O roteiro, trágico e repugnante, repete-se mais uma vez. O Hamas dispara centenas de foguetes contra Israel, para atingir a população civil e provocar resposta militar. Com as cenas de destruição em Gaza após retaliação israelense, o grupo palestino sai à coleta de dividendos políticos e de doações financeiras, sob o discurso de reconstruir a vida.
Os recursos, no entanto, basicamente engordam a máquina militar do Hamas, dono de arsenal com milhares de foguetes e de uma rede de túneis e bunkers subterrâneos usada, por exemplo para proteger sua liderança. A população continua à míngua.
No capítulo atual, o Hamas deixou clara mensagem: “calma por dinheiro”. Propõe interromper ataques em troca da retomada de ajuda financeira do Qatar, canalizada por território israelense.
O rico emirado árabe despejou recentemente cerca de US$ 15 milhões (R$ 59 milhões) por mês nos cofres do grupo palestino. O Hamas pressiona Israel a permitir a manutenção e até ampliação do balão de oxigênio catariano.
O calendário apontou ao Hamas momento adequado para tentar colocar Israel contra a parede. Os ditadores de Gaza avaliam que o governo israelense, com eventos importantes em maio, aceitaria a negociação, a fim de evitar mergulho num conflito armado.
Israel comemora, neste mês, o aniversário de sua independência e vai sediar a Eurovisão, festival internacional de música com visibilidade astronômica, nas transmissões por TV e internet.
Em termos de audiência, foi o Hamas quem perdeu espaço nos últimos anos. A eclosão da chamada Primavera Árabe, o advento do Estado Islâmico e as trágicas guerras da Síria e do Iêmen ocuparam no noticiário de Oriente Médio espaço antes quase monopolizado pela questão palestina.
Patrocinadores históricos do Hamas também se viram envoltos em outras prioridades e fecharam as torneiras. A Turquia, além de enfrentar crise econômica doméstica, passou a priorizar envolvimento na vizinha Síria, assim como o Irã, aliado histórico do fundamentalismo a governar Gaza.
Sobrou então o Qatar como relevante financiador. A pobreza e o desemprego, porém, se alastram no território, enquanto o grupo fundamentalista prioriza gastos militares e alardeia a importância de “eliminar o inimigo sionista”. Em março, protestos contra a penúria econômica e o desgoverno chacoalharam a faixa de Gaza. O Hamas respondeu, como de hábito, com violenta repressão.
Israel e Egito, donos de fronteiras com o território palestino, impõem severas restrições ao fluxo de bens e pessoas, também com evidentes consequências econômicas. Importante, no entanto, lembrar a origem dos bloqueios.
Em 2005, Israel se retirou unilateralmente da faixa de Gaza, conquistada do Egito na Guerra dos Seis Dias, em 1967. Após a retirada, em 2006, o Hamas derrotou, em eleições legislativas, o Fatah, grupo nacionalista liderado por Mahmoud Abbas e que aceita dialogar com o governo israelense.
Depois da votação, a disputa pelo poder entre os grupos palestinos se acirrou. Em 2007, o Hamas, em sangrento confronto, expulsou da faixa de Gaza o Fatah, que se entrincheirou na Cisjordânia. Os territórios palestinos se dividiram politicamente: Hamas em Gaza e Fatah na Cisjordânia.
Israel impôs restrições nas fronteiras quando o Hamas, que defende a destruição do país vizinho, consolidou seu poder na faixa de Gaza, após expulsar o Fatah. Já são 12 anos de domínio do Hamas sobre o território, em história lamentável de repressão e fracasso econômico e social.
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