenas um aval para melhorar a confiança dos investidores estrangeiros no país.
O ministro disse que está na hora do Fundo "avançar" em mecanismos preventivos para os futuros acordos com os países-membros. Segundo ele, essa não é uma "necessidade imediata" do Brasil, mas interessa a outros países.
O churrasco de ontem durou três horas. Além de Palocci estavam presentes o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, e o ministro da Casa Civil, José Dirceu.



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