S�o Paulo, domingo, 14 de janeiro de 1996
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Para intelectuais, opini�o reflete cotidiano

DA REPORTAGEM LOCAL

A pesquisa Datafolha reflete, para a maioria dos intelectuais e profissionais ligados � atividade policial ouvidos pela Folha, uma experi�ncia concreta e cotidiana que a popula��o tem com a pol�cia.
O antrop�logo Roberto DaMatta diz que a pesquisa "retrata uma realidade emp�rica". Segundo ele, as pessoas em seu cotidiano constatam que a pol�cia � violenta, corrupta e mal preparada.
"Ou o Brasil acaba com essa pol�cia ou essa pol�cia acaba com qualquer projeto de cidadania no Brasil", afirma DaMatta. Ele acredita que a ind�stria de sequestro no Rio de Janeiro s� existe porque h� coniv�ncia policial.
"M�rio Covas e Marcello Alencar que se cuidem", afirma DaMatta, referindo-se aos governadores de S�o Paulo e do Rio.
Na opini�o de Paulo S�rgio Pinheiro, coordenador do NEV (N�cleo de Estudos da Viol�ncia) da USP, "as pessoas n�o percebem a pr�tica da pol�cia como um servi�o p�blico". Segundo Pinheiro, as pessoas v�em que a pol�cia � muito mais um servi�o para reprimir o cidad�o.
Guaracy Mindargi, soci�logo e pesquisador do NEV, afirma que cada pol�cia tem problemas particulares. "O policial civil ganha dinheiro com corrup��o, enquanto o militar ganha com a morte." Mindargi foi policial civil na d�cada de 80. "A tortura era mais comum naquela �poca do que agora."
O diretor do Departamento de Preven��o a Crimes Contra o Patrim�nio, delegado Expedito Marques Pereira, diz que a pol�cia � mais temida do que respeitada.
"O motivo � que ela sempre foi usada pelos governos como um instrumento de opress�o e de manuten��o do poder -nunca como instrumento de garantia da cidadania", afirmou.
O ombudsman da pol�cia de S�o Paulo, Benedito Domingos Mariano, acredita que a pesquisa mostra que a popula��o "entende a import�ncia de rejeitar a viol�ncia e o abuso como forma de trabalho policial".
O deputado estadual Afanazio Jazadji (PFL) afirma que "a pol�cia faz o servi�o sujo da sociedade". Por isso, haveria uma tend�ncia a associ�-la a fatos negativos.
Segundo o deputado, a pesquisa "capta epis�dios negativos que a m�dia amplifica". Para ele, na realidade, a imagem da pol�cia � mais positiva que a delineada no levantamento do Datafolha.
A presidente do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana, Maria Ign�s Bierrenbach, diz que a popula��o "retratou a pol�cia como ela �".
Em S�o Paulo e no Rio, segundo ela, as pessoas convivem com assassinato de crian�as e adolescentes, com abuso de autoridade e com excessos policiais.

A pesquisa foi feita no dia 19 de dezembro de 1995, quando foram entrevistadas 1.078 pessoas em S�o Paulo e 643 no Rio. A margem de erro total � de dois pontos. A dire��o do Datafolha � exercida pelos soci�logos Antonio Manuel Teixeira Mendes e Gustavo Venturi, tendo como assistentes Mauro Francisco Paulino e a estat�stica Renata Nunes Cesar. A an�lise dos dados coube a Alessandro Janoni.

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