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Droga antiobesidade pode elevar em 40% risco de depressão
Pesquisa sobre o Acomplia, considerado uma das grandes promessas da indústria farmacêutica, envolveu 4.105 pessoas
Nos EUA, o medicamento foi vetado; no Brasil, apesar de ter sido aprovado, ainda não é vendido por causa de um impasse sobre o preço
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
O medicamento antiobesidade Acomplia (rimonabanto)
pode aumentar em 40% o risco
de transtornos psiquiátricos
graves, como depressão e ansiedade, revela um estudo dinamarquês publicado na última
edição da revista "The Lancet".
A pesquisa envolveu uma
análise conjunta de quatro estudos clínicos (metanálise)
com 4.105 pessoas sem histórico anterior de depressão, divididas em dois grupos: os que receberam 20 miligramas por dia
de rimonabanto e outros que
tomaram placebo. Em um ano,
o primeiro grupo perdeu 4,7
quilos a mais que o segundo e
apresentou também mais reações psiquiátricas adversas.
É a primeira metanálise publicada sobre os efeitos colaterais do remédio -considerado
uma das maiores promessas da
indústria farmacêutica no
combate à obesidade.
O Acomplia foi vetado em junho pelo FDA (agência norte-americana que regula alimentos e fármacos) que pediu mais
estudos sobre os seus efeitos
colaterais, especialmente os
distúrbios psiquiátricos e risco
de suicídios. Na Europa, ele é
vendido há mais de um ano.
No Brasil, a droga foi aprovada pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) em
abril, mas ainda não é vendida
por um impasse sobre o preço.
A fabricante Sanofi-Aventis
quer comercializá-lo a R$
250,74, mas a Cmed (Câmara
de Regulação do Mercado de
Medicamentos) estipulou o
preço em R$ 130,05.
Alheias ao imbróglio, muitas
pessoas têm importado o medicamento. Só em São Paulo, ao
menos 3.000 pacientes de 12
endocrinologistas e cardiologistas estão usando o remédio.
Para a Anvisa, a droga é segura
desde que obedecidas as indicações médicas -pessoas com
a síndrome metabólica, situação que aumenta o risco de
doenças cardiovasculares.
Segundo Arne Astrup, do departamento de nutrição humana da Universidade de Copenhague e uma das autoras do
estudo, a metanálise mostra
que mesmo pessoas sem histórico prévio de depressão têm
risco elevado de desenvolvê-la
com o uso do rimonabanto.
A professora Ana Maria Cardoso, 52, é um exemplo. Ela
conta que sempre se considerou uma "gorda feliz", mas que,
um mês após iniciar o tratamento, começou a se sentir deprimida, sem vontade de sair de
casa. "Só chorava. De repente
tudo ficou cinza", afirma.
Ela diz que demorou pelo
menos duas semanas até associar a depressão à medicação.
"Assim que falei com meu médico, ele suspendeu a medicação e, em poucos dias, eu já me
sentia outra."
Já o comerciante Carlos Silva, 45, teve uma experiência inversa. Com o tratamento, perdeu quatro quilos e relata ter
conseguido melhorar os níveis
de colesterol. "Uso [o Acomplia] há um ano e me sinto até
de melhor de humor."
Philip Mitchell, chefe da escola de psiquiatria da Universidade de New South Wales
(Austrália), co-autor do editorial que acompanha o estudo,
observa que a depressão é comum em pessoas obesas e pode
se manifestar em outros tipos
de tratamento para emagrecer.
Benefícios
Médicos brasileiros defendem o Acomplia e dizem acreditar que ele traz mais benefícios do que riscos, mas intensificaram o monitoramento.
A endocrinologista Maria
Fernanda Barca, por exemplo,
examina pacientes a cada 25
dias. Só depois de avaliá-los e se
certificar de que não apresentam sintomas psiquiátricos é
que ela continua o tratamento.
Barca tem 125 pacientes que
já utilizaram o remédio. Desse
total, 6% apresentaram ansiedade, tristeza ou depressão leve. Para ela, o remédio continua sendo uma ótima opção para quem apresenta a síndrome
metabólica. "Sem dúvida, os
benefícios superam os riscos."
O endocrinologista Antonio
Roberto Chacra, da Unifesp
(Universidade Federal de São
Paulo), defende que a droga seja dada ao "paciente correto".
"Jamais deve ser indicada para
fins estéticos. É para quem tem
real risco cardiovascular."
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