No pós-Carnaval, o desejo de quem exagerou na bebida é colocar o mundo no mudo. Quando isso não é possível, entram as fórmulas que prometem a cura da ressaca e o fim do mal-estar pós-bebedeira --o arsenal acaba de ganhar novos elementos no Brasil, com chás prontos e pílulas.
A ressaca é o efeito tóxico da bebida e seus subprodutos no corpo. Não há como definir uma fórmula geral que indique o ponto sem volta da ressaca. Isso varia de acordo com a quantidade de bebida consumida, o espaço de tempo em que isso ocorreu e o organismo de cada pessoa.
Cientificamente falando, o limiar de tolerância ao álcool é definido pela enzima álcool desidrogenase (presente no fígado), que metaboliza a substância --mulheres, em geral, têm menos dela.
A única maneira à prova de falhas para não ter ressaca é não beber, claro. Mas calma: a ressaca ainda pode ser controlada. Basta consumir, de modo intercalado, álcool e água. E não adianta começar a beber água depois de já estar embriagado.
A água também pode receber uma mãozinha da comida. Raymundo Paraná, vice-presidente da Associação Latino-Americana para o Estudo do Fígado (Aleh), afirma que, com a alimentação, o esvaziamento gástrico é mais lento, aumentando o tempo para a metabolização do álcool no estômago.
Alimentos fonte de carboidratos, como pães e massas, são uma boa dica de alimentação adequada pré-bebidas, de acordo com Ana Hordonho, membro da Associação Brasileira de Nutrição (Asbran). Sucos e frutas também.
Fórmulas prontas
Mas, se você bebeu bastante água, comeu bem e, mesmo assim, sofre de ressaca, algumas ações podem ajudar.
Não tomar café para acordar e ficar mais disposto é uma delas. O café pode irritar ainda mais o estômago.
Para quem está com náuseas, um pouco de gengibre vem bem a calhar, diz Francisco Tostes, da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem).
Os especialistas ouvidos pela Folha, porém, são céticos quanto a pílulas ou bebidas antirressaca. "Tudo besteira", diz Arnaldo Lichtenstein, médico do HC da USP.
Um dos produtos recém-lançados que prometem combater a ressaca é o Detox Etil, classificado por Lichtenstein como um complexo vitamínico, sem efeito sobre o mal-estar pós-bebedeira. O consumo do composto, contudo, não representa riscos. A assessoria do Detox Etil afirma que o produto age repondo nutrientes degradados pelo álcool.
Produtos que hidratam ou que contenham antieméticos e analgésicos, como o Engov, podem aliviar o desconforto. Mas, segundo Paraná, o ácido acetilsalicílico presente no remédio pode piorar a gastrite.
As assessorias de Engov (maleato de mepiramina, hidróxido de alumínio. ácido acetilsalicílico e cafeína) e Epocler (citrato de colina, betaína e racemetionina) afirmam que os produtos não são destinados contra ressaca.
O primeiro seria indicado para "alívio dos sintomas de dores de cabeça e alergias", enquanto o último é para "tratamento de distúrbios metabólicos hepáticos".
Por fim, o melhor é beber com moderação --importa mais a quantidade do que a mistura-- e consumir água. E prepare-se: com o envelhecimento perdemos a enzima que metaboliza o álcool.
O que funciona
Beber muita água antes , durante e depois do consumo de álcool é essencial
É importante estar bem alimentado (carboidratos, como pães e massas são boas opções)
Frutas suculentas e sucos de fruta com açúcar podem ajudar a combater os sintomas
Bebidas como One More e Gatorade podem auxiliar na hidratação e em caso de vômito ou diarreia
O Engov tem antieméticos (contra vômito) e analgésicos, o que reduz sintomas da ressaca. A empresa não indica contra ressaca
O que não funciona
Tomar uma colher de azeite não altera a absorção do álcool e não tem efeito algum sobre a prevenção da ressaca
Muitas vezes usado para tentar sair da ressaca, o café pode irritar mais o estômago e intensificar dores de cabeça
Médicos afirmam que complexos vitamínicos não são prejudiciais mas também não têm muito efeito sobre a ressaca
Não há comprovação de benefícios do Epocler contra ressaca. A própria marca não o indica para esse fim
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