São Paulo, sábado, 12 de outubro de 2002

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Candidatos do PT cresceram no final, diz diretora do Ibope

DA REPORTAGEM LOCAL

A diretora-executiva do Ibope, Márcia Cavallari, afirma que todos os candidatos do PT cresceram na reta final.
 

Folha - Por que a divergência entre as pesquisas e os números do TSE da eleição para senador?
Márcia Cavallari -
Foram votados dois candidatos ao Senado e o resultado das pesquisas que estavam sendo divulgadas ao longo da campanha mostrava o índice de cada candidato em cima do total de eleitores. Na hora em que o TSE começou a divulgar os resultados, eles somaram os votos nominais, recalculando esses percentuais.

Folha - Eles calcularam para cada uma das vagas?
Márcia -
Isso. Os votos de cada um em relação às duas vagas, em cima de todos os votos nominais. Então, não é uma comparação direta. Se você calcular a pesquisa do Ibope da mesma forma que o TSE divulgou a apuração, [Aloizio" Mercadante teve 28% na nossa boca-de-urna, e no TSE ele teve 30%. A confusão foi criada pela base de comparação.

Folha - Com relação à performance do Ibope na pesquisa presidencial, o que fugiu à expectativa de vocês?
Márcia -
A avaliação tem de ser feita sobre o conjunto das informações que foram fornecidas ao longo da campanha. Desde nossa pesquisa do dia 14 de setembro o Lula vem apresentando um percentual de votos válidos na casa de 48%. Depois eu tenho 45%, 48%, 48%, na pesquisa da véspera a gente achou um pouquinho mais, 50%, e na da boca-de-urna, 49%. A tendência desses números é essa. O [José" Serra teve 22%, 22%, 21%, 21%, 22%, na boca-de-urna, 20%. E ele teve 23% no TSE.

Folha - Nessa série, o final ficou fora da margem de erro...
Márcia -
Essa série faz com que a margem de erro seja minimizada. Você tem que ver o conjunto, porque uma pesquisa sozinha pode oscilar muito mais do que o conjunto de informações que você está tendo.

Folha - É preciso observar a curva?
Márcia -
Sim, porque numa pesquisa só você pode sofrer oscilações amostrais e intervenções de outras variáveis que podem provocar uma variação em relação ao histórico. No conjunto, em todo o processo eleitoral e desde meados de setembro, o Ibope dizia que Lula tinha cerca de 48% dos votos válidos. Acabou tendo 46%. O Serra estava na casa dos 21%, 22% e acabou tendo 23%. A pesquisa não vai ter uma precisão milimétrica porque há variáveis que fogem ao controle dos institutos, como número de indecisos que podem na reta final decidir homogeneamente por um candidato, o erro voluntário na urna eletrônica.

Folha - O caso do Genoino, em São Paulo, pode ser incluído nessas variáveis?
Márcia -
Na pesquisa da véspera a gente pegou o [José" Genoino um ponto na frente do Maluf. No caso dos candidatos aos governos de uma maneira geral, o que a gente percebe é que a eleição presidencial tomou a atenção do eleitorado num primeiro plano, e as decisões de voto para governo e Senado ficaram num segundo patamar. Na última semana a gente tinha um número grande de indecisos. O que a gente percebeu é que todos os candidatos do PT cresceram muito na reta final, em cima dos indecisos. O Lula acabou puxando o voto desses indecisos. Deu uma onda petista forte.

Folha - Já que a urna eletrônica é uma realidade definitiva, seria o caso de no futuro os institutos passarem a usar o equipamento para pesquisar a intenção de voto dos eleitores?
Márcia -
Por mais que a gente faça isso, se aproxime da situação real do eleitor, na pesquisa a gente vai estar captando a intenção de voto e não o voto real. O voto real ele pode mudar na boca da urna, na fila, e a gente não vai pegar nunca. Com relação aos erros na votação, essa foi a primeira eleição em que a gente votou eletronicamente para seis cargos. O eleitorado passa por um processo de aprendizado e essa questão será minimizada nas próximas eleições.

Folha - Em alguns Estados, o Ibope trabalhou com uma margem de erro bastante elástica nas pesquisas. Isso não prejudicou o resultado?
Márcia -
Essa margem de erro grande aconteceu em alguns lugares. A gente fez pesquisa em Roraima com 400 entrevistas, em outros lugares com 600. É uma questão levada ao cliente: você quer fazer isso, sua verba é essa? Vai ter a margem de erro grande. Mas mesmo com as margens de erro grande, as tendências foram detectadas, com exceção de três Estados. Na Paraíba a gente não conseguiu em nenhum momento detectar a realização do segundo turno; no Mato Grosso do Sul, não pegou a movimentação que levaria ao segundo turno; e, no Pará, não apontou que a disputa do Simão Jatene seria com a candidata Maria do Carmo, mas com o Ademir Andrade.


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