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OUTRO LADO
Deputados negam favorecimento
DA REPORTAGEM LOCAL
Dos 13 deputados da comissão
donos de emissoras de rádio e TV,
9 deram entrevista à Folha e negaram privilegiar seus interesses
empresariais nas votações.
"Acho que médico tem que ficar
na [comissão] de saúde e [pessoas
ligadas à] comunicação, na de comunicação", afirmou José Carlos
Martinez (PFL-PR).
Ele negou que seu projeto, que
obriga as operadoras de cabo a
carregarem retransmissoras de
TV, como as de sua propriedade,
o favoreça empresarialmente.
"Hoje, minhas emissoras já são
carregadas [pelo cabo]." Mas, futuramente, Martinez poderia ter
de refazer acordos para manter a
CNT no cabo. Sobre isso, afirmou, rindo: "A lei obrigará a carregar e não vai ter esse problema".
Corauci Sobrinho (PFL-SP),
presidente da comissão e dono de
uma rádio AM, também fala em
médicos. "É como os médicos que
debatem assuntos de saúde na
Câmara. Já fiquei na comissão por
sete anos e nunca vi esse tipo de
interesse corporativo", afirma.
Resposta semelhante foi dada
por Henrique Alves (PMDB-RN),
que possui rádios. "As comissões
são temáticas. Não se deve pôr um
médico para falar sobre os problemas da radiodifusão."
Ele afirmou também que voltou
ao Congresso no ano passado para ser o relator da entrada do capital estrangeiro porque acompanhou o projeto desde o início.
Nelson Proença (PPS-RS) disse
que comprou as concessões antes
de entrar para a comissão de comunicação, em 1990. "Veria uma
profunda incompatibilidade [em
ser dono de rádio e membro da
comissão] se eu tivesse obtido essas rádios por concessão."
Proença criticou o projeto de
Martinez. "Fui relator desse projeto na comissão de economia e
fiz um parecer contrário. Acho
um absurdo esse projeto."
Segundo Carlos Nader (PFL-RJ), cuja família possui uma rede
de rádio e TV no Rio, sua atuação
parlamentar é independente de
seus interesses empresariais. "Fui
eleito pelo povo e não posso olhar
o meu lado, mas o da população."
Proprietário de uma rádio FM
na cidade goiana de Minaçu, Carlos Alberto Leréia (PSDB-GO)
afirmou que poderia haver problema no caso de "empresários
que defendem grandes corporações". "Mas eu tenho uma rádio
numa cidade de 35 mil habitantes
e não tenho interesse em ter outra. Queria que fizesse essa observação porque senão vai me misturar com essa turma."
Com duas rádios no interior de
Pernambuco, José Mendonça Bezerra (PFL-PE) ironizou a hipótese de legislar em causa própria na
comissão: "Pode ficar tranquila
porque se quiserem me tirar dessa
comissão e me pôr em outra, não
faço questão nenhuma. Essas
emissoras me dão prejuízo".
Ricardo Barros (PP-PR), sócio
de uma AM em Maringá, diz que
esse fato não afeta suas decisões.
"Fiz um recurso para manter as
rádios comunitárias, apesar de serem minhas concorrentes."
Alexandre Santos (PSDB-RJ)
afirma que a participação de empresários de rádio e TV na comissão de comunicação deve ser vista
com cautela. "Eu tenho uma rádio
muito pequena, no interior. Não
tenho nenhum interesse empresarial nisso. É preciso cautela para
que não haja corporativismo."
Os outros quatro membros da
comissão proprietários de emissoras de rádio e TV -Júlio César
(PFL-PE), Bispo Wanderval (PL-SP), José Rocha (PFL-BA) e Pedro
Irujo (PFL-BA)- foram procurados pela Folha por quatro dias para falar sobre o assunto, mas não
deram resposta.
(LM)
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