Ministros, políticos, empresários e lideranças da sociedade civil se reuniram nesta terça (23) para lançar o Pacto Contra a Fome. A meta da iniciativa é zerar o número de brasileiros passando fome no país até 2030, tendo como estratégia combater o desperdício de alimentos.
Atualmente, mais de 33 milhões de brasileiros não têm o que comer. Se considerados outros níveis de insegurança alimentar, o número chega a 125 milhões.
A economista Geyze Diniz, idealizadora da iniciativa, afirmou que o Pacto pretende melhorar iniciativas que já existem, apoiando políticas públicas de combate à pobreza, por meio de tecnologias sociais que integrem dados e pesquisas acadêmicas.
Ao convidar os empresários a participar do projeto, a esposa de Abílio Diniz lembrou do retorno do Brasil ao Mapa da Fome da ONU (Organização das Nações Unidas) e da responsabilidade social em combater o desperdício.
O Brasil desperdiça oito vezes o que seria suficiente para alimentar os 33 milhões de brasileiros em insegurança alimentar hoje
Marcaram presença no evento, realizado no Teatro Santander, representantes do governo Lula (PT), como os ministros Wellington Dias (Desenvolvimento e Assistência Social) e Simone Tebet (Planejamento e Orçamento); o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e o prefeito da capital paulista, Ricardo Nunes (MDB).
O governador afirmou que todos os esforços políticos no combate à fome têm sido em vão. "Se não unirmos esforços, não vamos conseguir avançar", disse Tarcísio.
"Hoje, a gente tem 107 restaurantes Bom Prato. Até o final do ano serão 132, com mais de 5 milhões de refeições entregues, mas ainda assim a gente não consegue combater a fome. A gente não consegue extirpar esse mal", afirmou.
Wellington Dias fez um discurso em tom pessoal, ao afirmar ser um exemplo de que é possível vencer a fome. "Se eu pude vencer, se a minha família pôde vencer, muitos outros também poderão."
Para o ministro, o país precisa garantir a qualificação de quem está na pobreza e na extrema pobreza e assegurar o aumento do salário mínimo acima da inflação para elevar a renda na base da pirâmide social.
"Em 2003, a fome tinha a ver com baixa escolaridade", disse. "É muito diferente agora. Tem 12 milhões com ensino médio e até superior que estão no CadÚnico e têm fome."
O ministro defendeu a aprovação do arcabouço fiscal e da reforma tributária para combater a pobreza e criticou duramente a atual taxa de juros imposta pelo Banco Central. "Não dá para cuidar dos pobres com a taxa de juros desse tamanho", afirmou, sob aplausos da plateia.
Tebet, em sua fala, seguiu seu colega e disse ser "fundamental" a aprovação da reforma para diminuir a carga tributária do setor produtivo, possibilitando a geração de emprego e queda da fome no Brasil.
Depois de 30 anos voltamos ao Mapa da Fome. Por que um país tão rico tem um povo tão miserável. Essa é a grande pergunta
A ministra ressaltou que falta ao Brasil planejamento ao fazer políticas públicas. "Colocamos, no Ministério do Desenvolvimento Social, R$ 170 bilhões para o Bolsa Família. Não é possível que, ainda assim, tenhamos pessoas na fila do cadastro único."
Tebet destacou também o perfil predominante entre os mais necessitados. "A cara mais pobre do Brasil é uma mulher negra", disse. "Só é cidadão quem mora, come e tem lazer no final de semana. Contem com o governo federal para que juntos possamos combater a maior vergonha do Brasil."
Premiação como incentivo
O movimento anunciou também o Prêmio Pacto Contra a Fome, em cooperação com a ONU e a FAO, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura.
O objetivo é dar visibilidade e reconhecer iniciativas que ajudem no combate à fome e ao desperdício de alimentos.
Serão seis prêmios no valor de R$ 100 mil, cada. Neste ano, as inscrições estão abertas somente para o terceiro setor e devem ser feitas até 10 de julho. Os vencedores serão anunciados em outubro deste ano.
O evento contou ainda com a participação de lideranças da sociedade civil que também são cofundadores do movimento, como Kiko Afonso, da Ação da Cidadania; David Hertz, da Gastromotiva; Luciana Quintão, do Banco de Alimentos; Preto Zezé e Celso Athayde, da Cufa; e Carola Matarazzo, do Movimento Bem Maior, entre outros.
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