Em 15 de setembro de 2008, um dos principais bancos de investimento do mundo declarou falência, no que passou a ser o início de uma das maiores crises financeiras da história. A bolha estourou, gerando uma avalanche de falências, demissões, perdas, até documentários sobre o tema e manifestações em todo o mundo.
Mas a queda do Lehman Brothers não afetou apenas o setor financeiro e as pessoas ligadas a ele. Foi também um poderoso sinal de que a economia mundial vinha sendo impulsionada apenas por interesses financeiros de curto prazo, muitas vezes tão perversos que resultavam autodestrutivos.
Éramos muitos a quem esse momento ofereceu uma série de distinções. Não foi apenas a magnitude dos bônus obtidos pelos líderes dos bancos ou a perversidade dos objetivos estabelecidos nesses prêmios. O que ficou em evidência é uma definição errônea de sucesso, bem como a ética daqueles que se converteram em referências e modelos para o setor empresarial.
A queda do Lehman Brothers revelou um caldeirão de falta de ética e erros grosseiros, bem como um nível muito baixo de comprometimento com as pessoas e o planeta por líderes empresariais que se destacaram por anos ou décadas.
A partir daquele momento, foram muitos os que começaram a pensar em uma nova maneira de fazer negócios. Não era óbvio que chegaria o momento em que a sociedade recompensaria as empresas que soubessem como gerar rentabilidade criando valor para todos os stakeholders?
Nós só teríamos que usar nossa suposta inteligência para aprender a fazer essas duas coisas ao mesmo tempo. Então, não seria razoável que os clientes e consumidores, algum dia, valorizassem mais os produtos e serviços colocados no mercado com um maior cuidado em todas as dimensões?
Entendendo o que foi aprendido, parecia lógico que os acionistas devessem privilegiar investimentos com boas práticas ESG (ambiente, social e governança), o que obviamente reduz o risco de investimento.
É surpreendente (e ao mesmo tempo evidente) o número de iniciativas com impactos sociais e ambientais que foram geradas entre 2009 e 2010. A queda do Lehman Brothers e a consequente crise global de credibilidade e confiança fez com que muitas pessoas questionassem o uso do seu talento.
Junto com a eclosão da maior crise financeira global deste século, uma poderosa energia de criatividade e inovação foi liberada, sendo colocada a serviço de iniciativas destinadas a partir de valores e com o objetivo de alcançar um impacto adicional para maximizar a rentabilidade para os acionistas.
Quase dez anos depois, o Black Rock, maior banco de investimentos do mundo, publicou uma carta de seu diretor-executivo alertando as empresas de todo o mundo para o fato de que aqueles que não entendessem a relevância do impacto socioambiental e da boa governança não seriam apoiados.
Sinais como esse se multiplicam em todo o mundo, o que representa uma mudança radical nas regras do jogo. Não é mais suficiente causar menos danos. É preciso parar de causar danos. Chegou o momento em que as empresas que procuram fazer o bem devem prevalecer.
É por isso que o posicionamento das empresas B e a economia circular cresceram enormemente nos últimos meses. Trata-se da evolução natural de um sistema capitalista que precisa corrigir seus próprios erros sem ter que esperar que o Estado tome a iniciativa.
Não podemos continuar nos escondendo em legislações permissivas ou nos fracassos naturais do mercado. Quando as leis começam a nos cobrar, já é tarde demais. Vamos ser proativos, colocar a ética e os valores à frente e usar a criatividade empreendedora, bem conhecida, para inovar a favor do futuro e não apenas a serviço das ambições atuais.
Parece que levamos dez anos para encontrar o caminho. Agora começa a fase em que é preciso coragem para passar por isso com coerência e transparência.
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