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Células com DNA modificado curam câncer terminal
Cientistas dos EUA aniquilam tumor de pele em metástase implantando células geneticamente alteradas nos doentes
Técnica foi testada em 17 pacientes com melanoma em estágio final; dois deles
se curaram e 13 reagiram parcialmente à estratégia
DA REPORTAGEM LOCAL
Cientistas do Instituto Nacional do Câncer dos EUA que
usaram células geneticamente
alteradas para tratar pacientes
de melanoma (tumor de pele)
conseguiram algo que pode ser
classificado como o primeiro
caso de sucesso da terapia gênica contra o câncer.
A técnica foi testada em 17
pacientes, sendo que dois dos
quais se curaram. Esse número
aparentemente baixo pode ser
considerado excepcional, uma
vez que todos os voluntários do
teste já estavam com tumores
em estado avançado e em metástase -espalhando-se para
outras partes do corpo. Todos
eles já haviam sido submetidos
a tratamentos-padrão com quimioterapia e radioterapia sem
apresentar melhora.
A estratégia usada pelos cientistas foi estimular o sistema
imunológico dos próprios pacientes a reconhecer e atacar os
tumores. Para isso, o grupo extraiu linfócitos -células de defesa do organismo- dos doentes e inseriu neles um gene (veja quadro à direita). Depois, os
linfócitos eram reimplantados
nos pacientes, na tentativa de
que fossem acolhidos pelo sistema imune. Uma vez incorporados, eles poderiam reconhecer e atacar o melanoma.
Em dois dos pacientes, as células alteradas se multiplicaram e conseguiram debelar o
tumor. Em outros 13, os linfócitos chegaram a proliferar um
pouco, mas o câncer não regrediu. Em dois outros pacientes
não houve reação nenhuma.
"Sei que tive sorte em poder ter
me submetido a isso [o tratamento] e reagido bem", disse
Mark Origer, 53, um dos pacientes curados.
O resultado dos testes, liderados por Steven Rosenberg, é
descrito hoje em um estudo no
site da revista "Science"
(www.sciencemag.org).
Questão de nome
Rosenberg não se refere ao
próprio trabalho como estratégia de "terapia gênica", uma vez
que não houve inserção de genes diretamente nos pacientes,
mas sim em células reimplantadas. "Podemos pegar uma célula normal de qualquer pessoa
e convertê-la em uma célula
que reconhece câncer", diz.
Outros cientistas porém, não
vêem problema em usar o termo. "É um dos primeiros casos
reais documentados de sucesso
em terapia gênica contra câncer", diz Patrick Hwu, da Universidade do Texas, ex-colega
de Rosenberg. Os cientistas, na
verdade, usaram uma estratégia típica de terapia gênica para
inserir genes nos linfócitos: um
vírus alterado carregava o DNA
escolhido pelos cientistas para
dentro das células.
Apesar do sucesso com pacientes em estado terminal, a
técnica deve levar tempo até
poder ser usada como tratamento em larga escala. "Fazer
isso na prática é muito complicado", diz José Alexandre Barbuto, pesquisador do Instituto
de Ciências Biomédicas da USP
que trabalha com ferramentas
imunológicas contra o câncer.
"Não acho que isso venha a se
tornar um instrumento de tratamento padrão", afirma.
Alguns grupos acreditam que
deve haver maneira mais simples de induzir linfócitos a reconhecer células tumorais, como uma vacina terapêutica,
técnica adotada por Barbuto.
"Mas o resultado deles foi melhor que o nosso", diz.
Rosenberg reconhece que
sua técnica ainda está em um
estágio preliminar de desenvolvimento, mas acredita que ela
possa trazer algumas vantagens em relação a outras, no futuro. "Ela não é como quimioterapia ou radioterapia, que param de agir uma vez que o tratamento acaba", diz. "Estamos
fornecendo células vivas que
continuam a crescer e funcionar no corpo."
(RAFAEL GARCIA)
Com Associated Press
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