S�o Paulo, ter�a-feira, 17 de janeiro de 1995
Texto Anterior | Pr�ximo Texto | �ndice

Uma proposta modesta

NELSON ASCHER

Na discuss�o sobre a propaganda do cigarro, tanto Cl�vis Rossi quanto Gilberto Dimenstein t�m raz�o. � ruim incentivar um v�cio prejudicial � sa�de, mas tamb�m � ruim coibir o direito � informa��o.
Dimenstein gostaria de ver cerceada a propaganda do cigarro, mas n�o acredito que isso resulte eficazmente na diminui��o de seu consumo. O consumo se reduz n�o tanto por menos propaganda de seus aspectos positivos �que existem, caso contr�rio ningu�m fumaria: o cigarro d� prazer aos fumantes� quanto por mais informa��o, sobretudo m�dica, acerca de seus malef�cios.
A Lei Seca aumentou o consumo de bebida nos EUA enquanto a informa��o s�ria e respons�vel reduziu o tabagismo. Cabe informar n�o menos, mas mais e melhor.
(O caso da Aids � exemplar: a maior arma de que se disp�e contra ela � a informa��o. As pr�prias f�bricas de camisinha deveriam estar fazendo uma propaganda agressiva acerca dos benef�cios profil�ticos de seu produto. Numa sociedade aberta, por�m, as vozes discordantes t�m o direito de serem ouvidas.
N�o � direito da Igreja impedir a propaganda alheia, mas ela pode promover �com seus pr�prios recursos� uma campanha anticamisinha, onde afirme claramente: "O Vaticano adverte: a camisinha � prejudicial � salva��o de sua alma". Entre os benef�cios da preven��o para a sa�de e os malef�cios espirituais do pecado, � ao consumidor que caber� escolher).
Ent�o, se como diz Rossi, propaganda � basicamente informa��o, ela deve assumir suas responsabilidades e, como os bons jornais, divulgar igualmente os dois lados da quest�o �o que j� � feito, mas em escala min�scula, desproporcional, na advert�ncia obrigat�ria do Minist�rio da Sa�de.
Minha proposta conciliat�ria � a seguinte: em vez de proibir a propaganda do cigarro, seus fabricantes deveriam investir o mesmo montante em campanhas antitabagistas orientadas pelos meios m�dicos especializados e realizadas pelas melhores ag�ncias publicit�rias.
Para cada centavo de propaganda, os fabricantes investiriam um centavo em an�ncios sobre os danos do cigarro � sa�de; para cada outdoor, outro outdoor; para cada an�ncio de TV, outro an�ncio de TV.
O �nus recairia sobre o consumidor que, al�m de financiar o problema, financiaria tamb�m sua poss�vel solu��o. Os fabricantes ficariam com raiva; os m�dicos felizes; e os publicit�rios teriam a oportunidade de provar que o que produzem � de fato informa��o.
Essa id�ia poderia ser estendida �s bebidas alco�licas e �s drogas que vierem eventualmente a ser legalizadas e, portanto, taxadas. No entretempo, os traficantes, al�m de presos, pagariam multas destinadas a contribuir diretamente para campanhas m�dico-publicit�rios �n�o policiais� sobre os malef�cios dos entorpecentes.
N�o vejo raz�o pela qual os pr�prios viciados n�o poderiam tamb�m ser multados com o mesmo objetivo, assumindo socialmente a plena responsabilidade de seu consumo.
A m�dio prazo, em condi��es de concorr�ncia justa, a informa��o melhor �correta e fundamentada� tem mais chances de triunfar. Creio que essa � a verdadeira solu��o democr�tica.

NELSON R. ASCHER, 36, escritor, � articulista da Folha. Foi fundador e editor da "Revista USP", de 1988 a 94. Publicou os livros "Can��o Antes da Ceifa" (ed. Arte Pau-Brasil, 1990) e "O Sonho da Raz�o" (ed. 34, 1993) entre outros.

Texto Anterior: "Responder � preciso"
Pr�ximo Texto: Direitos humanos; Parab�ns e p�sames; Metodologia; Interesses poderosos; Desmatamentos; USP fechada; Gente que faz; FHC de Angeli
�ndice


Clique aqui para deixar coment�rios e sugest�es para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manh� S/A. Todos os direitos reservados. � proibida a reprodu��o do conte�do desta p�gina em qualquer meio de comunica��o, eletr�nico ou impresso, sem autoriza��o escrita da Folhapress.