Ricardo Araújo Pereira

Humorista, membro do coletivo português Gato Fedorento. É autor de “Boca do Inferno”.

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Descrição de chapéu
Twitter

Por que o futuro não é das máquinas, mas de quem as programa

Competição entre Threads e Twitter é rixa de bilionários que as pessoas veem com interesse, e eu fico perplexo

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Mark Zuckerberg criou uma nova rede social. Era mesmo do que o mundo precisava. Ficamos com uma rede de redes sociais, que operam nessa rede que é a internet.

A nossa vida parece um barco de pesca. A nova rede chama-se Threads, e pretende competir com o Twitter. Propõe-se a ser mais civilizada, mas não parece começar da melhor maneira: para dizer o seu nome é preciso pôr logo a língua de fora. E agora os jornais dedicam-se a medir, entusiasmadamente, o sucesso de ambas as redes. Qual será mais bem-sucedida? A Threads, de Zuckerberg, ou o Twitter, de Elon Musk?

No desenho de Luiza Pannunzio um homem branco vestindo camiseta e calça, descalço - está deitado em posição fetal, de cabeça para baixo. Próximo a sua cabeça há um smartphone com a imagem do Twitter, rede social de Elon Musk, ocupando a tela. Próximo aos seus pés desse personagem, um notebook está aberto com a nova rede social de Mark Zuckerberg, Threads, preenchendo a tela.
Ilustração de Luiza Pannunzio para coluna de Ricardo Araújo Pereira de 8 de julho de 2023 - Luiza Pannunzio

É um campeonato de bilionários que as pessoas acompanham com genuíno interesse. Eu continuo perplexo. São aplicativos de celular. Criados por programadores. No meu tempo, os informáticos eram alvo de um sensato desdém. De repente, passaram a ser heróis.

Sempre achei que o filme "Matrix" não era especialmente fantasioso no enredo. Aquele futuro em que os seres humanos eram subjugados pelas máquinas, mas conseguiam dominar o espaço cibernético a ponto de serem capazes de se desviar de balas e saltar por cima de prédios não me impressionou muito.

Onde se notava que "Matrix" era ficção científica era no fato de todos aqueles informáticos terem estilo. Neo, Trinity e Morpheus eram três especialistas em computadores e, no entanto, nenhum deles tinha espinhas ou usava óculos. Era um primeiro sinal de que as coisas estavam mudando.

"Matrix" não era um aviso de que o mundo do futuro ia ser dominado por máquinas, era um aviso de que o mundo do futuro ia ser dominado por informáticos. Uma previsão ainda mais inquietante, porque nenhum de nós, na escola, zombou de uma máquina. Mas que atire a primeira pedra quem nunca caçoou do colega que gostava de falar sobre Cobol.

Confirmou-se: hoje, tudo o que é entusiasmante e perigoso é feito por informáticos.

Se um jovem quer ser milionário, fará bem em estudar informática, como Bill Gates. Se quer que a sua vida dê um filme, fará bem em estudar informática, como Mark Zuckerberg. Se quer ser pirata, fará bem em estudar informática, como os hackers.

Na escola, ninguém falava com os colegas que gostavam de informática. Não eram convidados para as festas, não jogavam bola, não sabiam onde nos encontrar. Agora, inventaram dispositivos que nos convencem a dizer-lhes tudo, a toda a hora, e eles enriquecem vendendo nossos dados. É a suprema vingança. Parabéns.

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