O patamar de desigualdade da sociedade brasileira chegou ao absurdo de transformar os atos golpistas do 8 de janeiro, que resultaram na depredação das sedes dos Três Poderes, em Brasília, simultaneamente em atentado ao Estado de Direito e demonstração do quanto o país ainda está longe do ideal democrático.
O que se viu na capital federal há pouco mais de um mês foi a desigualdade materializada em tentativa de golpe e de atos de terror. E há de se reconhecer que uma sociedade extremamente desigual não é exatamente democrática.
Embora muito associado à renda, o conceito de desigualdade social não se restringe a ela. Fatores como escolarização e acesso à saúde, segurança e cultura são fundamentais. Além, é claro, da íntima relação com a questão racial.
Não é novidade que as instituições brasileiras não funcionam do mesmo modo para todo mundo. Nesse cenário, insuflados por figuras irresignadas e confiantes na impunidade, milhares de autointitulados "cidadãos do bem" produziram cenas deploráveis e sem precedentes.
Sentiram-se confortáveis para levar ao extremo o exercício do privilégio que desfrutam em decorrência do elitismo, da filiação (partidária ou sanguínea), do cargo ou da cor da pele, elementos que costumeiramente os levam a ser tratados como "mais iguais" do que a maioria.
Verdade que o desfecho até aqui está sendo inédito. Nunca se viu tantas pessoas brancas capturadas ao mesmo tempo no Brasil. Mas a situação não teria chegado a esse ponto se todos os agentes do Estado tivessem cumprido com suas funções.
Além disso, já se perguntaram qual seria o epílogo se a Praça dos Três Poderes tivesse sido tomada por indígenas, por pessoas sem-teto, sem-terra ou por quilombolas?
Assim, não dá para afrouxar. É imprescindível esgotar todas as instâncias de investigação para alcançar, de cabo a rabo, os envolvidos nos atentados. Qualquer atitude que possa nutrir a impunidade terá efeitos catastróficos.
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